É digna de nota a reação do governo à operação policial que desbaratou uma
rede de corrupção em órgãos federais e identificou a chefe de gabinete de Dilma
Rousseff em São Paulo como facilitadora e beneficiária das fraudes.
O Planalto rapidamente cuidou de espalhar que a presidente ficou aborrecida
com as irregularidades e especialmente com o comportamento de Rosemary Noronha.
Que a chefe de gabinete tinha relações próximas com Lula e José Dirceu, mas não
com Dilma e assessores, que a consideravam "problemática". Que Dilma
quase nunca utiliza o escritório da Presidência em São Paulo.
Não se explicou, claro, por que então a presidente manteve Rosemary no cargo
por dois anos e permitiu que os cúmplices dela dirigissem e dilapidassem as
agências reguladoras. Nada se falou, também, sobre Dilma ter transformado o
gabinete paulistano no bunker de onde avaliou as eleições municipais na
companhia de Lula e de cardeais do PT.
A verdade é que a presidente opera, ao sabor das conveniências do momento,
os botões da semelhança e da diferença com Lula.
Quando pinta no noticiário algo desabonador que remeta à gestão anterior,
como o mensalão, ela faz questão de guardar distância. Quando a ocasião permite
ou exige, ela não hesita em festejar o padrinho e se associar às conquistas
sociais do período dele.
Assim, para toda crise há uma saída: na saúde, Dilma exalta o legado
lulista; na doença, avisa estar indignada e mete bronca na faxina.
Essa estratégia de ação e comunicação tem funcionado. Quem gosta de Lula se
sente representado. Quem não gosta, idem.
Por isso não surpreende que, pela primeira vez, o brasileiro se lembre mais
de Dilma do que de Lula para a sucessão de 2014. Ela foi mencionada
espontaneamente por 26% dos entrevistados pelo Ibope. Ele ficou com 19% das
preferências.
Fonte: Folha de S. Paulo
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