Da mesma forma que se ausentou da 68ª Assembleia Geral da Sociedade
Interamericana de Imprensa (SIP), que representa os meios de comunicação nos quais
o PT quer intervir para controlar, a presidente Dilma Rousseff está sendo
pressionada por seu partido a também não comparecer à posse do ministro Joaquim
Barbosa na presidência do Supremo Tribunal Federal, no dia 22 de novembro. Se
aderir à ideia, Dilma fechará, por enquanto, o ciclo de retaliação imediata às
instituições que o Partido dos Trabalhadores considera inimigas, por
conveniência política do momento, uma vez que tanto uma como outra foram
consideradas pelo partido seus aliados de fé em outras épocas recentes.
As reações estão em discussão nas assembleias permanentes do partido e
decisões são tomadas na surdina para não afugentar os votos do segundo turno
das eleições municipais. Fechadas as urnas, porém, a guerra será mais explícita
e ficará consolidado um dos fundamentos da campanha do PT para a sucessão
presidencial de 2014.
Há muito o PT tenta estabelecer o controle da imprensa, já fez até uma
conferência e projeto dedicados ao assunto, dos quais nunca desistiu mesmo
quando não tinha o apoio que a presidente Dilma parece agora não mais lhe
negar. É uma obsessão partidária. Com o julgamento do mensalão, o STF foi
entronizado pelo PT no centro desse pelotão inimigo.
Não há e não haverá substitutos no comando do PT
Dias atrás, o presidente do Supremo, ministro Carlos Ayres Britto,
compareceu a uma exposição de Caravaggio, no Palácio do Planalto. Mesmo não
sendo penetra indesejável, mas o chefe de um Poder aceitando o convite formal
do chefe de outro Poder, foi hostilizado. A presidente trancou a cara, Ayres
Britto ficou ao lado do advogado-geral da União, Luís Adams, e logo saiu de
fininho. O constrangimento foi tamanho - o Palácio não providenciou o
cancelamento do convite antes do vexame - que o ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Gilberto Carvalho, aquiesceu em falar à imprensa para docemente
justificar o clima. Disse que estavam todos sofrendo muito, "aquilo do
outro lado da rua dói muito" (para não falar o nome do STF, agora para ele
maldito).
Ayres Britto dará lugar, dentro de um mês, a Joaquim Barbosa na presidência
do STF e o presidente da República sempre comparece às solenidades de troca de
comando do Poder Judiciário. Em mais de uma reunião o Partido dos Trabalhadores
debateu a questão e exigiu da presidente atitude drástica. Se de todo for
impossível deixar de ir à posse, até porque o vice presidente da chapa é o
considerado amigo Ricardo Lewandowski, pelo menos que novamente tranque a cara
para demonstrar seu profundo desprezo.
O PT quer colo eleitoral, político e jurídico, além de uma boa dose de falta
de educação, como se vê. E a presidente parece disposta a dar até porque está
jogando, neste segundo turno, uma pré-definição de sua candidatura à reeleição,
que pretende disputar mais fortalecida dentro do partido.
A cautela e a discrição exibidos nas campanhas petistas de primeiro turno já
cederam lugar ao liberou geral. Dilma fez reunião com um grupo grande de
ministros do partido na segunda-feira e pediu sua participação no segundo
turno. Ontem, Alexandre Padilha, da Saúde, gravou 29 mensagens. Hoje, será a
vez de Gilberto Carvalho, e na sequência virão os demais, entre os quais Marta
Suplicy, Gleisi Hoffmann, Miriam Belchior, Aloizio Mercadante. Os ministros de
outros partidos não se sentem mais vigiados como se sentiam no primeiro turno,
quando tinham que prestar contas de suas andanças pelos palanques. O
vice-presidente Michel Temer, do PMDB, se postará ao lado de Dilma,
especialmente em São Paulo. A presidente organiza sua presença nos palanques de
Manaus, Salvador e São Paulo.
Pacotes e medidas de governo que podem desagradar ao eleitorado ou servir de
munição aos adversários ficaram suspensos até o fim do segundo turno. A própria
Dilma rompeu limites.
Ontem, o Palácio do Planalto foi palco da campanha municipal. Com o governador
do Amazonas, Omar Aziz (PSD), a presidente Dilma anunciou investimentos do
governo federal na capital. O apelo eleitoral claro do evento ficou mais
evidente porque acompanhado de tentativa de explicação da ação como sendo de
governo, com garantias de que é investimento que não constará do discurso da
presidente no comício que fará, segunda-feira próxima, ao lado da candidata
apoiada pelo PT na disputa pela Prefeitura de Manaus.
Dilma está jogando sua próprio sorte ao fundir-se, neste fim de campanha municipal,
aos interesses do seu partido, sem dar muita bola ao que o ex-presidente Sarney
definiu como a liturgia do cargo.
O ex-presidente Lula está no comando da estratégia e, segundo as exegeses
políticas que o partido tem feito, seja quando trata das disputas municipais
contra seus adversários, seja quando discute reações às condenações do
mensalão, saindo derrotado no Supremo e ganhando ou perdendo nas cidades onde
se atirou para vencer, já foi decretado no PT que Lula é insubstituível no
comando do partido. Será ele o comandante das decisões a serem tomadas pelo PT.
Está mandando muito no PT e vai mandar mais ainda, apesar de uma ou outra
derrota eleitoral, em função do declínio de José Dirceu, de ter eleito Dilma
Rousseff, de ter deixado o governo com alta aprovação popular, de ter superado
uma doença como o câncer, enfim, por tudo que fortaleceu seu prestígio nos
últimos anos.
Lula já decidiu que Dilma é a candidata à reeleição em 2014, o partido não
terá outro nome. Mas o ex-presidente está dando seu aval sem se descuidar da
retaguarda. Vem acompanhando o desempenho de Dilma na economia, com lupa, por
meio de análises que encomenda. Se a economia não estiver dando respostas
satisfatórias e os índices de crescimento não jogarem a presidente para cima, o
candidato será ele mesmo, Lula. E não será do PT que vai esperar a eclosão do
movimento queremista. Lula será levado de volta ao trono presidencial por
empresários, sindicalistas, investidores, funcionários públicos, a direita, o
centro, todos, no cenário formulado pelo partido. Os eleitores irão buscar o
seu eleito, não o contrário.
Fonte: Valor Econômico
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