sexta-feira, 30 de junho de 2023

Opinião do dia – Antonio Gramsci* (Intelectuais e não intelectuais)

“Quando se distingue entre intelectuais e não-intelectuais, faz-se referência, na realidade, somente à imediata função social da categoria profissional dos intelectuais, isto é, leva-se em conta a direção sobre a qual incide o peso maior da atividade profissional específica, se na elaboração intelectual ou se no esforço muscular-nervoso. Isto significa que, se se pode falar de intelectuais, é impossível falar de não-intelectuais, porque não existem não-intelectuais. Mas a própria relação entre o esforço de elaboração intelectual-cerebral e o esforço muscular-nervoso não é sempre igual; por isso, existem graus diversos de atividade especificamente intelectual. Não há atividade humana da qual se possa excluir toda intervenção intelectual, não se pode separar o homo faber do homo sapiens. Em suma, todo homem, fora de sua profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um “filósofo”, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isto é, para suscitar novas maneiras de pensar.”

*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.2. p.52-3. Civilização Brasileira, 2006.

César Felício - Bolsonaro começa a colher o que plantou

Valor Econômico

Ao transformar o Poder Judiciário em seu grande inimigo, Bolsonaro partiu para o tudo ou nada

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entra em sua reta final, com os votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia, Kassio Nunes Marques e Alexandre de Moraes. A dúvida está no penúltimo voto, o de Nunes Marques, em relação ao qual se projetam dois cenários: pedido de vista ou rejeição da inelegibilidade do político do PL. Nenhuma das duas opções muda o desfecho quase certo: o líder da extrema-direita deve ficar fora das eleições de 2026 e não se pode descartar que tenha problemas para concorrer em 2030.

A lei das inelegibilidades tem brecha. Diz o texto legal: “São inelegíveis os que tenham contra sua pessoa representação julgada procedente pela Justiça Eleitoral, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão colegiado, em processo de apuração de abuso do poder econômico ou político, para a eleição na qual concorrem ou tenham sido diplomados, bem como para as que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes”.

Eliane Cantanhêde - O vilão do filme

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro será condenado pela ‘fotografia na parede’ e pelo ‘filme’ em que ele é o grande vilão

O ex-presidente Jair Bolsonaro, como bem definiu o relator, ministro Benedito Gonçalves, não está sendo julgado pelo TSE por uma “fotografia na parede” (a reunião com os embaixadores) e sim por um “filme”, a tentativa de golpe de Estado que desembocou no quebra-quebra do Planalto, do Congresso e do Supremo em 8 de janeiro. Esse filme não acaba hoje, mas terá um capítulo histórico: a condenação de Bolsonaro a oito anos de inelegibilidade.

Já são 3 votos a favor e 1 contra a condenação e faltam os dos ministros do Supremo Cármen Lúcia, Alexandre de Moraes e Nunes Marques. Como o bolsonarista Nunes Marques é a única incógnita, o destino do ex-presidente está selado: ou por 6 a 1 ou por 5 a 2, ele vai perder e ficar fora das eleições presidenciais de 2026 e municipais de 2024 e 2028.

Bernardo Mello Franco – Piruetas no TSE

O Globo

No afã de absolver ex-presidente, Raul Araújo chamou ataques à democracia de "excessos verbais"

Ao votar contra a inelegibilidade de Jair Bolsonaro, o ministro Raul Araújo lançou um argumento curioso. Disse que o capitão mentiu sobre o sistema eleitoral, mas alegou que isso não seria grave o suficiente para justificar uma punição.

Araújo caprichou nos eufemismos ao descrever a conduta do ex-presidente. Classificou suas acusações falsas como meros “excessos verbais”. Segundo o ministro, “nem todo o discurso veiculou afirmações inverídicas”. Isso equivale a dizer que uma autoridade pode mentir à vontade, desde que tempere as lorotas com pitadas de verdade.

Em outra pirueta retórica, Araújo afirmou não ver “relação de pertinência” entre o ataque de Bolsonaro às urnas e a minuta de golpe apreendida com seu ex-ministro da Justiça. Faltou explicar por que ele concordou, em fevereiro, com a inclusão do documento no processo. O TSE aprovou a medida por unanimidade.

Reinaldo Azevedo - Bolsonaro já era; Fux, o novo Heitor

Folha de S. Paulo

Raul Araújo funda nova escola do direito penal: a do crime ineficaz

Enquanto escrevo, o ex-candidato a ditador Jair Bolsonaro —pertenço ao ar livre do Estado democrático e de Direito (faço questão do conectivo)— caminha para a inelegibilidade, em julgamento em curso no TSE, por 3 votos a 1. É razoável supor um placar de cinco a dois contra o biltre (sem vênias aqui). Basta um "4 a 3" para que se cumpra a determinação constitucional, expressa no artigo 85, segundo a qual o mandatário comete um crime quando atenta contra o livre exercício dos Poderes da República. "Fiat lux, fiat lex". Faça-se a luz por meio do cumprimento da lei.

"Ah, rábula Azevedo! Tal dispositivo diz respeito a crimes de responsabilidade". Este amador —que, afinal, é aquele que ama— das leis e da Constituição sabe disso ao menos. Ocorre que aprendeu com os profissionais, os bons, que o ordenamento jurídico não é um salame que se come em fatias. A interpretação sistemática da norma nos diz que "o todo sem a parte não é todo, a parte sem o todo não é parte", como escreveu um poeta baiano.

Ruy Castro - O bandido perderá no fim

Folha de S. Paulo

Mas, se os Poderes tivessem feito seu papel, Bolsonaro custaria muito menos dinheiro ao Brasil

julgamento da inelegibilidade de Bolsonaro é só a primeira das séries a que vamos assistir, não pela Netflix, mas pela TV Justiça. Em todas, o bandido perde no fim e, em algumas, puxará cadeia, com direito, por deferência do carcereiro, a ração diária de pão com leite condensado. O que isso nos custará aos cofres é irrelevante e não se compara ao que poderia ter sido poupado se os Poderes tivessem cumprido seu papel quando solicitados. Exemplos?

Durante seu império de quatro anos, Bolsonaro foi alvo de 158 pedidos de impeachment —o referente à reunião com os embaixadores foi apenas o 145°—, 66 dos quais sob Rodrigo Maia na presidência da Câmara e 92 sob Arthur Lira. Todos foram arquivados, desconsiderados ou postos em "análise", a qual nunca foi feita e agora é desnecessária. Já o relatório da CPI da Covid, que custou seis meses de audiências e acusou Bolsonaro de crimes contra a administração pública, a paz pública e a saúde pública foi dirigido ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem competia avaliar as acusações. Mas Aras o mandou para uma gaveta na PGR reservada ao parto de ratos.

Hélio Schwartsman - Aliados e rivais naturais

Folha de S. Paulo

Mesmo sabendo ser irrealista, defendo mudança para as listas proporcionais fechadas

Há poucos sistemas de votação que dão mais poder ao eleitor do que o voto proporcional em lista aberta adotado no Brasil. É um arranjo que também facilita a eleição de deputados temáticos, como o representante da causa ambiental, gay ou de alguma denominação religiosa, que é algo de que países com outros sistemas se ressentem. O voto distrital, por exemplo, tende a produzir legisladores mais parecidos uns com os outros e mais próximos do perfil do eleitor mediano.

Bruno Boghossian - As réguas de Maduro e Ortega

Folha de S. Paulo

Reconhecer 'problema na Nicarágua' é a prova de que o presidente sabe o que é uma autocracia

Ninguém tinha perguntado nada sobre Daniel Ortega, mas Lula avisou que teria uma conversa com o ditador. "Nós temos um problema na Nicarágua", sentenciou, assim mesmo, na primeira pessoa do plural.

Lula aproveitou Ortega como válvula de escape. O presidente dava uma entrevista à Rádio Gaúcha e exagerava na generosidade para defender Nicolás Maduro. Negou que a Venezuela fosse um regime autoritário, com a desculpa de que há eleições no país, e emendou que "o conceito de democracia é relativo".

Reconhecer que há um "problema na Nicarágua" é a prova de que Lula sabe a diferença entre autocracia e democracia. Ortega disputa eleições, mas reduziu as amarras do poder presidencial e criou um sistema de perseguição a adversários políticos.

Vera Magalhães - Democracia não é relativa

O Globo

Eleito para assegurar a vigência da democracia no Brasil, Lula erra ao enaltecer Maduro e fazer vista grossa ao que acontece na Venezuela

É lamentável que, no curso de um julgamento histórico, que deverá tornar Jair Bolsonaro inelegível pelos graves ataques perpetrados por ele contra o Estado democrático de direito no Brasil, Lula, eleito com a promessa de defendê-lo, diga em alto e bom som que a democracia é algo relativo. Não é, presidente. Nem aqui nem na Venezuela.

Não é democrático um regime que muda as regras do jogo no Judiciário e no Legislativo para se manter. Não é democrático um regime que mantém presos políticos e persegue opositores. Não é democrático um regime que aparelha as Forças Armadas e cria aparatos paramilitares para se impor. Não é democrático um regime que sufoca a imprensa e persegue jornalistas.

Hugo Chávez e Nicolas Maduro cometeram todos esses ataques à democracia ao longo dos muitos anos em que o chavismo comanda a Venezuela.

Luiz Carlos Azedo - “Adeus, Lênin”, a sátira se aplica a Cuba, Nicarágua e Venezuela

Correio Braziliense

É preciso aguardar as conclusões do Foro de São Paulo para saber se o encontro será um “aggiornamento” ou um “déjà vu” político.

Em 1989, pouco antes da queda do muro de Berlim, a sra. Kerner (Katrin Sab) entra em coma e, assim, permanece durante o processo de unificação da Alemanha. Vivia no regime comunista da antiga República Democrática Alemã (RDA), o lado oriental, e acorda na ordem democrática e capitalista da antiga Alemanha Ocidental.

Berlim Oriental é outra cidade, muito diferente, o que preocupa seu filho, Alexander (Daniel Brühl), que temia o impacto das mudanças na saúde da veterana militante do Partido Socialista Unificado Alemão (PSUA), comunista. Isso faz com que procure esconder de sua mãe as mudanças em curso. Porém, quando ela sai do coma, as coisas se complicam.

Flávia Oliveira - Censo traz urgência

O Globo

Novo desenho da sociedade brasileira demandará novas políticas

Havemos censo. E todas as delícias e dores que dele advêm. A mais atropelada operação censitária já efetuada no país deu em 203 milhões de brasileiras e brasileiros, abaixo do esperado por especialistas, mas em linha com tendências demográficas já diagnosticadas. No caminho do Censo 2022, não uma, mas várias pedras: de Paulo Guedes a pandemia, de corte orçamentário a eleição presidencial, de Copa do Mundo a festas de fim de ano, de férias de verão a carnaval e Páscoa. O esforço de apuração terminou em maio, e anteontem o IBGE apresentou os primeiros resultados.

Não é de hoje que a natalidade vem diminuindo e a longevidade aumentando no Brasil. Demógrafos antecipavam aos quatro ventos que, a partir dos anos 2040, o número de habitantes do país cairia em termos absolutos. Pena que as autoridades nem sequer começaram a se preparar — o que tampouco surpreende. Atravessado pela mais grave crise sanitária em um século, pela diminuição perceptível no tamanho das famílias e pela conjuntura econômica adversa, o Censo 2022 sugere que o encolhimento da população pode se adiantar em uma década.

Almir Pazzianotto Pinto* - Terceirização: fenômeno da moderna economia

O Estado de S. Paulo

Ao se colocar contra a terceirização, o senador Paulo Paim, representando o Partido dos Trabalhadores, assume a vanguarda do atraso

Não há lei perfeita e acabada. Boas ou más, todas se submetem ao desgaste do tempo. É o caso da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ultrapassada pela ação invencível de tecnologias modernas.

Algumas omissões eram inevitáveis. Na época da elaboração da CLT (início dos anos 40), a produção compartilhada, ou terceirização, era ignorada pela economia. Verticalizadas e concentradoras, as indústrias supriam suas necessidades com utilização de mão de obra interna, tanto em atividades urbanas como nos serviços rurais.

O fenômeno da produção compartilhada cresce na economia por volta dos anos 70. Escrito por Peter Drucker, o livro Administração em Tempos Turbulentos dedica capítulo ao tema Produção Partilhada: Integração Internacional. Thomas Friedman analisa a terceirização no livro O Mundo é Plano – Uma Breve História do Século XXI.

Terceirizar é expressão nova na Língua Portuguesa. Não a registram as duas primeiras edições do Dicionário Aurélio e o Vocabulário Jurídico de De Plácido e Silva. Aparece no Michaelis, edição de 1998, com o significado de “delegar, a trabalhadores não pertencentes ao quadro de funcionários de uma empresa, funções exercidas anteriormente por empregados dessa mesma empresa”. Está na primeira edição do Dicionário Houaiss, de 2001.

Vinicius Torres Freire - Lula 3 define suas metas econômicas

Folha de S. Paulo

Governo tem metas fiscais e de inflação; balanço do primeiro semestre é positivo

A meta de inflação que o Banco Central deve acertar ficou em 3% para 2024, 2025, 2026 e a perder de vista, pois houve a tão falada mudança do sistema, de cumprimento de metas no dito ano calendário para um horizonte flexível.

A manutenção da meta foi uma decisão razoável de Lula 3. A alteração da data de cumprimento da meta não vai fazer lá diferença, se alguma. A ironia é que, com essa mudança, o Banco Central passa a ter mais autonomia, atributo detestado por grande parte do petismo.

Ter deixado a meta em 3% deve redundar em alguma redução de expectativas de inflação e de taxas de juros de prazo mais longo, afora no caso de outras mudanças importantes no cenário econômico doméstico e internacional.

José Eli da Veiga - A soberba do pensamento econômico

Valor Econômico

A “economia positiva” deixou de lado muitos dos difíceis aspectos morais, que afetam o comportamento humano

Engenharia e ética são as duas dimensões essenciais do pensamento econômico. Têm sido inócuas as tentativas de isolar apenas a mais instrumental, com a ingênua pretensão de purificá-lo. Têm sido até mais precárias que as inventadas nos 150 anos que separaram a obra clássica de Adam Smith (1776) da de Lionel Robbins (1932).

Claro, são duas tradições bem mais antigas. A que inclui a ética remonta a Aristóteles, para quem a finalidade do Estado deveria ser a promoção comum de uma boa qualidade de vida. E lhe foi contemporânea a exclusivamente logística proposta por Kautilya, conselheiro e ministro do avô do célebre Ashoka.

Desde meados do século passado, só diminuiu o peso relativo do componente ético. A metodologia da chamada “economia positiva” não apenas se esquivou de posturas normativas como também acabou por deixar de lado muitos dos difíceis aspectos morais, que afetam o comportamento humano.

Ao examinar as proporções das duas ênfases em publicações acadêmicas sobre economia, salta aos olhos a aversão à dimensão ética e o descaso pela influência de considerações deontológicas no tocante a condutas individuais e sociais. Um crescente e empobrecedor distanciamento.

Claudia Safatle - O desmonte do Banco Central

Valor Econômico

Há dez anos sem contratações, com equipe reduzida a quase metade da original, instituição ainda enfrenta pressão contra política monetária

“O Banco Central está sob ataque. Quando você começa a bater no presidente do Banco Central chamando-o de ‘aquele cidadão que lá está’, você está fazendo põe um ataque à instituição. Este governo está desmontando uma instituição. Quero deixar isso bem claro”, disse o ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore, durante seminário sobre Política Monetária, no FGV Ibre, dia 23.

“Os economistas têm que ter a coragem de dar um grito em defesa de uma instituição que vem fazendo, exemplarmente, o seu trabalho. E têm que, no fundo, denunciar um governo que vem atacando essa instituição. Isso não é uma conduta que um estadista deveria ter”, prosseguiu Pastore. Ele concluiu: “Sr. presidente da República e senhores ministros, é obrigação de vocês preservarem a instituição chamada Banco Central do Brasil”.

Fabio Giambiagi - O pecado original: 8% reais!

O Globo

Como na prática a regra do gasto como função da receita não valerá para 2024, o governo já anunciou: ano que vem tem mais

Nos anos de 1993 e 1994, fui funcionário do BID, tendo trabalhado com a Colômbia. Havia ali um antigo ministro da Fazenda espirituoso que costumava dizer que “austeridade fiscal é como sexo: em geral, quem fala muito, pratica pouco”. A frase me vem à memória todas as vezes em que escuto um governo fazer juras de amor ao compromisso com a suposta austeridade fiscal.

Trinta e sete anos de dedicação ao tema me ensinaram a saber distinguir atos de palavras. E, no caso do Brasil atual, em particular, pode-se afirmar com certa tranquilidade que ambos estão divorciados, pelo menos por enquanto, ainda que se tente manter as aparências em público, para fins formais.

Celso Ming - Meta de inflação mantida em 3%

O Estado de S. Paulo

Depois de tanta paulada desferida pelo presidente Lula sobre a meta de inflação vigente, a decisão do governo, tomada nesta quinta-feira, 29, pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), foi de não mexer nas metas de inflação de 2023, 2024 e 2025 e manter para 2026 a meta já definida para os dois anos anteriores, de 3%.

A única mudança foi a de acabar com a exigência de cumprimento da meta ao fim de cada 31 de dezembro (ano-calendário) e, a partir de 2025, adotar a meta contínua, a ser perseguida ao longo do tempo (no acumulado de 12 meses), como acontece na maioria dos países que adotam o regime de metas.

Até 2024 será mantida a área de escape, de 1,5%, tanto para cima como para baixo do centro da meta, com o sistema de ano-calendário (de janeiro a dezembro). Mas, a partir de 2025, com a adoção do critério de meta contínua, não fará mais sentido manter esse intervalo de tolerância. Se acontecer um choque de oferta, como o que houve ao longo da pandemia e da guerra na Ucrânia, o Banco Central (BC) tratará de trazer de volta a inflação para a normalidade, dentro do horizonte de atuação, sem ter de apresentar tiro na mosca do alvo a cada dia 31 de dezembro.

Luiz Gonzaga Belluzzo* - Nova ordem internacional?

A almejada correção dos chamados desequilíbrios globais vai exigir regras de ajustamento não compatíveis com o sistema monetário em sua forma atual

Angustiado com a sucessão de crises financeiras, o presidente da França, Emmanuel Macron, promove em Paris uma reunião para tratar da reforma do sistema financeiro global. Lula estará presente e terá papel importante na apresentação de sugestões.

Como é de conhecimento geral, a conferência convocada para a pequena cidade norte-americana de Bretton Woods cuidou de debater em 1944 a construção de uma arquitetura financeira internacional capaz de impedir as desgraças que assolaram o mundo nos anos 30. As estrelas do conclave foram Dexter White, dos Estados Unidos, e o economista inglês John Maynard Keynes.

Essencialmente, a reforma monetária que Keynes apresentou nos estertores da Segunda Guerra foi a seguinte: o dinheiro internacional seria simplesmente uma moeda de conta, ou seja, os países trocariam mercadoria por mercadoria e o dinheiro seria simplesmente moeda de cálculo. Os países com déficit registrariam na Clearing Union, em sua conta, o que deviam aos demais. E, assim, ia-se fazendo uma compensação entre os déficits e superávits. Os países sistematicamente superavitários seriam estimulados a aumentar suas importações e obrigados, com taxas de juros módicas, a financiar os déficits dos demais. Os países sistematicamente deficitários estariam sujeitos a processos de ajustamento comandados pela Clearing Union. Os particulares pagariam e receberiam suas contas em moeda nacional. Apenas os Bancos Centrais estariam habilitados a realizar operações com a moeda universal.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

CMN mantém meta e amplia prazo para o BC atingi-la

Valor Econômico

Não está descartado um ambiente mais favorável que o previsto que permita reduções mais rápidas da taxa de juros

