Afinal, caiu a ficha. Esfumou-se, em Brasília, o discurso mistificador de que, com os sucessivos estímulos à demanda dos últimos meses, o PIB poderia crescer 4,5% em 2012. Custou, mas o governo por fim percebeu que o crescimento da economia brasileira neste ano poderá ser ainda menor do que os pífios 2,7% do ano passado. Em meio a indisfarçável clima de alarme, pautado por reuniões de emergência, exortações à equipe econômica e promessas de proezas no esforço de "levantamento de PIB", parece ter sido aberta nova e ruidosa temporada de ativismo a esmo na condução da política econômica.
O choque de realidade foi a divulgação pelo IBGE dos dados da evolução do nível de atividade no primeiro trimestre, que apontam para a inevitabilidade de um crescimento medíocre este ano, mesmo que a economia mostre recuperação razoavelmente vigorosa no segundo semestre. O que mais chama atenção é a queda de 1,8% no investimento agregado em relação ao trimestre anterior.
É bem verdade que a crescente incerteza sobre o desempenho da economia mundial vem trazendo forte desestímulo a decisões de investimento. Os inquietantes desdobramentos da crise europeia têm sido a fonte mais óbvia de apreensão. Mas também têm causado preocupação os sinais pouco convincentes de recuperação nos Estados Unidos e as dúvidas sobre a real extensão da desaceleração do crescimento econômico na China.
Não é surpreendente, portanto, que a incerteza que emana do quadro externo tenha afetado, em alguma medida, o decantado "espírito animal" dos investidores privados, tornando-os bem menos arrebatados do que o governo esperava.
Mas o que merece atenção não é isso. O que intriga é que, nesse quadro tão pouco propício ao florescimento do investimento privado, o governo se mostre incapaz de pelo menos assegurar condições adequadas para que o investimento público e das empresas estatais cumpra papel minimamente compensatório. Na verdade, os dados mais recentes indicam que o investimento público federal continua em queda. Caiu de 2010 para 2011. E voltou a cair de 2011 para 2012. Bem ao contrário do que o governo anunciou que ocorreria.
O que houve não foi falta de recursos, mas mera incapacidade de fazer o investimento acontecer. Além de ter sido afetado pelas notórias dificuldades gerenciais que têm entravado o avanço do PAC, o desempenho do investimento público tem sofrido as consequências do desmantelamento das cadeias de comando que o governo federal se viu obrigado a promover em vários ministérios, para lidar com os sucessivos escândalos que pipocaram ao longo do ano passado.
E, agora, quando justamente estava empenhado em reconstituir essas cadeias de comando, o governo se deparou com os efeitos um tanto paralisantes da CPI do caso Cachoeira-Delta. Não só na esfera federal, mas também nos estados e municípios, o suspense acerca dos desdobramentos da CPI vem incutindo cautela redobrada na gestão de programas de investimento público. Nesse quadro de tantas dificuldades para fazer o investimento público acontecer, é totalmente fantasiosa a ideia de que, da noite para o dia, o governo será capaz de acionar novos programas de investimento para levar adiante uma política fiscal contracíclica.
Restam os investimentos das empresas estatais. E, entre eles, o gigantesco programa de investimento da Petrobras, em boa parte voltado para o pré-sal e pouco sensível às mudanças de humores que vêm inibindo o investimento privado. Seria ótimo se, a esta altura, os esforços de investimento no pré-sal - tanto da Petrobras como de outras empresas privadas - estivessem avançando desimpedidos e a pleno vapor. Mas, infelizmente, não é bem isso que está acontecendo. Como já mencionado várias vezes neste espaço, o avanço do investimento no pré-sal vem sendo seriamente entravado por uma política estapafúrdia de exigência de percentuais exorbitantes de conteúdo nacional nos equipamentos utilizados. Já é hora de o país entender que, com tal política, está dando um retumbante tiro no próprio pé.
Rogerio Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio.
FONTE: O GLOBO
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