domingo, 7 de julho de 2013

A mola do poço - Dora Kramer

No meio do bate cabeça geral do governo, o marqueteiro João Santana deu um aviso aos navegantes do Planalto e adjacências: fiquem tranquilos; a crise é passageira, daqui a pouco a presidente Dilma Rousseff recupera a popularidade e tem tudo para ganhar a eleição de 2014 no primeiro turno.

Hoje soa como aquela piada do otimista que cai do prédio de 20 andares e, ao passar pelo 10.°, comunica: "Até aqui tudo bem". Mas pode ser que dentro de alguns meses (ele aposta em quatro) fique demonstrado que Santana tinha razão.

A esperança do governo tem colmo referência a recuperação do então presidente Luiz Inácio da Silva, que foi às cordas com o caso do mensalão e não só foi reeleito como ficou ainda mais forte saindo do governo com 83% de aprovação depois de ter caído ao patamar de 30% no auge do escândalo.

É possível repetir o feito? Na política dizem que o fundo do poço tem mola. Portanto, possibilidade existe. A questão são as probabilidades e o resultado do embate entre os prós e os contras.

As situações são inteiramente diferentes, a começar pelo estilo de cada um (ele ardiloso, ela imperativa) e das habilidades das equipes que os cercam. Para se recuperar o pré-requisito essencial é Dilma melhorar o desempenho do time dela, até agora sofrível conforme se atesta, pela .profusão de trapalhadas.

Mas isso, em tese, se corrige. No início da campanha de 2010 a então candidata cometeu uma série de desatinos e depois se acertou. Tempo, instrumentos de poder e disposição de "fazer o diabo" para ganhar a eleição o governo tem.

Deu sorte de a crise eclodir 15 meses antes da eleição, mas tudo depende do que acontecerá daqui até lá. Lula foi bem porque a desculpa esfarrapada do caixa dois para tentar eliminar o caráter criminoso da compra de partidos encontrou ambiente fértil: oposição amedrontada, economia em céu de brigadeiro e Congresso apaziguado, para não dizer agàchado. Ademais, na época a população não havia entrado na conversa.

Hoje o que se tem? Acabou a apatia, a aceitação do prato feito. A economia sem horizonte de melhora com o governo refém da falta de margem de manobra e a população assombrada pela volta do fantasma da inflação.

O PT tentando conter internamente o clamor do "volta Lula" para não passar recibo do fracasso, o Congresso conflagrado pelo acúmulo de insatisfações que chegaram ao clímax por causa da tentativa de Dilma de transferir a ele a responsabilidade de debelar a crise com a história do plebiscito.

O mensalão já recebeu o atestado de crime e as execuções das penas dos condenados fazem parte das exigências dos manifestantes.

Resta em prol do governo a ausência de alternativas eleitorais consistentes. Ninguém até agora capitalizou o prejuízo de Dilma nas pesquisas, mas o jogo antes artificialmente antecipado ainda está para começar.

Sinuca. Além da força do hábito, da sensação de que os cargos lhes conferem a condição de cidadãos "diferenciados" diante do legal e do legítimo, autoridades usam aviões da FAB para fins recreativos também pela impossibilidade de entrarem num avião de carreira sem correr o risco de ouvir uns bons desaforos dos passageiros.

Correção. Na reunião ministerial de segunda-feira passada a presidente Dilma Rousseff não chamou o ministro da Aviação Civil de "burro" - como publicado aqui - quando ele fez reparos à política econômica.

Disse apenas que Moreira Franco não havia "entendido" as explicações do presidente do Banco Centrai, que havia detalhado a posição do ministro da Fazenda - que, aliás, nem traçara um cenário tão cor-de-rosa, conforme pediu para informar por intermédio da assessoria.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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