Folha de S. Paulo
Intimação de 80 nomes pode esclarecer 8 de
janeiro e contribuir para desmilitarização progressiva do poder civil
Cerca de 80 integrantes das Forças
Armadas terão
que explicar à Polícia Federal como uma horda golpista acampou em
frente ao quartel-general do Exército, desfilou sem ser incomodada e invadiu o
Palácio do Planalto no dia 8 de
janeiro. Não é pouca coisa. A tropa equivale à dimensão de uma companhia
militar de tamanho modesto. Entre os intimados, estão dois generais.
A criação de uma força-tarefa para ouvir os agentes contribui para dois processos. O primeiro é o acerto de contas da Justiça com os responsáveis pela investida golpista, incluindo facilitadores dos ataques. O segundo é o que deveria ser uma progressiva desmilitarização do poder civil depois dos últimos quatro anos.
Tomar 80 depoimentos não encerra esses
ciclos, mas a investigação manda sinais de que qualquer busca por apaziguamento
entre as instituições civis e os militares não deve ser confundida com uma
anistia.
Devem falar com a PF agentes lotados no
Palácio e os antigos chefes do Comando Militar do Planalto e do Batalhão da
Guarda Presidencial. Alguns serão ouvidos como testemunhas e outros devem ser
investigados por omissão —todos dentro de um inquérito na Justiça comum, não
em tribunais militares.
Essa etapa da investigação ajudaria a retirar
das Forças Armadas um status de que ela desfrutou no governo de Jair Bolsonaro.
Os militares devem depor sem o revestimento de poder político que a instituição
recebeu naquele período e responder pelas falhas em uma missão que deveria ser
trivial: a segurança do Palácio do Planalto.
Já seria um avanço em relação ao ciclo
passado. Em 2020, o então ministro Augusto Heleno reagiu com uma ameaça pública
("consequências imprevisíveis
para a estabilidade nacional") ao pedido de um partido político para
apreender o celular de Bolsonaro. No ano seguinte, o ministro da Defesa se
queixou de um "ataque
leviano às instituições" quando a CPI da Covid puxou o fio dos
militares envolvidos em suspeitas na negociação de vacinas.
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