Valor Econômico
Pelo cenário atual em Washington, Brasil é um dos países mais vulneráveis a enfrentar tensões comerciais com o futuro governo
No seu primeiro mandato como presidente,
Donald Trump utilizou sem hesitação a alta de tarifas de importação para punir
tanto rivais como aliados e forçar as empresas a fabricar seu produtos nos EUA.
Confirmado para voltar à Casa Branca, Trump
vem agora com plano ainda mais agressivo, de imposição de “tarifa universal” de
10% a 20% sobre a maioria das importações e de 60% sobre a China, o inimigo
número um.
Economistas citados pelo “New York Times” comparam a provável imposição por Trump de barreiras comerciais em níveis não vistos em gerações a uma granada lançada no coração do sistema internacional de comércio baseado em regras comuns.
Pelo cenário atual em Washington, o Brasil é
um dos países mais vulneráveis a enfrentar tensões comerciais com o futuro
governo Trump, segundo um estudo do Global Trade Alert (GTA), que monitora o
desenvolvimento de políticas comerciais.
Entre 173 economias, o Brasil aparece entre
as 14 com maior risco de mais investigações dos EUA sobre supostas práticas
comerciais desleais nos próximos anos.
O GTA identifica cinco queixas comuns de
Washington e coleta informações sobre sua relevância para cada parceiro
comercial. Atribui então bandeiras vermelhas aos parceiros comerciais com
desempenho “ruim” em critérios predefinidos.
Resultado: 14 economias receberam de três a
cinco bandeiras vermelhas. O país com o máximo de “pecados” seria a Coreia do
Sul, com cinco, e não a China, com quatro. O Brasil tem três bandeiras
vermelhas, por causa de taxa de câmbio, medidas que ajudariam empresas
brasileiras e colocariam em risco exportações americanas e preocupações com
práticas brasileiras mencionadas no relatório anual de Estimativa de Comércio
Nacional sobre Barreiras ao Comércio Exterior (NTE).
Portanto, se a relação do Brasil com um
governo Trump foi difícil com os presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro,
ideologicamente próximos, pode-se imaginar com o governo Lula, considerando o
apetite trampista de criar ringue ideológico.
A verdade é que governo Trump não negocia,
governo Trump impõe, relatam diferentes fontes. As regras habituais da
diplomacia e da política comercial não funcionam da mesma forma com a equipe do
futuro presidente americano. É preciso ver se ele virá com time novo e métodos
novos.
Para o governo Lula, a melhor coisa que pode
acontecer a partir de agora é ser ignorado pelo futuro governo Trump. A Casa
Branca dá de toda maneira pouca atenção a Brasília. Quando olha para o Brasil,
é para pressionar por algo.
Há temas que o primeiro governo Trump
pressionou muito o Brasil, passaram pelo governo Joe Biden e devem voltar à
agenda bilateral do Trump 2.0 mais agressivo.
Um deles é a cobrança para o Brasil eliminar
alíquota de 20% na importação do etanol americano. O governo Trump queria que
seus produtores pudessem exportar livremente para o mercado brasileiro, o que
seria um problema para o Brasil.
O governo Trump também pressionou forte sobre
os equipamentos da chinesa Huawei na rede de telecomunicações 5G no Brasil. A
empresa está na lista negra dos EUA e considerada uma ameaça à segurança
nacional dos americanos. O governo brasileiro resistiu, em meio a divisões
internas.
Também no governo Trump, os americanos
queriam que o Brasil não concedesse proteção de indicação geográfica pedida
pela União Europeia (UE) que entraria em conflito com produtos americanos. Este
é um tema que continua na mesa de negociação UE-Mercosul.
Ao mesmo tempo, o governo dito amigo de Trump
continuou aplicando a seção 232 de sua legislação contra aço e alumínio, apesar
de todas as demandas do governo Bolsonaro por revisão da medida. Não fez a
menor concessão no uso da 232, que dá ao presidente americano amplos poderes
para limitar a entrada do produto estrangeiro se concluir que a importação
ameaça a segurança nacional.
Uma área em que houve avanço entre os
governos amigos Trump e Bolsonaro foi na de negociar capítulos de acordo
comercial, com base em demandas do setor privado.
O “America First” de Trump afetará outras
agendas do governo Lula. A proposta que o presidente brasileiro lançou de
revisão da carta das Nações Unidas, para evitar que siga “esvaziada e
paralisada”, não tem mesmo como prosperar. A agenda internacional do clima
também sofre um baque e pode-se imaginar o que não ocorrerá na 30ª Conferência
da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém em novembro
de 2025.
Por outro lado, o Brasil presidirá o Brics no
ano que vem, tendo na agenda também aproximação comercial e o uso de moeda
local nas trocas entre os grandes emergentes.
Um comentário:
Trump e a primeira "granada lançada no coração do sistema internacional de comércio"... E muitas outras virão, e ainda mais potentes! O canalha é completamente irresponsável e desequilibrado!!
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