sábado, 6 de agosto de 2011

Crédito estrangulado:: Celso Ming

O nome desta crise agora pouco importa. Vai sendo consolidada a impressão de que a economia global está atravessando nova paralisia, semelhante à acontecida em 2008.

O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, advertiu ontem, em São Paulo, que o crédito do sistema bancário europeu está praticamente estrangulado, dependente de transferências de recursos do Banco Central Europeu (BCE).

A asfixia do crédito também aconteceu em 2008. Em questão de semanas, as aplicações dos bancos em hipotecas e empréstimos para empresas viraram créditos suspeitos ou, simplesmente, ativos podres. Ninguém tinha então como saber a quantas estavam as condições patrimoniais de cada banco. E nenhum deles se dispunha a emprestar para o outro. Mas, ao menos temporariamente, o jogo virou quando os Tesouros dos países ricos socorreram suas instituições financeiras.

Desta vez, os Tesouros da maior parte dos países ricos ou estão quebrados ou muito perto disso. A crise global deixou de ser o estouro da bolha das hipotecas (prime e subprime) e evoluiu para uma crise de endividamento público. Hoje, os únicos fornecedores de liquidez nos países avançados são os bancos centrais.

A situação da União Europeia é mais complicada, porque o BCE, presidido pelo francês Jean-Claude Trichet, tem mais restrições para operar com recompra de títulos públicos dos países da área do euro. Trata-se de uma prática que poderia caracterizar uma relação incestuosa com os tesouros. Seria emitir moeda para dar cobertura a despesas correntes.

De todo modo, o BCE vem recomprando no mercado secundário, em caráter excepcional, títulos da Grécia, Portugal e Irlanda que a rede bancária não vinha podendo manter em carteira. A questão é que problemas semelhantes começam a acontecer com Itália e Espanha, países com dívidas três ou quatro vezes maiores do que as de Grécia, Portugal e Irlanda.

A União Europeia não tem mecanismos institucionais que possam prestar socorro a sócios que, repentinamente, enfrentem graves problemas de caixa. O recentemente criado Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (EFSF, na sigla em inglês), cuja função é dar cobertura de liquidez a países-membros do bloco do euro, só vai dispor de 340 bilhões de euros e, ainda assim, seus estatutos terão de ser previamente aprovados nos Parlamentos de cada país.

Depois de percorrer grande quilometragem com o breque de mão puxado, o BCE finalmente admitiu recomprar títulos da Itália e da Espanha, cujas dívidas ficaram sob ameaça de colapso. Mas não pode manter essa linha de emergência indefinidamente aberta.

Quando faltam mecanismos institucionais capacitados para emprestar recursos em última instância, é preciso provê-los rapidamente. Isso requer lideranças capazes de quebrar resistências e de saltar etapas. No entanto, líderes europeus são hoje animais em extinção. Quando simplificam tudo e quando tratam uma crise tão profunda como se não passasse de resultado de ação dos especuladores e dos mercados de derivativos, chefes de Estado como Sarkozy e Berlusconi não se mostram à altura dos desafios que estão aí.

Emprego e confiança

Os números do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos, ontem divulgados, mostraram em julho uma recuperação do emprego acima da esperada: 117 mil postos de trabalho, em vez dos 75 mil projetados pelos analistas. Não há nenhuma garantia de que esteja em marcha uma melhora no emprego. Ao contrário, a tomada de consciência de que a crise aumentou poderá levar o empresário americano a adiar tanto projetos de investimento quanto de contratação de pessoal. Enfim, emprego é também questão de confiança.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

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