O ciclo de desaperto monetário do governo Dilma produziu, desde agosto de 2011, uma baixa nos juros básicos de 5,25 pontos porcentuais ao ano, de 12,50% para 7,25% ao ano, mas não conseguiu nem empurrar o PIB nem conter a inflação.
Em outras palavras, essa política monetária relativamente mais frouxa não se mostrou compatível com um quadro geral que inclui (1) uma política fiscal (gastos do governo federal) também frouxa, que, somente em desonerações tributárias, perderá R$ 70 bilhões neste ano; (2) um mercado de trabalho excessivamente aquecido, que puxa os reajustes salariais e, portanto, os custos das empresas, para acima do aumento da produtividade do trabalho; e (3) a pouco mudada propensão da economia a corrigir todos os preços pela inflação passada (realimentação da inflação).
Mais do que isso, a tolerância com que o governo Dilma e o Banco Central trataram até aqui a inflação acirrou os desequilíbrios e as distorções da economia. O outro preço importante do dinheiro, o da moeda estrangeira, por exemplo, também está sendo corroído pela inflação. E o que conta, a gente sabe, não é o câmbio nominal; é, sim, o câmbio real (descontada a inflação).
O Banco Central perdeu credibilidade nos últimos 18 meses e já não se mostra capaz de conduzir, como antes, as expectativas dos marcadores de preços – o que é limitação grave quando o sistema em vigor é o de metas de inflação. Não é verdade que a última palavra sobre juros é dada pelo Banco Central, como vem sendo dito reiteradas vezes por algumas autoridades. Não foi assim até aqui. Até certos desmentidos do Banco Central são feitos por encomenda superior. As projeções sobre a evolução do IPCA têm sido comunicadas "por baixo", como se o Banco Central não se dispusesse a ver as coisas com as formas e as cores que realmente têm. Ou então, como se não se dispusesse a repassar à sociedade e às forças do mercado as formas e as cores que de fato vê.
Parece claro que o impacto da inflação ganhou decisiva dimensão política, especialmente quando se leva em conta que o governo Dilma será tanto mais cobrado quanto mais se aproximarem as eleições de 2014.
De todo modo, essa nova dimensão política da inflação pode ser a chave da mudança da postura do Banco Central. Até agora, limitou-se a comunicar certo desconforto com a alta de preços e a manter uma atitude de cautela em relação a ela.
A partir do que pode ser aferido a partir dos comunicados do Banco Central, os planos eram de não mexer nos juros no dia 16 (próxima reunião do Copom) e deixar para agir, se fosse o caso, só dia 29 de maio. Mas, dada a cobrança da sociedade, fica difícil não acionar o contra-ataque já em abril. De mais a mais, se é para soltar a corda da guilhotina, por que não agora? Se não por outra razão, pelo menos para obter um resultado mais rápido...
É bom ter em conta que, mesmo se vier essa pancada nos juros, as causas da inflação não estarão sendo atacadas. O melhor que o governo poderia fazer seria puxar o breque nas contas públicas, sem medo de derrubar ainda mais o PIB, e concentrar os esforços nos investimentos em infraestrutura.
Assim foi a evolução das vendas do comércio varejista entre agosto de 2012 e fevereiro deste ano.
Consequências. A queda das vendas do varejo em fevereiro, de 0,4% em relação às do mês anterior, ainda não pode ser tomada como virada da tendência do consumo. Mas sugere que a inflação começa a corroer o poder aquisitivo. De um lado, esse efeito tenderá a provocar uma atitude mais conservadora do consumidor. De outro, o encurtamento do orçamento tende a reduzir a capacidade de endividamento e a puxar a inadimplência.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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