O Conselho Monetário Nacional fez a coisa certa e decidiu ontem estabelecer para 2026, pelo terceiro ano consecutivo, a meta de inflação em 3%, com intervalo de 1,5 ponto percentual em ambas direções. Resolveu também ratificar as metas de 2024 e 2025 e inaugurar em 2025 a perseguição contínua da meta de 12 meses, que não mais se restringirá ao ano calendário, como tem sido desde a criação do sistema, em 1999. Para a decisão contaram um trabalho paciente do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em dissuadir o presidente Lula de ampliar a meta - ele chegou a mencionar 4,5% -, a reação fortemente negativa dos investidores diante da perspectiva dessa mudança e os resultados obtidos pelo Banco Central com o aperto monetário que, com o recuo da inflação, está prestes a iniciar um ciclo de corte de juros.

Poesia | Embriagai-vos (Charles Baudelaire)

 

Música | Nelson Sargento & Teresa Cristina - Samba agoniza mas não morre

 

quinta-feira, 29 de junho de 2023

Opinião do dia – Antonio Gramsci* (Análise das situações: relações de força.)

“É o problema das relações entre estrutura e superestrutura que deve ser posto com exatidão e resolvido para que se possa chegar a uma justa análise das forças que atuam na história de um determinado período e determinar a relação entre elas. É necessário mover-se no âmbito de dois princípios: 1) o de que nenhuma sociedade se põe tarefas para cuja solução ainda não existam as condições necessárias e suficientes, ou que pelo menos não estejam em via de aparecer e se desenvolver; 2) e o de que nenhuma sociedade se dissolve e pode ser substituída antes que se tenham desenvolvido todas as formas de vida implícitas em suas relações (verificar a exata enunciação destes princípios). [“Nenhuma formação social desaparece antes que se desenvolvam todas as forças produtivas que ela contém, e jamais aparecem relações de produção novas e mais altas antes de amadurecerem no seio da própria sociedade antiga as condições materiais para sua existência. Por isso, a humanidade se propõe sempre apenas os objetivos que pode alcançar, pois, bem vistas as coisas, vemos sempre que estes objetivos só brotam quando já existem ou, pelo menos, estão em gestação as condições materiais para sua realização” (Prefácio à Crítica da economia política). Da reflexão sobre estes dois cânones pode-se chegar ao desenvolvimento de toda uma série de outros princípios de metodologia histórica. Todavia, no estudo de uma estrutura, devem-se distinguir os movimentos orgânicos (relativamente permanentes) dos movimentos que podem ser chamados de conjuntura (e que se apresentam como ocasionais, imediatos, quase acidentais). Também os fenômenos de conjuntura dependem, certamente, de movimentos orgânicos, mas seu significado não tem um amplo alcance histórico: eles dão lugar a uma crítica política miúda, do dia a dia, que envolve os pequenos grupos dirigentes e as personalidades imediatamente responsáveis pelo poder. Os fenômenos orgânicos dão lugar à crítica histórico-social, que envolve os grandes agrupamentos, para além das pessoas imediatamente responsáveis e do pessoal dirigente. Quando se estuda um período histórico, revela-se a grande importância dessa distinção. Tem lugar uma crise que, às vezes, prolonga-se por dezenas de anos. Esta duração excepcional significa que se revelaram (chegaram à maturidade) contradições insanáveis na estrutura e que as forças políticas que atuam positivamente para conservar e defender a própria estrutura esforçam-se para saná-las dentro de certos limites e superá-las. Estes esforços incessantes e perseverantes (já que nenhuma forma social jamais confessará que foi superada) formam o terreno do “ocasional”, no qual se organizam as forças antagonistas que tendem a demonstrar (demonstração que, em última análise, só tem êxito e é “verdadeira” se se torna nova realidade, se as forças antagonistas triunfam, mas que imediatamente se explicita numa série de polêmicas ideológicas, religiosas, filosóficas, políticas, jurídicas, etc., cujo caráter concreto pode ser avaliado pela medida em que se tornam convincentes e deslocam o alinhamento preexistente das forças sociais) que já existem as condições necessárias e suficientes para que determinadas tarefas possam e, portanto, devam ser resolvidas historicamente (devam, já que a não realização do dever histórico aumenta a desordem necessária e prepara catástrofes mais graves). O erro em que se incorre frequentemente nas análises histórico[1]políticas consiste em não saber encontrar a justa relação entre o que é orgânico e o que é ocasional: chega-se assim ou a expor como imediatamente atuantes causas que, ao contrário, atuam mediatamente, ou a afirmar que as causas imediatas são as únicas causas eficientes. Num caso, tem-se excesso de “economicismo” ou de doutrinarismo pedante; no outro, excesso de “ideologismo”. Num caso, superestimam-se as causas mecânicas; no outro, exalta-se o elemento voluntarista e individual. (A distinção entre “movimentos” e fatos orgânicos e movimentos e fatos de “conjuntura” ou ocasionais deve ser aplicada a todos os tipos de situação, não só àquelas em que se verifica um processo regressivo ou de crise aguda, mas àquelas em que se verifica um processo progressista ou de prosperidade e àquelas em que se verifica uma estagnação das forças produtivas.) O nexo dialético entre as duas ordens de movimento e, portanto, de pesquisa dificilmente é estabelecido de modo correto; e, se o erro é grave na historiografia, mais grave ainda se torna na arte política, quando se trata não de reconstruir a história passada, mas de construir a história presente e futura: os próprios desejos e as próprias paixões baixas e imediatas constituem a causa do erro, na medida em que substituem a análise objetiva e imparcial e que isto se verifica não como “meio” consciente para estimular à ação, mas como autoengano. O feitiço, também neste caso, se volta contra o feiticeiro, ou seja, o demagogo é a primeira vítima de sua demagogia.”

