Durante muitos anos o eleitor carioca se posicionava no
“campo político” do debate nacional, pois a história política do Rio de Janeiro
se confundiu por longos anos com os fatos mais marcantes da política nacional
ocorriam na Corte do Império, posteriormente Distrito Federal da República. A
democratização da “Nova República” foi responsável por indicadores que fizeram
emergir as demandas locais no processo eleitoral carioca. Singularmente, a
“mácula” contra a nacionalização do debate político carioca estaria na gestão
de Saturnino Braga que, apesar das explicações em contrário, foi classificada
como o exemplo de “fiasco” da política de esquerda diante da declaração da
falência do Rio de Janeiro. Eram outros tempos de gestão fiscal e de
indicadores macroeconômicos inseguros porém a “bomba” explodiu no colo do campo
democrático da esquerda.
A gestão de Marcelo Alencar foi uma transição de uma
visão política na administração municipal o que explicaria a ruptura do mesmo
com a liderança nacional de Leonel Brizola transferindo-se do PDT para o PSDB.
Note-se que o esse PSDB carioca pós-Alencar é muito distinto daquele que
emergiu das “fraturas” com o PMDB na Assembleia Nacional Constituinte sob a
liderança de José Serra. O PSDB carioca dialogava com as forças políticas do
clientelismo local. Portanto, a liderança política local da atual Deputada
Estadual Lucinha foi germinada nesses passos de “trocas”. Contudo, as eleições
de 1992 começaram sob o impacto nacional do impeachment de Collor, mas se
encerrou num segundo turno da denúncia do “arrastão na Zona Sul”.
O“cesarismo” começou sua hegemonia política carioca foi
na Zona Sul do Rio de Janeiro denunciando a desordem. Tempos dos valores
conservadores da Zona Sul contra o “povão” inorgânico. Aos poucos, diante do
Favela Bairro e do Rio Cidade, houve um processo de transformismo político do
projeto político do “cesarismo”que foi cooptando forças políticas locais da
Zona Norte e Zona Sul que hoje servem como base do atual grupo político que
está no Governo Municipal (que trata-se de uma outra etapa do “cesarismo” em
nossa interpretação). Em duas décadas, as eleições cariocas foram sendo
desnacionalizadas como a emergência de um debate sobre os problemas locais.
Essa dinâmica não é um problema quando temos uma sociedade organizada para
pressionar seus mandatários, mas no cotidiano antropológico eleitoral do
carioca ainda há muito por se fazer.
A sociologia dos partidos políticos ganham novos aspectos
ao serem analisados no quadro social carioca. As “máquinas eleitorais” ganham
mais força diante da força do voto inorgânico que se transformou em “moeda de
troca” entre a força política hegemônica local e o Governo Federal. Assim,
lideranças comunitárias se aproximam da “máquina política hegemônica” que se
associa ao “Presidencialismo de Coalizão” vulgarmente chamado de “lulismo”. A
desnacionalização das eleições cariocas fez PSDB e PT serem agremiações partidárias
secundárias, mas o “lulismo”é a força do discurso de uma sociedade sem e
pós-partidos políticos reforçando o cálculo eleitoral e o personalismo na
política. O eleitor da periferia é a base do “lulismo” que não está organizada
e serve como força política do Prefeito reeleito. A desnacionalização das
eleições cariocas aprimorou o sentido conservador de cooptação das massas ao
contrário da valorizar o sentido democratizador da disputa eleitoral local. Por
exemplo, as Administrações Regionais são “capitanias hereditárias” de
Vereadores para garantir sua ampla base de sustentação política, ou seja,
afilhados ou os próprios filhos são os indicados a fazerem parte desses cargos
nas Zonas Norte e Oeste.
A desnacionalização das eleições cariocas é o “teatro político”
da máquina e do jogo de influência. As lideranças locais são “infladas” por
essa movimentação clientelista e o eleitorado de opinião reage com o “voto
útil”. Diante desses elementos sociopolíticos, qual deveria ser a posição de
uma formação política de oposição ao “lulismo” nas eleições cariocas? A
renúncia da política de oposição no cenário local implica em ter uma forte base
nos bairros ou adere ao gerenciamento da máquina. Esse foi o dilema da campanha
despolitizada do PPS nas eleições municipais. Não foram deslizes das
candidaturas as eleições proporcionais mas a falta de ousadia em apresentar na
campanha a Carta de Princípios lida na Convenção Municipal em meio a som e
festividade. A campanha do PPS não aproveitou a oportunidade da campanha eleitoral
para se diferenciar das candidaturas do “lulismo” que apoiavam a candidatura
Paes levantando a bandeira do “mensalão”. Ganhamos todos os desgastes com
nossos eleitores tradicionais que fazem parte do “voto de opinião” e não
ganhamos nenhum eleitor do chamado “voto inorgânico”. Se houve alguma política
de concentração eleitoral em qualquer nome para as eleições da Câmara
Municipal, ela se apresentou sem qualquer formulação da política como ficou
visível para aqueles que viam o Horário Eleitoral. Alguma coisa faltava. Muito
simples. Faltava melhor explicar um PPS ser oposição nacional a aliança PT-PMDB
auxiliando a base municipal PMDB-PT. Essa interpretação foi até acolhida pelo
Judiciário ao conceder “Justa Causa” para um antigo dirigente estadual e vereador
do PPS ao transferir de legenda. Segundo seus argumentos, a mudança era por
motivos de grande mudança linha política.
