Os indicadores da China ainda são exuberantes mas avisam que a economia está diferente. O país está passando por uma transição política complexa, a crise mundial está reduzindo a demanda por seus produtos, e o governo adiou a adaptação dos bancos chineses às novas regras de controle aceitas internacionalmente. O embaixador Sérgio Amaral entende que nada disso é fratura ou ruptura, mas é uma desaceleração que afeta o Brasil.
Há algo de novo no reino dos indicadores chineses. Quando se olha para a indústria e o comércio, por exemplo, as taxas são fortes. A indústria teve o menor crescimento dos últimos três anos em abril, mas subiu 9,3%. As vendas do varejo desaceleraram no mesmo mês, mas cresceram 14,1%. Difícil dizer que os números são ruins. Na balança comercial, no entanto, os números começam a ficar parecidos com os de outros emergentes: nos primeiros quatro meses de 2012, as exportações cresceram 6,9% e as importações, 5,1%. No mês de abril, subiram 4,9% e 0,3%, respectivamente. Será que isso deveria ser sinal de alerta para o Brasil?
A resposta é: sem dúvida. As exportações brasileiras para a China crescem a dois dígitos há mais de dez anos. Em 2003, subiram 73%. Isso tem impulsionado nossa economia. Até no ano da crise, em 2009, o Brasil exportou 27% a mais para a China. Em 2011, a alta foi expressiva: 43%. Nos primeiros quatro meses foi de apenas 7,61%.
Esses números chamam atenção para o fato de que o Brasil é China-dependente. Além de ter um comércio muito concentrado em alguns produtos. Minério de ferro, soja e petróleo são 80% do que o Brasil vende. O minério de ferro viveu nos últimos anos um extraordinário boom no volume de vendas e no patamar de preços. Agora, o FMI está prevendo redução. Os preços continuarão altos, mas em níveis decrescentes. Veja no gráfico abaixo o quanto o Brasil foi beneficiado nos últimos anos e a desaceleração prevista pelo Fundo.
- A economia chinesa está sofrendo dois impactos. Um da economia mundial, que está fraca e com demanda menor. Isso significa menos consumo de produtos chineses. O outro impacto é interno. A China está fazendo uma conversão na sua economia, mais focada no mercado interno. O chinês quer melhorar de vida, quer mais salário - diz o embaixador Sérgio Amaral, presidente do Conselho Empresarial Brasil-China.
Ele conta que foram feitos muitos investimentos em infraestrutura que não se mostraram necessários. O investimento teve que ser reduzido, e ele, em parte, é que puxava o crescimento de dois dígitos. Tem havido também mais integração comercial e econômica dentro da Ásia. Eles estão integrando suas cadeias e assim crescem juntos: China, Índia, Indonésia. Muitos produtos são às vezes apenas terminados na China.
Além do mais, conta o embaixador, a China não quer apenas produzir em série para exportar, quer inovar também. Trocar o "made in China" para o modelo de produto desenvolvido na China, reproduzindo o caminho de outros países asiáticos, como o próprio Japão e, depois, a Coreia. Além do mais, continuar crescendo principalmente via exportações num mundo onde tantos países desenvolvidos estão encolhendo ou estagnados é difícil:
- Mas nada disso é sinal de fratura, de ruptura do modelo econômico. Tudo indica uma desaceleração que manterá o país crescendo entre 6% a 8% ao ano. O Brasil será afetado porque a demanda chinesa pelos nossos produtos será menor. Não que ela vá comprar menos, mas o ritmo de crescimento será menos intenso. Isso terá reflexo na nossa balança. Por sorte nossa, o chinês do interior continuará migrando para as cidades, demandando alimentos e infraestrutura.
Uma China diferente traz sempre inúmeras dúvidas no mundo. Uma das questões é até onde o comando do Partido Comunista sobre o país será tão incontrastável quanto tem sido. Numa sociedade mais aberta as manifestações de pessoas que pensam de forma diferente do que o governo gostaria tendem a ser mais frequentes.
Quanto ao Brasil, deve se preparar para o novo passo chinês e o melhor é ver os próprios problemas:
- Os problemas do Brasil vêm de dentro e não de fora. Temos uma dificuldade séria de competitividade industrial que não está sendo combatida. Nossa estratégia tem sido proteger a indústria e não dar condições para que ela consiga competir. Temos uma plataforma de produção cara no país. Isso continua, apesar da queda dos juros e da desvalorização do real.
Que o Brasil mude, antes que a China mude demais.
FONTE: O GLOBO
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