*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do Cárcere, v.3. p.36-8. Civilização Brasileira, 2007.

Elimar Pinheiro do Nascimento* - Fios do Tempo. Alain Touraine e o protagonismo feminino: uma homenagem

A configuração da nova sociedade ainda é imprecisa, mas para Touraine as mulheres são as atrizes principais das mudanças

Alain Touraine é um dos mais renomados sociólogos do mundo. Nos inícios de sua vida acadêmica lecionou na USP e estudou a América Latina, sobre a qual publicou alguns livros, com destaque para Palavra e Sangue (1988/1989).[1] Esteve sobretudo no Brasil e no Chile. É um dos criadores da expressão sociedade pós-industrial, presente em seu livro Société Postindustrielle (1969/1969). Trabalhou inicialmente nos campos da sociologia do trabalho e dos movimentos sociais.  Em 1989, na sequência de suas reflexões sobre a contemporaneidade, iniciou um ciclo de publicações sobre as transformações da sociedade moderna-contemporânea, por meio de vários livros, entre os quais O que é a democracia (1994/1996); Crítica da modernidade (1989/1997);    

Poderemos viver juntos? Iguais e diferentes (1997/1999); Um novo paradigma. Para compreender o mundo de hoje (2005/2011); O mundo das mulheres (2006/2008).

A tese central de Touraine sobre as transformações da sociedade moderna-contemporânea encontra-se no livro Um Novo Paradigma. Segundo essa tese, no meu ponto de vista uma hipótese, a sociedade moderna-contemporânea teria conhecido três tipos de sociedade, cujos princípios organizadores (ou lógicas) são distintos entre si.

J. B. Pontes* - A intentona golpista e os kids preto

É profundamente lamentável e, até mesmo inacreditável, que após quase quarenta anos do fim da ditadura militar, quando a sociedade brasileira, cansada de tantos arbítrios, truculências e corrupção, manifestou-se de forma veemente exigindo a redemocratização do País, as Forças Armadas voltem a se envolver na tentativa de um golpe contra o Estado Democrático de Direito.

Recentes reportagens investigativas publicadas pela Revista Piauí, aliadas aos dados que estão vindo ao conhecimento público pelos inquéritos que estão em curso na Polícia Federal, escancaram a participação de uma enorme parcela de militares, especialmente do Exército, na intentona golpista que culminou no fatídico 8 de janeiro. Sem dúvida, esse lastimável “evento disparador”, tão almejado e incentivado, jamais teria ocorrido sem a omissão, complacência e apoio dos militares. E todos sabiam que o objetivo desses criminosos era causar uma comoção social e pressionar as Forças Armadas a promover a intervenção militar, agindo contra a ordem constitucional e a democracia.

A reportagem da Revista Piauí afirma que a análise dos vídeos dos atos golpistas de 8 de janeiro demonstra ações próprias de pessoas que tiveram treinamento militar. As imagens demonstram ações coordenadas, com emprego de tática militar, de planejamento e de artefatos bélicos de uso exclusivo das FFAA. Quando chegaram à Praça dos Três Poderes, por exemplo, os golpistas dividiram-se em três grupos: um deles dirigiu-se para o Congresso, outro ao STF e um terceiro para o Palácio do Planalto, o que evidencia planejamento, uma vez que a tendência natural de uma multidão é caminhar unida, numa única direção.

Merval Pereira - Palavras vãs

O Globo

Militares que aderiram à ideia de golpe tentam apagar as digitais e desfazer a cena do crime

É impressionante a irresponsabilidade com que militares da ativa, de alta patente, aderiram à ideia do golpe para impedir o presidente eleito, Lula, de tomar posse. Mais impressionante ainda é a tentativa de desfazer a cena do crime, ressignificando o sentido das próprias palavras, escritas com todas as letras em mensagens de WhatsApp.

O ex-presidente Bolsonaro, aliás, é a fonte dessa atitude cínica utilizada por seus seguidores, pois nega até mesmo vídeos, como se tivessem sido produzidos pela tecnologia deep fake. Uma das mensagens entre o coronel Jean Lawand Júnior, que trabalhava no setor de projetos estratégicos do Estado-Maior do Exército, e o tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens do então presidente Bolsonaro, revela o estado de espírito deste em relação às Forças Armadas.

