Observado o sagrado direito ao esperneio, há que se considerar a lógica na
análise da anunciada reação que estaria sendo preparada por PT e adjacências
contra as condenações de José Dirceu e José Genoino, logo após as eleições.
De um lado existe o desejo, justo na perspectiva de quem o manifesta, de
buscar algum tipo de saída menos desonrosa para se confrontar com a dura
possibilidade da condenação de dois símbolos do partido à prisão por corrupção
e formação de quadrilha.
Nesse cenário o PT já nem seria mais igual aos outros partidos, mas o único
a ter dirigentes na cadeia. Compreende-se, portanto, a aflição, pois não se
trata de mera derrota eleitoral, mas da perda da liberdade e do nivelamento ao
patamar de criminosos comuns.
É dolorido, embora decorrência inexorável dos atos julgados pelo Supremo
Tribunal Federal.
De outro lado estão as condições objetivas para a eficácia dessas reações.
Não parecem favoráveis. Nos últimos anos não foram poucas, não obstantes
frustradas, as tentativas de transformar o mensalão em obra de ficção escrita
pelos inimigos.
Se o PT não conseguiu "desmontar a farsa" antes nem durante o
julgamento, muito menos agora terá capacidade de desmentir a palavra final da
Justiça.
Não há manifesto que contradiga a fundamentação das sentenças, não há
esforço de retórica que dê aos condenados o status de presos políticos, não há
injúria que abale a credibilidade do Supremo. Não há ativismo que mobilize
multidões em defesa dos presos, não há indignação capaz de obscurecer a
indignidade cometida no uso partidário do patrimônio coletivo.
Não há, enfim, objetivamente o que fazer. E por isso acabará prevalecendo o
discurso do "cumprimento democrático" da decisão. Apenas e tão
somente porque não existe opção.
Antes tarde. O rigor do tratamento dado a Marcos Valério, seja pelo papel de
protagonista na dita "organização criminosa", seja pelo volume das
penas, ultrapassa em muito o esperado pelo empresário quando colaborou de
maneira comedida com a Justiça na fase de instrução do processo.
Como ainda enfrenta várias ações em primeira instância, há quem veja
interesse em colaborar mais ativamente de forma a se beneficiar do instituto da
delação premiada. Recurso que, para ser concedido, precisa se mostrar
comprovadamente eficaz.
Enquanto o cenário era de dúvida, Valério jogou com ameaças veladas. Agora a
certeza do duro destino extingue as razões da dubiedade.
Crime e castigo. O publicitário Cristiano Paz, ex-sócio de Marcos Valério e
condenado por peculato, corrupção ativa e lavagem de dinheiro, escreveu um
longo depoimento para o jornal Correio Braziliense.
Perplexo com o desfecho do caso, diz algo importante para a compreensão
desse tipo de episódio: "Sou um criador publicitário que não soube
enxergar os riscos".
Quais riscos? Pelo que se depreende do relato, não percebeu o perigo de
embarcar em operações financeiras nebulosas, de fazer crescer a agência de
publicidade mediante aproximação com o partido do poder como "uma porta
certa" para campanhas eleitorais, de não pesar nem medir consequências a
despeito dos sinais de que havia algo de profundamente errado nas negociações
de sua empresa com o PT.
E por que não enxergou os riscos? Porque a tradição de condescendência no
trato de crimes contra a administração pública dispensava a análise prévia do
custo-benefício.
Ao conferir tratamento mais igualitário a esse tipo de ilícito, o Supremo
introduz o fator de equilíbrio entre perdas e ganhos na decisão da freguesia
interessada em se locupletar naquele conhecido balcão.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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