Ex-ministro afirma a aliados que, se for para a cadeia, vai se definir como
"prisioneiro político"; direção do PT prepara críticas ao Judiciário
Vera Rosa, Felipe Frazão
Condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha pelo Supremo Tribunal
Federal, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, jantou na terça-feira na
casa do prefeito de Osasco, Emídio de Souza (PT). À mesa, bacalhau, vinho,
eleições, José Serra e mensalão. Para Dirceu, o Supremo "leva a situação
para o pior possível".
Entre uma e outra recordação das disputas para deputado estadual e federal -
a primeira delas em 1987, quando se tornou constituinte de São Paulo -, o
ex-todo-poderoso ministro do governo Lula comentou que, se for para a cadeia,
vai se declarar "prisioneiro político de um julgamento de exceção".
Depois do 2.º turno da eleição, o PT divulgará um manifesto em tom duro, com
críticas ao Judiciário. A estratégia do partido também prevê a cobrança do
julgamento dos réus do "mensalão tucano", por parte do Supremo.
À espera de sua pena, que a Corte máxima vai impor, Dirceu disse estar
"preparado" para o pior. Na sua avaliação, o Supremo "não vai
aliviar em nada" no cálculo da punição, a chamada dosimetria - em tese,
ele pode pegar de 3 a 15 anos de reclusão.
O ex-ministro chegou ao apartamento do prefeito de Osasco acompanhado da
mulher, Evanise Santos. Parecia bem disposto, animado, contrapondo-se ao
aspecto abatido que carregava antes de o STF dar início ao seu julgamento. Até
cortou os cabelos, que já vinham abaixo da nuca.
Soltou boas gargalhadas cada vez que os convivas falavam da "fixação do
Serra" por ele - uma alusão aos debates da campanha à Prefeitura de São
Paulo em que o tucano José Serra tem provocado Fernando Haddad, do PT, ao
destacar a condenação de Dirceu como mensaleiro.
Foi uma noite agradável, relataram convidados. Emídio, pré- candidato do PT
ao governo do Estado em 2014, recebeu dez amigos para o jantar, entre eles o
deputado federal Vicente Cândido (PT) e sua mulher, Eva, o advogado José Luis Oliveira
Lima, o Juca, defensor do ex-ministro na ação penal 470, o prefeito eleito de
Osasco, Jorge Lapas (PT), e Marco Aurélio Carvalho, coordenador do Setorial
Jurídico do PT. "O jantar foi uma manifestação de solidariedade, um ato de
carinho a nosso companheiro José Dirceu", disse Carvalho.
Emídio e Dirceu são amigos de muitos anos. Na conversa, o ex-ministro
comemorou o desempenho do PT nas eleições. Para ele, o partido se mostrou
"forte e enraizado" e Fernando Haddad já pode se considerar eleito.
Dirceu fez menção de gratidão ao ex-ministro de Direitos Humanos, Paulo
Vanucchi. Na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências
Sociais, Vanucchi disse que o PT vai acompanhar "com lupa", daqui
para a frente, cada voto dos ministros do STF.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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