O que, por si só, é demonstração de que em nenhum momento o Alto-Comando aderiu ao golpe que era tramado. O coronel Lawand apela por uma decisão de Bolsonaro por um golpe, e Cid afirma que o presidente não dará a ordem “porque não confia no Alto-Comando do Exército”. Ao que o coronel Lawand responde:

Míriam Leitão - Haddad entre o mercado e a política

O Globo

Ministro completa seis meses no cargo com vitórias no Congresso, mais confiança da Faria Lima e muitos desafios pela frente

O ministro Fernando Haddad disse que não anteciparia seu voto na reunião de hoje do Conselho Monetário Nacional. Mas deu indicações. Avisou que considera decidida a meta da inflação do ano que vem. Ela está em 3%. Criticou, como desatualizada, a forma de cálculo de hoje sobre o tempo do cumprimento da meta ao final de cada ano: “Quase a totalidade dos países saiu do ano calendário”. A alternativa é a meta contínua. Em longa entrevista que me concedeu ontem na GloboNews, Haddad criticou indiretamente o mercado, que “fetichiza” um determinado indicador, disse que o arcabouço deve ser aprovado e garantiu que a reforma tributária não vai aumentar os impostos para o setor de serviços e profissionais liberais. E explicou a boa relação com o Congresso.

William Waack - O esforço que falta para a direita

O Estado de S. Paulo

Falta de nomes não é o maior problema da direita pós-Bolsonaro

Inelegibilidade é só o começo das atribulações de Jair Bolsonaro. Com ou sem um “mastermind” (que Jair supõe ser o ministro Alexandre de Moraes), o Judiciário se move para destruí-lo como pessoa física também – o “CNPJ” de pessoa política está sendo cancelado.

Não há sucessor designado e não há estrutura partidária ramificada do “bolsonarismo”, o que significa dizer que existem milhões ainda seduzidos pelo nome, mas não um movimento de massas que siga a direção apontada pelo “mito”. O que deve complicar a capacidade dele de “dirigir” correntes políticas sentado do lado de fora das linhas das disputas eleitorais.

Maria Hermínia Tavares* - As urgências do mundo

Folha de S. Paulo

Diplomacia presidencial parece começar a dar rumo ao protagonismo além-fronteiras

Em Paris, na semana passada, o presidente Lula discursou duas vezes. Para a multidão que participava do festival Power Our Planet, ao ar livre, no Champ de Mars, escalou nos decibéis ao cobrar dos países ricos uma paga pela devastação ambiental que promoveram para se tornar o que são.

À parte um momento de miopia autoprovocada —faz tempo, afinal, que também as nações menos desenvolvidas ajudam a fomentar o desastre planetário—, não disse coisa nova: ecoou o princípio das "responsabilidades comuns, porém diferenciadas", consagrado já em 1992 na Unfcc (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) e desde então integrado à diplomacia brasileira. O texto obriga os países membros da convenção a defender o clima "com base na equidade e em conformidade com suas respectivas capacidades".

Luiz Carlos Azedo - Por que será que nossos jovens não querem ter tantos filhos?

Correio Braziliense

Os indicadores sociais precisam ser confrontados com os resultados do Censo 2022, principalmente na educação, na saúde, na habitação, nos transportes e na segurança pública

No Natal de 1989, a criminalidade nos Estados Unidos atingiu um de seus índices mais elevados. Nos 15 anos anteriores, havia aumentado 80%. A partir dos anos 1990, começou a cair repentinamente, até atingir patamares equivalentes ao imediato pós-Segunda Guerra Mundial. As explicações eram as mais diversas: estratégias inovadoras da polícia, prisões mais seguras, mudanças no mercado de drogas, controle de armas, mais polícia nas ruas e outras medidas associadas à segurança pública, além do envelhecimento da população.

O economista Steven D. Levitt, da Universidade de Chicago, e o jornalista novaiorquino Stephen J Dubner analisaram todas essas hipóteses, inclusive aquela que atribui a queda da criminalidade ao envelhecimento da população, no livro Freakonomics, o lado oculto e inesperado que nos afeta (Editora Campus), para concluir que nada disso foi o fator determinante da queda da criminalidade. Embora os velhinhos fossem menos violentos que os norte-americanos mais jovens, chegaram à conclusão de que o fator determinante da redução da criminalidade fora a legalização do aborto, porque reduziu drasticamente a população de jovens em situação de risco.

Vinicius Torres Freire - O Censo e um país sem esperança

Folha de S. Paulo

IBGE mostra ritmo pequeno de aumento da população; Brasil vai precisar de mais imigrantes

O Brasil passa por um período de crescimento chinês. Quer dizer, o ritmo de aumento da população dos dois países foi parecido na última dúzia de anos, na casa dos 6%. A China, como se sabe, teve uma política muito dura de controle dos nascimentos. A população brasileira estaria crescendo pouco? Pouco por qual critério?

