Mudança de postura após eleições ameaça jornalismo, diz editor do
"Post"
Gilberto Scofield Jr.
SÃO PAULO - Até ontem presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa
(SIP), Milton Coleman, vice-editor-executivo do jornal "The Washington
Post", afirmou que a liberdade de expressão no continente americano
avançou, mas vem sendo cada vez mais cerceada por governos eleitos
democraticamente que depois alteram as leis para calar a oposição e minar a
própria democracia, como ocorre em Argentina, Venezuela e Equador. O Brasil
possui liberdade de expressão e de imprensa, mas também tem seus problemas,
como a violência contra jornalistas.
O que dizem os relatórios produzidos pela SIP sobre a liberdade de expressão
e de imprensa nas Américas?
Num sentido geral, há diferentes níveis de progressos democráticos no
continente, e há países onde a situação se deteriorou. Não se pode comparar a
situação no Brasil, por exemplo, com o que acontece no Equador, onde a situação
da liberdade de imprensa e de expressão piorou. Ali, o desafio para os
jornalistas é ficar vivo. Na Venezuela, não se aceitam críticas ao regime, e a
imprensa é desmoralizada. Ali, o desafio é garantir a liberdade de expressão.
Há governos democraticamente eleitos que usam instrumentos para minar a
democracia tolhendo a liberdade de expressão, como Argentina, Venezuela e
Equador. Isso é feito na forma de mudanças legais para sufocar as empresas
jornalísticas ou seus profissionais. Ou mudanças fiscais para sufocar as
empresas financeiramente.
Onde fica o Brasil nessa análise?
É a primeira vez que venho ao Brasil. O país tem uma imprensa livre e de
qualidade, mas também tem problemas. No ano passado, por exemplo, quatro
jornalistas brasileiros foram mortos, e o público precisa estar atento a isso.
E há os países onde, apesar dos progressos, a situação se deteriorou.
Como por exemplo...
O México é um exemplo claro, com a escalada da violência ligada ao
narcotráfico. O país federalizou os crimes contra jornalistas, de modo que se
investiguem os casos apropriadamente, mas os assassinatos aumentam porque a
violência cresceu.
O sistema interamericano, em especial o Comitê Interamericano de Direitos
Humanos, corre risco? Por quê?
O sistema está em risco porque é muito difícil manter a autonomia de um
organismo multilateral, como a OEA, a ONU ou a União Europeia, por exemplo. É difícil
porque nenhum país quer um organismo dizendo a ele o que fazer. Mas, se
fecharmos os olhos para os abusos cometidos no continente será como fechar os
olhos ao Holocausto, cuja dimensão e o horror só foram devidamente percebidos
ao fim da guerra. Com a desculpa de aumentar a transparência do sistema, muitos
países estão dispostos a enfraquecê-lo, estabelecendo limites para que não
sejam constrangidos.
Fonte: O Globo
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