Geralmente, no último trimestre de cada ano, a opinião pública fica atenta
ao que os diferentes meios de comunicação destacam como as perspectivas
econômicas mais prováveis para o ano seguinte. Instituições e agentes
econômicos apresentam os seus prognósticos sobre as principais variáveis
macroeconômicas: a taxa de crescimento, a taxa de inflação, o nível de desemprego,
o balanço de pagamentos, etc. No atual contexto da economia brasileira,
trata-se de antecipar o futuro da crise que está nos envolvendo de maneira
inequívoca e inexorável.
Dispõe-se, atualmente, de um amplo conjunto de roteiros metodológicos alternativos
para a análise dos estados futuros de uma economia. Esses roteiros vão desde o
tratamento do futuro como extrapolação do comportamento recente das variáveis
econômicas até o tratamento do futuro como algo desconhecido ("cisnes
negros") que estaria além dos atuais níveis de conhecimento e da
experiência de analistas. Contudo, muito se aprendeu com as inúmeras crises
econômicas que se seguiram no pós-2.ª Guerra Mundial, desde a depressão
econômica de 1929.
Os roteiros metodológicos mais confiáveis apresentam os futuros a partir de
cenários. Cenários não são projeções, mas mapas de possibilidades e opções
particularmente úteis para contextos de rápidas mudanças e inflexões. Mal
elaborados, podem levar a sérios erros de planejamento e a graves consequências
sociais.
Muitas vezes, ao construir o cenário futuro de uma economia, as restrições e
condicionalidades, internas e externas, que a ela se impõem acabam por se
constituir num imperativo determinante de suas perspectivas imediatas e
mediatas. Os graus de liberdade para formular e implementar políticas públicas
se reduzem e "o que fazer" fica limitado apenas pelo "como
fazer".
Esta parece ser a situação atual dos ventos dominantes sobre a economia
brasileira: os limites do possível se encolheram. O governo federal dispõe de
limitado nível de controle sobre uma política fiscal anticíclica de defesa dos
níveis de emprego e de renda, por diversos motivos.
O seu nível de endividamento bruto cresceu muito, quando nele se incorpora o
endividamento público indireto por meio dos repasses do Tesouro ao BNDES e às
outras instituições financeiras federais. O grau de comprometimento e de
vinculação das receitas do governo federal é muito acentuado com as despesas de
pessoal e de custeio, com as políticas sociais compensatórias, com os serviços
da dívida, etc. Daí os investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento
(PAC) estarem quase todos empacados em seus cronogramas físicos e financeiros.
Finalmente, a capacidade de gestão e de implementação da máquina administrativa
do governo federal é precária, sitiada por processos de corrupção
administrativa e por interesses velados. Mesmo quando a queda na taxa de juros
dá um alívio nas despesas com os serviços da dívida, a avalanche das despesas
correntes ocupa de prontidão os espaços de novos investimentos em
infraestrutura econômica indiretamente produtivos.
Por outro lado, as restrições e condicionalidades do setor externo de nossa
economia têm assumido um caráter dramático nos últimos meses. A crise
internacional deixou de ser espacialmente localizada, para se tornar
interdependente e consanguínea, levando ao desalento a maioria das economias
nacionais, sem respeitar o seu padrão de estabilidade ou suas potencialidades
de crescimento. Crises globais são mais dramáticas em termos de duração,
amplitude e volatilidade do que os ciclos de negócios típicos do período
pós-2.ª Guerra Mundial, tanto nas economias avançadas quanto nas economias
emergentes. E crises bancárias internacionais muitas vezes resultam em ondas de
moratórias nacionais poucos anos mais tarde.
Neste contexto, não seria exagero sugerir que o lustro que se estende até
2015 poderá ser de traumático baixo crescimento para a economia brasileira,
contendo espasmos ocasionais de expansão de curta duração seguidos de
instabilidades regressivas.
Professor do IBMEC/MG, foi ministro do Planejamento, da Fazenda no governo Itamar
Franco
Fonte: O Estado de S. Paulo
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