Para Luiz Werneck Vianna, controles republicanos se afirmaram
Juliana dal Piva
ÁGUAS DE LINDÓIA, SP - Os significados do julgamento do mensalão para a política
brasileira movimentaram mesas de debate e conversas pelos corredores no
terceiro dia do encontro anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Águas de Lindoia, no interior de São
Paulo. Em entrevista ao GLOBO, o sociólogo da PUC-Rio Luiz Werneck Vianna é
categórico ao dizer que o julgamento do mensalão significou a consolidação da
democracia.
- A Carta de 1988 foi consagrada no julgamento da Ação Penal 470. A
Constituição vinha sendo progressivamente assentada nas instituições, nas
mentalidades e na cultura política. Esses três meses foram um seminário público
que desnudou os mecanismos perversos. As referências à Constituição foram muito
poderosas, especialmente no que diz respeito à vida republicana. Esse fato, de
os controles republicanos terem sido fortes o suficiente para limitar o poder
do Executivo, é inédito na nossa Historia - defendeu o pesquisador.
Para Vianna, as decisões no julgamento também foram o "batismo de
fogo" da Lei da Ficha Limpa, e o Ministério Público saiu fortalecido, sem
que outras instituições fossem ameaçadas. Por isso, de acordo com ele, é
natural que os réus e o próprio PT protestem.
- As pessoas podem protestar, mas não podem interromper o jogo. Vão
interromper o jogo com quem? Com os militares? Os militares estão em outra, e
mesmo os sindicatos estão fragmentados - afirmou.
O sociólogo fez questão de ressaltar que, apesar de ser difícil de medir no
momento, o efeito do julgamento foi pequeno nas eleições municipais. Para ele, o
PT sai não só fortalecido das eleições, como deixa visível uma renovação
partidária, com quadros distantes dos réus condenados:
- Olhando o dado bruto, o PT cresceu. São Paulo é um termômetro importante.
Lula está introduzindo mudanças importantes ao elevar o Haddad e não os quadros
que estão na raiz da Ação Penal 470. Esses estão deslocados. E, nos detendo em
outro aspecto, a Dilma manteve-se numa posição de observação em relação ao
julgamento.
Luiz Werneck Vianna também fez apostas para o cenário eleitoral de 2014. O
sociólogo acredita, como outros pesquisadores, que ficou evidente na eleição
municipal deste ano que há uma renovação geral da política brasileira em curso.
O PSDB, por exemplo, poderá ter no senador Aécio Neves um candidato com forte
potencial.
- A oposição vai ter um candidato (Aécio) com uma plataforma forte de
lançamento, que é o estado de Minas, que tem radiação em São Paulo. Se tudo
permanecer constante, ele concorrerá para perder em 2014, mas marcará posição e
vai ganhar em 2018 - analisou o sociólogo, ao dizer que o cenário pode mudar se
a economia "desandar".
Vianna acredita que as grandes incógnitas da próxima eleição presidencial
são a posição a ser tomada pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB),
e qual será o candidato da situação.
- O enigma real é quem será o candidato da situação: Lula ou Dilma? O
Eduardo Campos tem muitas dificuldades do ponto de vista do futuro. Se ele não
sair candidato à Presidência ou não vier como vice da Dilma, vai ficar sem
posições fortes. Ele poderia se candidatar em 2014, impedindo que Aécio se
credencie para 2018. Imagino que esse seja o jogo infernal que passa pela
cabeça dele.
Fonte: O Globo
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