Folha de S. Paulo
Biden manteve política comercial trumpista; a
seu modo, são nacionalistas econômicos
Joe Biden manteve
a política de Trump 1 de cobrar mais imposto de importação de produtos chineses
e estendeu neste ano a restrição para bens como carros elétricos e baterias,
painéis solares, minérios estratégicos, aço, alumínio, material hospitalar
(seringas!) e chips.
Em outubro, Biden
autorizou a instalação de uma mina de lítio em Nevada, ao norte de Las Vegas.
O empreendimento é detestado por ambientalistas e defendido por fábricas de
carros, entre outros. O governo vai financiar parte da construção da mina; diz
que o minério é estratégico para a segurança e para a economia do
país. Cerca de 80% da produção mundial de lítio vai para a fabricação de
baterias.
A mina pode quadruplicar a produção americana de lítio até 2028. Austrália, Chile e China, pela ordem os maiores produtores, fazem uns 90% da oferta mundial; Argentina e Brasil vêm a seguir. A extração do mineral é poluente, usa muita energia e água; por isso regulamentações complicam o negócio.
As duas grandes iniciativas de Biden na
economia foram o "Chips and Science Act" e o "Inflation
Reduction Act" (IRA). São políticas de estímulo setorial ("política
industrial"), com auxílio de dinheiro grande do governo, que favorecem
pesquisa e produção de tecnologia de ponta (chips e transição energética).
O objetivo dessas medidas também é levar
empresas e empregos para os EUA, ou mantê-los por lá. Tudo isso, em
versão mais comedida, negociada e pensada, é "America First" (EUA em
primeiro lugar), embora não seja "Maga". E daí? Trump, ao menos
no discurso de campanha, é uma versão lunática da defesa de interesses
americanos reais, de empresas e até de trabalhadores locais prejudicados pela
globalização (comércio, relocalização de empresas e migração de trabalhadores).
Protecionismo eleva custos. Parece diminuir o
crescimento, que, NA MÉDIA, aumenta a renda. Mas até um Nobel de Economia como
Angus Deaton (mas não apenas) escreveu recentemente, de modo informal, que
talvez não seja bem assim. Aliás, Deaton e um
Nobel deste ano, Daron Acemoglu, dizem que o público precisa influenciar o
modo pelo qual são adotadas tecnologias, com o objetivo de, ao menos, conter
danos aos trabalhadores (menos salário e emprego, se algum).Trump mete medo até
nos CEOs das maiores e mais inovadoras empresas, que ficaram mais quietinhos
nesta campanha eleitoral por medo de retaliação, segundo o New York Times e o
Washington Post. Mas, a seu modo louco, tem sintonia com interesses econômicos
grandes ou extensos. Pode detonar o sistema econômico mundial-americano ou pode
bem ser levado a implementar seu programa de modo mais ponderado.
Datacenters são conversa grande nos EUA,
grande alavanca tecnológica e de investimento. Em resumo limitado, são centros
de infraestrutura física de tecnologia de informação. O
avanço da inteligência artificial etc. demanda mais datacenters, devoradores de
energia.
Os interessados dizem que é preciso facilitar
a regulamentação ou desregulamentar a fim de levar capital privado para essa
cadeia: produção de eletricidade, transmissão, datacenters, mais aplicações de
IA. Desregulamentação é palavra-chave do programa de Trump e de seu
grande, talvez
maior, aliado empresarial, Elon Musk: petróleo, minas, finança,
infraestrutura. Essa mistura de governo com desregulamentação não é
contraditória.
Um comentário:
Biden teria mais chance de vencer Trump,o americano médio é machista demais para aceitar uma mulher na presidência - Que Deus ilumine a cabeça do novo inquilino da Casa Branca.
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