A Agência Internacional de Energia - IEA projeta que o hidrogênio verde poderia fornecer até 24% das necessidades energéticas globais até 2050, contribuindo para uma redução de até 20% nas emissões de CO2, no entanto, seu custo de produção ainda é um desafio, sendo significativamente mais elevado que o do hidrogênio cinza e azul (produzido com captura de carbono na atmosfera). A redução desses custos é crucial para a viabilidade econômica e expansão do uso do hidrogênio verde.
Desafios e Oportunidades Globais
Para viabilizar o uso do hidrogênio verde, muitos países
estão implementando políticas de incentivo e investimentos em pesquisa e
desenvolvimento, a União Europeia, por exemplo, estabeleceu uma meta ambiciosa
de produzir 10 milhões de toneladas de hidrogênio verde até 2030, com
investimentos massivos em infraestrutura e inovação tecnológica. Países como a
China, Japão e Austrália estão na vanguarda, com a Austrália investindo bilhões
em plantas de hidrogênio verde com foco na exportação para mercados asiáticos,
e a China destinando recursos para substituir o hidrogênio cinza em suas
indústrias, alavancando seu uso em setores como siderurgia e química.
O Papel do Brasil na Economia do Hidrogênio Verde
O Brasil possui uma vantagem competitiva única devido à sua
matriz energética predominantemente renovável, com cerca de 83% da eletricidade
proveniente de hidrelétricas, eólicas e solares. Esse diferencial pode tornar o
país um dos maiores produtores e exportadores de hidrogênio verde, com custos
de produção potencialmente mais baixos do que em outras regiões do mundo.
Localizado no Porto de Suape, em Pernambuco, o TecHUB
Hidrogênio Verde, é uma iniciativa estratégica que visa posicionar o Brasil
como líder global na produção e exportação desse combustível, liderado pelo
Senai-PE, o supercluster está sendo desenvolvido com o apoio de parceiros
públicos e privados, incluindo universidades e empresas de tecnologia, visando
acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis. O complexo
abrigará plantas piloto para produção de hidrogênio verde e instalações dedicadas
à pesquisa em baterias de baixa voltagem e outras tecnologias emergentes. Além
disso, funcionará como um centro de capacitação para profissionais, abordando a
crescente demanda por mão de obra qualificada no setor.
Desafios Técnicos e Regulatórios no Brasil
Apesar das vantagens, o Brasil enfrenta desafios
significativos, especialmente relacionados à infraestrutura e regulamentação. A
infraestrutura existente não está plenamente preparada para o transporte e
armazenamento de hidrogênio, necessitando de investimentos em novas tecnologias
e adaptações, além disso, o marco regulatório para a produção e comercialização
de hidrogênio verde continua em fase de desenvolvimento. Incentivos fiscais,
subsídios para pesquisa e a criação de um mercado regulado para o hidrogênio
são medidas fundamentais para atrair investidores e fomentar o crescimento
desse setor.
Outro obstáculo é a competição com outros produtores globais
que já avançaram na curva de aprendizado, o Brasil precisará não só alavancar
sua abundância de energia renovável, mas também investir pesadamente em
pesquisa e inovação para reduzir os custos de produção e tornar o hidrogênio
verde acessível e competitivo internacionalmente. Estratégias bem-sucedidas em
outros países, como a planta de hidrogênio verde de Heide na Alemanha, que
utiliza eletricidade de parques eólicos para alimentar indústrias locais, podem
servir de modelo para o Brasil.
Oportunidades Econômicas e Ambientais
O hidrogênio verde tem o potencial de movimentar cerca de US$
700 bilhões globalmente até 2050, e o Brasil está bem posicionado para capturar
uma parte significativa desse mercado, a expansão dessa indústria no Brasil
pode gerar milhares de empregos, atrair investimentos estrangeiros e
diversificar a matriz econômica do país, e ampliar a base energética local,
reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, ao se tornar um
exportador de hidrogênio verde, o Brasil pode desempenhar um papel crucial na
descarbonização global, auxiliando outros países a atingirem suas metas
climáticas.
À medida que o mundo avança para um futuro de baixo carbono,
o hidrogênio verde oferece ao Brasil uma oportunidade única de transformar sua
economia e se destacar como um líder global em energias renováveis. Para
alcançar essa visão, é essencial que o Brasil adote uma abordagem estratégica
integrada, envolvendo políticas públicas eficazes, incentivos ao
desenvolvimento de infraestrutura e tecnologias, e uma colaboração robusta
entre governo, indústria e academia.
A criação do TecHUB é apenas o início de uma trajetória
promissora, a continuidade de investimentos, o apoio governamental consistente
e o engajamento dos setores público e privado serão cruciais para que o Brasil
consolide sua posição como um dos principais atores globais do hidrogênio
verde, impulsionando a inovação, sustentabilidade e contribuindo
significativamente para a luta contra as mudanças climáticas em escala global.
Com essas ações, o Brasil não apenas atenderá às suas próprias necessidades energéticas,
mas também se tornará um fornecedor mundial de soluções energéticas limpas,
transformando desafios em oportunidades e liderando a economia do futuro.
*Advogado, ex-Secretário Executivo de Direitos Humanos de
Pernambuco
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