Pré-candidato pelo PSDB contra a reeleição da presidente Dilma Rousseff, o senador Aécio Neves fez ontem seus lances mais ousados até o momento. Para quem não acompanhou o seminário do PPS, vale lembrar que ele não só se apresentou como pré-candidato de oposição como anunciou que, no próximo dia 19, assumirá a presidência do PSDB. Tudo isso, entretanto, teve um único motivo: se posicionar antes que os outros pré-candidatos ganhem mais terreno do que ele, que sai de Minas Gerais com um caminhão de votos, mas precisa de aliados para conquistar uma vaga no segundo turno de 2014 contra a favorita Dilma.
Até o momento, Aécio se mantinha fechado em São Paulo, tentando conquistar o próprio partido. Se a pré-campanha presidencial fosse um videogame, poderíamos dizer que Aécio dedicou o primeiro trimestre inteiro apenas na fase um, ou seja, atrás do PSDB paulista. Ele ultrapassou essa fase ao garantir o apoio dos deputados estaduais e de grande parte dos prefeitos e vereadores ligados ao governador Geraldo Alckmin. Mas ainda assim deixou algumas valiosas moedas escaparem.
Uma moeda preciosa que ainda está à solta e que pode ser recuperada na fase dois é o palanque único de Geraldo. No momento, como já dissemos aqui, o governador de São Paulo negocia a candidatura a vice-governador com o PSB de Eduardo Campos. Fechado o acordo, Aécio e Eduardo estarão dividindo o mesmo palanque em São Paulo.
A outra moeda que lhe escorre é o ex-candidato José Serra. O colega tucano alegou um problema no ciático para não comparecer à abertura do seminário do PPS ontem. Promete passar por lá ainda hoje. Serra, entretanto, está cada vez mais isolado dentro do PSDB e, se sair do partido, dificilmente levará um grande contingente consigo. Ou seja, é preparado, inteligente, tem bons projetos, mas seu colchão político se mostra cada vez mais estreito. Para boa parte do PSDB, só o fato de Serra não conseguir levar muitos correligionários com ele se optar por sair do partido já é considerado bom para Aécio.
Enquanto isso, na próxima fase...
Com São Paulo equacionado, mas nem tanto, Aécio partiu ontem para tentar conquistar aliados. Começou na convenção do PP, pela manhã, no Auditório Petrônio Portela, no Senado. Embora o PP tenha recebido muito bem o pré-candidato tucano, a figura do novo presidente do partido sinaliza a vontade de seguir com Dilma Rousseff. Não há nada fechado ainda, mas vale lembrar que o novo presidente da legenda, Ciro Nogueira, é aliado do PT no Piauí, onde se elegeu senador. E, para completar, não deseja que a sigla fique longe do Ministério das Cidades.
O PP sente saudades de vários cargos que tinha no governo Lula. Nos bastidores, seus parlamentares lembravam com nostalgia ontem das secretarias no Ministério da Saúde, uma diretoria da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, no gasoduto Brasil-Bolívia, na Cia. Brasileira de Trens Urbanos, diretoria da Petrobras... Hoje, restou o Ministério das Cidades e, ainda assim, dividido com o PT. Hoje, é bem capaz que o PP vá pedir alguns desses cargos de volta para seguir com Dilma em 2014. E, se ela não ceder, o partido pode perfeitamente buscar outro rumo, se sentir viabilidade em algum outro projeto que não a reeleição da presidente. É esse rebote que Aécio pretende pegar.
E no PPS...
O mesmo não vale para conquistar o PPS. Ali, o discurso de Aécio foi no sentido de lembrar a unidade com o presidente Itamar Franco, eleito senador pelo PPS em Minas Gerais em parceria com o senador tucano. Não faltaram ainda lembranças dos tempos em que o presidente do PPS, Roberto Freire, então líder do governo Itamar, foi fundamental para aprovar o Plano Real no Congresso.
O gesto de carinho vem justamente num momento em que Freire começa a se aproximar do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, e a pensar em fusão com o PMN, abrindo as portas para José Serra. Em breve, Aécio fará algo semelhante para o DEM. A ordem agora, nessa fase, é conquistar aliados antes que Eduardo Campos o faça ou que Serra encontre algum fôlego para correr por fora do PSDB. Ontem, por exemplo, o PSB esteve no evento do PPS representado pelo líder do partido na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS), que também deu o recado, ao dizer que o melhor é ter um projeto para, depois, ver quem será melhor para representar esse projeto enquanto candidato.
O apoio do PPS e do DEM são moedas que Aécio pretende levar para a fase três contra o PT de Dilma. A ideia é fechar a oposição, para depois percorrer a base governista. Ainda tem muito jogo pela frente.
Fonte: Correio Braziliense
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