O Estado de S. Paulo
Analistas revisaram para cima as projeções para o preço do petróleo no fim do ano
O preço do petróleo Brent subiu 6,5% na
semana passada, chegando a US$ 85,12 por barril, em reação ao corte inesperado
de 1,16 milhão de barris por dia (b/d) na produção da Organização dos Países
Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+). Mas a redução repentina na oferta é
apenas um dos elementos de uma tempestade perfeita que poderá fazer a cotação
superar US$ 100 por barril nos próximos meses.
Liderado pela Arábia Saudita, que irá reduzir sua produção em 500 mil b/d, o corte da oferta pelos países da Opep+ irá vigorar a partir de maio, justamente quando a demanda por gasolina, diesel e por outros derivados de petróleo aumenta com força em razão do verão no Hemisfério Norte. Nos EUA, o preço da gasolina é um tema politicamente explosivo para os americanos que saem de férias.
Outro impacto que ameaça o mercado de
petróleo: a reabertura total da economia chinesa, com o abandono da política de
covid zero, o que deverá impulsionar a demanda por combustíveis. Com a vida
voltando a todo vapor na China, inclusive com a retomada em níveis normais de
viagens domésticas e internacionais, analistas estimam que o aumento da demanda
chinesa por petróleo poderá ficar entre 1,2 milhão e 1,4 milhão de b/d,
equivalente a quase 40% da recuperação da demanda global por petróleo esperada
em 2023.
Diante da combinação da demanda de verão no
Hemisfério Norte, da retomada completa da economia chinesa e do corte repentino
na oferta da Opep+, muitos analistas revisaram para cima as projeções para o
preço do petróleo no fim deste ano. O banco Goldman Sachs subiu de US$ 90 para
US$ 95 a sua projeção para o preço do barril do tipo Brent no fim de 2023. Há
quem aposte que a cotação possa superar US$ 100 em algum momento.
A questão é até onde os líderes da Opep+
vão deixar o preço subir antes de haver um impacto de longo prazo mais
significativo na demanda. Isso porque, antes mesmo do corte na oferta do
cartel, os analistas acreditavam que a recente crise bancária e o aperto
monetário pelos principais bancos centrais do mundo levariam a economia global
a uma recessão e, por tabela, a uma queda da demanda por essa commodity.
Acontece que a geopolítica do petróleo
voltou a dominar as decisões, adicionando um maior grau de incerteza sobre o
cenário macroeconômico. Geralmente, as decisões da Opep+ levam semanas ou meses
para se chegar a um consenso. Mas o corte veio sem discussão prévia e num fim
de semana. Numa tacada só, os árabes puniram o presidente americano Joe Biden
e, de quebra, ajudaram o russo Vladimir Putin.
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