segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Geddel e Wagner à beira da ruptura

Maria Lima
ELEIÇÕES 2010
DEU EM O GLOBO

Ministro escreve artigo e desafia o governador petista a retirar cargos cedidos ao PMDB na Bahia

BRASÍLIA. É cada dia mais insuportável a convivência, na Bahia, do PMDB do ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, com o PT do governador Jaques Wagner. Após a derrota imposta aos petistas na eleição para a prefeitura de Salvador, com ajuda do DEM do deputado ACM Neto (BA), Wagner tem ouvido, sem revidar, desaforos e provocações do grupo de Geddel, para não chegar isolado na disputa pela reeleição em 2010.

Além de ter que administrar a ira do PT local, que pede a devolução dos cargos do PMDB no governo estadual, Wagner também vê a cúpula do PSDB nacional intervir no tucanato baiano para acabar com a aliança do partido com seu governo.
Geddel: não há problema em devolver cargos

O último desaforo que Wagner teve que engolir de Geddel foi um artigo publicado por ele há algumas semanas no jornal "A Tarde", dizendo que não teria problema nenhum de devolver os cargos. "No momento em que setores do PT esgarçam a relação com o PMDB, cabe reafirmar o óbvio: o governador se sinta absolutamente livre para proceder como lhe convier", provocou Geddel no artigo.

Wagner, em viagem recente a Brasília, jantou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está acompanhando a movimentação de Geddel com preocupação e angústia, pois gosta muito do governador e, segundo interlocutores, sofreu por não poder atendê-lo na eleição de Salvador.

O artigo de Geddel foi uma resposta a artigos e entrevistas de dois deputados estaduais do PT, Geraldo Simões e Luiz Bassuma, que defenderam a entrega dos cargos. Pediram a Wagner que enquadrasse Geddel e tirasse os peemedebistas de seu governo. Quando chegou de uma viagem ao exterior, Wagner ligou para Geddel e disse que não demitiria ninguém.

- Eu lá sou homem de ser enquadrado? Temos o vice-governador eleito. Os cargos que nós temos conquistamos nas urnas. Construí minha vida política toda tomando pancada, por isso escrevi o artigo, para marcar uma posição. Mas o governador chegou, me ligou e disse que está tudo bem - respondeu Geddel.

Todos os secretários e indicados pelo PMDB continuam nos cargos, inclusive o secretário do Desenvolvimento, Raphael Amoedo, que estava na Suécia com o governador e levou um susto com a história da ameaça da devolução dos cargos feita por Geddel.

Segundo interlocutores de Wagner, como o governador disse que o PMDB só deixaria o governo se quisesse, pois não romperia com o partido, Geddel quis criar um fato político e armou uma operação para que o artigo tivesse repercussão, deixando o petista em posição desconfortável.

Para os petistas, a impressão que fica é que o artigo teve o objetivo de tentar aumentar a participação do PMDB, uma vez que o PP foi contemplado com uma secretaria, a de Agricultura, também cobiçada pelo PMDB. Hoje, Geddel tem mais de 50 cargos no governo Wagner, fora os que ele indicou no governo Lula.

- O governador não leva a mal, e acha que o ministro Geddel quer apenas ocupar os espaços que nunca teve na Bahia - diz um dos aliados de Jaques Wagner.

PSDB baiano busca aliança com DEM contra PT

As alternativas que estão sendo articuladas pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra, e pelo próprio governador de São Paulo, José Serra, para tirar o PSDB do governo Wagner e fortalecer o partido na Bahia incluem a adesão do ex-governador Paulo Souto, atual presidente regional do DEM, para comandar o partido e se cacifar como forte adversário do PT na disputa pelo governo em 2010. Isso garantiria também um palanque consistente para Serra. Souto confirma que, na atual situação, com os tucanos na aliança local com o PT baiano, a parceria nacional do DEM/PSDB se inviabiliza:

- O PSDB e o DEM têm um projeto juntos. Agora, o que ocorre na Bahia tem deixado todo mundo perplexo. O PSDB aqui é PT. Desse jeito, é muito difícil ter uma posição comum em 2010. As dificuldades de Alckmin em 2006 se repetirão com Serra em 2010.

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