O eleitor carioca do PPS se distanciou pois ele não
comunga da desnacionalização inorgânica das eleições cariocas. O eleitor
carioca do PPS não está no perfil daqueles que se preocupam se o Palmeiras será
rebaixado como vaticina o Ex-presidente Lula ao desqualificar a importância da
política democrática no Julgamento do Mensalão. Temos vocação para atingir um
eleitorado autônomo aos laços da dependência desde que sejamos claros em nossa
comunicação política. O temor de nosso eleitor em potencial é a
“tiriricalização” da política local. Ele estaria no aguardo de debates
programáticos e alternativas. Muitas vezes buscamos elaborar um Projeto de
Reflexão alternativa para o Rio de Janeiro, mas poucos se envolvem para
escrever ou fornecer ideias. Outros que formulam são lamentavelmente “taxados”
como defensores de pensamentos ultrapassados. E muita experiência política e
intelectual não pode ser compartilhada nessa campanha eleitoral. Os números
baixíssimos de votos se somaram a uma falta de visibilidade nas ruas onde as
“máquinas eleitorais” atuam numa estrutura profissionalizada. Nada é estranho
diante dos 1971 votos de legenda, pois até parte dos candidatos a Vereador não
saberiam dizer o que defende o PPS.
Fizemos uma aliança programática e caberia cobrá-la. Na
educação pública, por exemplo, onde alguns dirigentes avaliam ser Nota Dez,
seria interessante verificar que o Orçamento Municipal para Educação em 2013
será bem inferior aos 30% que defendemos. Essa é uma bandeira que não pode ser
deixada de lado mesmo que custe nossa volta ao campo da Oposição no Rio de
Janeiro. Se os trabalhadores em educação reclamam, não adianta falar que eles são
“corporativistas” sem contribuir para a aplicação do Congresso Municipal da
Educação no Rio de Janeiro mobilizando a sociedade, profissionais de educação e
Governo Municipal.
A vertente eleitoral do voto de opinião continua
flutuando na margem de 25-30% do eleitorado e o PPS não sensibilizou esse
eleitor nessas eleições municipais. Na verdade foi “punido” nas urnas da mesma
forma que o antigo PCB teve problemas nos tempos do MDB chaguista ou nas
eleições de 1986 ao apoiar Moreira Franco para Governador. Dois exemplos de
alianças locais controversas que tinham um lastro na política nacional. Após
anos, muitos defenderam essa contradição em nome do Nacional. Em 2000, o PPS
esteve ao lado de César Maia em nome de uma aliança nacional com o PTB (partido
pelo qual ele estava filiado) que sustentava Ciro Gomes. Imaginem, PPS, César
Maia e Roberto Jefferson antes das denúncias do “mensalão”. Tudo para
viabilizar uma alternativa nacional. E agora? O PPS “mergulhou” na
desnacionalização das eleições cariocas e sucumbiu, pois é ainda uma agremiação
das ideias e deixar de ser isso implica em aderir ao “lulismo”.
O labirinto de números não vai mudar a
realidade do fraco desempenho eleitoral como numa anedota profética de um ator
no Congresso Municipal do PPS em outubro de 2011 que causou risos e “mal estar”
em alguns: “Somos um Partido mandioca, ou seja, crescemos para baixo”. Os rumos
necessitam ser corrigidos para enfrentar as mudanças mencionadas no início
desse artigo em nome a republicanização do espaço local. Não podemos permanecer
“encastelados” numa formulação orgânica de vanguarda. Há espaço para deixar
emergir novas lideranças em diversas localidades do Rio de Janeiro. A
descentralização do PPS carioca em 4 (quatro) Zonas de Ação Política –
Centro/Sul, Centro/Norte, Zona Oeste Ferroviária e Zona Oeste Litorânea – a
partir dos nomes que surgiram na nominata eleitoral podem viabilizar um novo
momento em nossa formulação política. Contudo, nossa linha política deve estar
muito bem definida diante das próximas eleições gerais. O PPS precisa
contribuir na formação do “palanque” da
Oposição ao Governo Dilma mesmo que o PMDB continue no cargo da vice-presidência.
Invenção política não é novidade na História eleitoral carioca e renunciar a
esse debate vai marcar nossa descaracterização no campo da política de
oposição. Não podemos ser o PSD da Oposição.
Rio de Janeiro, 21 de outubro de 2012.
Membro do Diretório Municipal do PPS-RJ. Mestre em
Sociologia pelo CPDA-UFRRJ. Professor da Rede Pública de Ensino.
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