A agenda doméstica monopoliza as energias dos países, deixando pouco espaço
para os grandes problemas que dependem da cooperação internacional.
Em nenhum outro lugar o fenômeno é tão dramático como na Europa. Lá, a crise
estressou tanto o tecido social e político que suscita dúvida sobre o futuro do
euro e a sobrevivência da unificação europeia.
O pior da crise parece ter passado nos EUA. Mesmo assim, o gigantesco
desafio de reduzir a dívida e o deficit em meio a impasse político assegura que
o segundo mandato de Barack Obama continuará dominado pelas questões internas.
O estrago da crise e os cortes no Pentágono tornariam um suicídio voltar a
subordinar a agenda interna a guerras como as do Iraque e do Afeganistão.
Por motivo distinto, a China terá de se voltar para dentro a fim de não
comprometer a transição da equipe dirigente e o redirecionamento da economia
para o consumo interno em lugar das exportações. Para onde quer que se olhe
-Japão, Índia, Rússia- o panorama é o mesmo.
A consequência inevitável é que não sobra excedente de atenção política ou
de recursos humanos e materiais para os temas internacionais.
Desses o que melhor se espera é que aguardem ocasião favorável, abstendo-se
de criar encrenca no momento errado. Como acaba de suceder com o bombardeio da
faixa de Gaza, lembrando que a qualquer instante, um erro de cálculo ou uma
reação excessiva podem embaralhar as prioridades racionais.
A ameaça de ataque ao Irã devido ao programa nuclear, a guerra sempre
latente entre Israel e os palestinos, a convulsão na Síria, o complexo
Afeganistão-Paquistão, as rivalidades entre a China e vizinhos sobre ilhas e
águas do Mar do Sul da China, são apenas alguns dos focos de infecção crônica
na fila dos desafios que esperam por iniciativas de solução diplomática.
Decididamente os tempos não são propícios à diplomacia. Parece difícil
imaginar que Obama repita agora as ambiciosas iniciativas de quatro anos atrás.
No começo de seu governo, nomeou emissários especiais, Richard Holbrooke para o
Paquistão-Afeganistão e George Mitchell para Israel-Palestina. O primeiro
morreu, o segundo desistiu. A anunciada intenção de Hillary Clinton de deixar a
Secretaria de Estado talvez reflita a baixa prioridade da política externa.
Não é diferente no Brasil, onde a frustração do crescimento dois anos
seguidos e o fim do triunfalismo de 2010 obrigam a cuidar de uma economia que
pode inviabilizar a continuação do projeto de inclusão social. Nem na América
Latina, em que a trégua declarada pelas Farc sinaliza o esgotamento das
guerrilhas e a pacificação entre Colômbia e Venezuela remove o último foco de
tensão entre países.
Tudo estaria bem se não fosse a falta de atenção aos megaproblemas: a
reforma financeira para evitar a repetição das crises e a mãe de todas as
ameaças -o aquecimento global acelerado.
A economia talvez possa esperar. O que não pode é o clima que, se aumentar
quatro graus como prevê o Banco Mundial, porá fim a todos os problemas pelo
método mais drástico: o do apocalipse.
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário