sexta-feira, 8 de junho de 2012

Delta não indeniza 800 demitidos

Empreiteira não paga a ex-funcionários, mas ainda recebe repasses da União

Marcio Allemand

Passadas três semanas da decisão da Petrobras de rescindir o contrato das empresas que participavam do Consórcio Delta/TKK/Projectus para a construção de módulos do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, ex-funcionários reclamam que até o momento não receberam o pagamento referente à rescisão.

Dizem também que sequer podem dar entrada no FGTS ou no seguro-desemprego. Isso porque o consórcio não deu baixa na carteira de trabalho de nenhum deles, e a documentação encontra-se toda bloqueada.

Jean Santana, técnico de edificações, que trabalhou durante seis meses na construção da Unidade Industrial de Tratamento, Recuperação e Armazenamento de Enxofre (URE) e da Unidade de Hidrotratamento de Nafta (HDT), diz que a empresa lhe deve algo em torno de R$ 20 mil pela rescisão, além do pagamento do adiantamento, que acontecia mensalmente todo dia 20:

- Estou com todas as minhas contas atrasadas. Desde a prestação do meu carro até a pensão das minhas filhas. O pior é que não sabemos como essa situação vai ser resolvida.
A rescisão do contrato com a Petrobras pegou os cerca de 800 funcionários do consórcio de surpresa. Naquela manhã, ao chegarem para trabalhar, foram todos demitidos.

Na ocasião, a Petrobras explicou, em nota, que a rescisão aconteceu devido ao baixo desempenho da empresa na construção da Unidade Industrial de Tratamento, Recuperação e Armazenamento de Enxofre (URE) e da Unidade de Hidrotratamento de Nafta (HDT). Os dois contratos foram assinados no fim de 2010. Pelo primeiro contrato, o consórcio receberia R$ 532 milhões, enquanto a construção da HDT renderia R$ 311 milhões.

Como a situação da Delta segue delicada, os funcionários começam a se organizar para acionar a empresa na Justiça. Mobilizados, eles pretendem cobrar a dívida judicialmente.

Procurada, a assessoria de imprensa da Delta afirmou que nesta semana um novo comitê executivo assumiu a empresa e que a construtora só voltará a se pronunciar após a resposta do pedido de recuperação judicial.

Se por um lado a Delta Construções deixa de pagar seus ex-funcionários, a empresa não tem do que reclamar no que diz respeito aos pagamentos do governo federal. Só este ano, a construtora embolsou quase R$ 240 milhões, sendo que no mês de maio, quando sofreu a quebra de sigilo bancário em todo o país, o total recebido foi de R$ 55,2 milhões, a maior parte, dos cofres do Ministério dos Transportes. Em junho, apenas nos dois primeiros dias, os repasses já haviam chegado a R$ 8 milhões.

Recentemente, a empresa enviou nota à imprensa confirmando que possui muitos "ativos patrimoniais a receber" e que obteve grande parte desses pagamentos em restos a pagar.

FONTE: O GLOBO

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