Antes de prosseguir, relembre-se que a taxa de crescimento calculada pelo Censo de 2022 causou surpresa. A população recenseada é de cerca de 203 milhões, 11 milhões menor do que aquela de projeções ou estimativas da Pnad, do IBGE. Por essas contas a população vinha crescendo a um ritmo anual na casa de 0,8% ao ano; pelo Censo, a pouco mais de 0,5%.

A diferença causa um certo furdunço, ainda pouco informado, pois faltam detalhes do Censo para se pensar o que houve. Pode bem ser que a calibragem das pesquisas do IBGE estivesse meio torta por falta de uma contagem de população de meio de década, para o que não houve dinheiro.

Bruno Boghossian - Lula, Arthur e Elmar

Folha de S. Paulo

Sinal precoce de apoio a candidato do presidente da Câmara pode criar problema para 2025

Lula decidiu pular no barco de Arthur Lira três meses antes da eleição para a presidência da Câmara. O petista fez as contas e percebeu que estava longe do apoio necessário para emplacar um candidato alinhado ao governo. Para evitar um choque prematuro com o centrão, fechou apoio à reeleição do líder do grupo.

A mais de um ano e meio de uma nova eleição para o comando da Casa, o governo piscou mais uma vez. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, mandou para Lira o sinal de um acordo para apoiar o nome escolhido pelo presidente da Câmara para sucedê-lo em 2025. O favorito é Elmar Nascimento, líder da União Brasil.

Maria Cristina Fernandes - Seis meses depois, uma fórmula de governo

Valor Econômico

Cerco sobre Lira devolve a Lula a iniciativa legislativa

Levou seis meses, mas o governo Luiz Inácio Lula da Silva parece ter encontrado uma fórmula. Não é definitiva nem resolve tudo, mas encara o enrosco legislativo, o maior que encontrou e sem o qual não consegue destravar a economia.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-PL) angariou plenos poderes à medida que sua gaveta se encheu de pedidos de impeachment contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Tomou conta do Palácio e passou a agir para consolidar, sob quaisquer governos, os poderes de seu grupo político. Agora prova do próprio veneno.

A retomada legislativa do Executivo dá-se pelos mesmos meios. O cerco da operação Hefesto sobre “Arthur” tem permitido a Lula construir pontes com o Legislativo. O grande teste para a eficácia desta fórmula será a aprovação do arcabouço fiscal mantendo de fora do teto de gastos o Fundeb.

O orçamento permitirá que se respire acima da linha d’água e que se pense em algo parecido com uma base na Câmara. E os méritos nem podem ser atribuídos ao governo. São todos de Lira. Vazamentos? Sempre haverá. Tanto de um lado quanto do outro. Além da Polícia Federal e do Ministério Público, havia 14 advogados com acesso ao inquérito. O problema foi outro.

Lira continuou a agir, ante um presidente que desafiou, como se estivesse perante aquele que era seu aliado/refém. Só isso pode explicar a existência, numa toca de gatunagens, de livros-caixa dos gastos mais comezinhos de “Arthur” datados de abril deste ano. Quatro meses depois da posse, “Arthur” continuava a entrar sem bater e deitar no sofá com os pés sujos sem se dar conta que o contrato de aluguel da casa passara para outro inquilino.

Assis Moreira - O século dos asiáticos?

Valor Econômico

Estados Unidos, com 4% da população mundial, geram 25% da produção global, posição mantida desde 1980, observa “The Economist”

Acompanhei recentemente a Beyond Expo 2023, uma das maiores exposições asiáticas de tecnologias de consumo, saúde e sustentabilidade, na região administrativa especial de Macau, China. Durante o evento, alguns membros da elite intelectual da Ásia manifestaram uma análise comum sobre rumos que o mundo pode tomar.

Kishore Mahbubani, ex-diplomata de Cingapura que foi presidente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (janeiro 2001-maio 2002) e é membro do Asia Research Institute, deu o tom, não hesitando em listar “quatro certezas” futuras, em meio às turbulências atuais.

Para ele, a primeira certeza é que o século XXI será o século asiático, assim como o século XIX foi o século europeu, e o século XX foi o século americano. O século asiático será “um retorno à norma”, porque na maior parte do tempo as duas maiores economias do mundo sempre foram as da China e da Índia. “Os 200 anos de domínio ocidental na história mundial foram anormais”, insistiu.

Malu Gaspar - Lisboa é uma festa

O Globo

O último domingo marcou o aniversário do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas o dia não lhe trouxe boas notícias. A revista piauí e a Folha de S.Paulo publicaram que a Polícia Federal havia encontrado no carro do motorista de seu ex-assessor Luciano Cavalcante anotações de pagamentos de quase R$ 500 mil para um certo “Arthur”.

Cavalcante é um dos alvos do inquérito que apura o desvio de R$ 8 milhões na compra de kits de robótica para escolas de Alagoas com dinheiro do orçamento secreto.

Lira não se abalou. Naquela noite, ele e a namorada celebraram com amigos no Praia no Parque, um bar de Lisboa sediado no elegante Parque Eduardo VII. À mesa, além do vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (Republicanos-SP), e do vice-presidente do União Brasil, Antônio Rueda, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STFGilmar Mendes era paparicado pelos comensais.