Aliados do governo já ensaiam outro caminho
Incerteza sobre cenário eleitoral trava negociações para aliança em 2014
Júnia Gama
BRASÍLIA - Partidos da base do governo Dilma Rousseff, que já relutavam em manter a aliança para 2014 devido a insatisfações com o tratamento que recebem do Planalto na gestão da petista, ensaiam uma debandada, após a abrupta queda na popularidade da presidente. No PMDB, os mais radicais já falam em migrar para a candidatura do tucano Aécio Neves (MG) ou do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). No PSD de Gilberto Kassab, a ideia é protelar a declaração de apoio até o ano que vem, quando o cenário eleitoral estiver mais claro.
A queda na popularidade de Dilma e os protestos nas ruas fizeram refluir as negociações sobre palanques eleitorais. A avaliação feita reservadamente por esses aliados é que não há clima agora, nem certeza sobre o cenário para avançar na costura das alianças.
A mudança de tom ficou clara na reunião da Executiva do PMDB, principal partido aliado, semana passada, quando foi divulgado uma nota com cobranças duras ao governo, inclusive com a proposta de redução do número de ministérios. Nos bastidores, o clima era pior. E a irritação começa a sobrar também para o vice-presidente Michel Temer, que tem se mostrado publicamente fiel a Dilma e continua barrando as candidaturas próprias do partido nos estados, mantendo em aberto as negociações com o PT.
- Se muita gente no partido já resistia em dar continuidade a essa aliança em que o PMDB é desrespeitado, com essa pesquisa de popularidade, a chance de partir para outra candidatura, com a do Aécio, é grande. Dilma fez um governo com postura irredutível, mesmo sabendo que precisaria do apoio para a reeleição. Imagine em um segundo governo, em que ela não precisará mais dos partidos para nova eleição - disse influente deputado do partido.
Um senador, também do time de frente do PMDB, diz que seu partido está hoje mais inclinado a migrar para o apoio ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), caso as pesquisas continuem mostrando queda de Dilma:
- O Aécio não empolga muito, nem no PSDB ele tem unanimidade. Se o Eduardo Campos tivesse o mesmo nível de voto que Aécio tem hoje, acredito que haveria uma grande debandada no PMDB.
PSD só decidirá ano que vem
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), ao ouvir de colegas avaliações desse tipo, tenta amenizar, mas não foge da realidade:
- Não vamos faltar quando o país está precisando de nós, mas não peça nunca para um político ir para o suicídio, porque ninguém vai.
Crítico da aliança com o PT, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) lembra que não há identidade entre os partidos da base, só interesses mútuos:
- Com essa coisa da popularidade virando, tudo pode mudar, porque não existe uma identidade construída nessas alianças. A relação não é em torno de projetos, é em torno de questões paroquiais.
No PSD, se o processo decisório já era lento, ficará mais. Parlamentares do partido lembram que o Ministério da Micro e Pequena Empresa, criado por Dilma para tentar trazer o PSD para o seio governista, não é do partido: Afif Domingos foi escolha da presidente. Logo, frisam, não há compromisso com a reeleição. Até agora, 14 dos 27 diretórios estaduais do PSD declararam-se favoráveis ao apoio à reeleição. Mas Kassab comprovou em Brasília esta semana que o distanciamento começou. Antes, ele chegara a afirmar que o PSD estaria com Dilma em 2014:
- O partido conversa com todo mundo, não está fechado para ninguém. A decisão só deverá sair no ano que vem.
Aécio, Marina e Campos investem em redes sociais
Pré-candidatos buscam análise de especialistas e pesquisas sobre ativistas
SÃO PAULO - Os protestos iniciados em junho levaram o PSDB a adiar o giro que o presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), faria pelo país. O partido cancelou agendas em São Paulo, Espírito Santo, Amazonas, Paraíba e Pernambuco, onde o tucano participaria da festa de São João de Caruaru, na companhia do governador Eduardo Campos (PSB).
Aécio tem conversado frequentemente com os economistas Armínio Fraga e Edmar Bacha; e na última segunda-feira, em encontro na capital paulista, foi aconselhado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso a aumentar a inserção do partido nas redes sociais. A proposta, que será discutida amanhã em reunião da Executiva Nacional do PSDB, é inserir as alas jovem, sindical e feminina da sigla nessas redes, na tentativa de arregimentar militantes virtuais.
- O Brasil é outro depois dessas manifestações, que paralisaram a campanha eleitoral antecipada. O placar foi zerado, o cenário político mudou e ninguém sabe qual será o resultado. O conselho nesse nevoeiro é pôr a barba de molho e levar o barco devagar - avaliou o presidente do PSDB mineiro, Marcus Pestana.
Conversas com ativistas
Na mesma linha, Eduardo Campos diminuiu o ritmo de viagens e, devido aos protestos, adiou em junho a viagem que faria a Bahrein, no Golfo Pérsico. Tem conversado com os prefeitos do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde os protestos começaram. Também vem recebendo pesquisas recentes sobre o perfil dos manifestantes e suas demandas.
Na tentativa de entender as manifestações, tem lido o novo livro do filósofo Marcos Nobre, "Choque de democracia - Razões da revolta", sobre os recentes protestos. E ainda contratou como assessor Silvio Meira, especialista em mídias sociais, que tem produzido relatórios sobre o papel das redes sociais nos protestos.
A maior beneficiada pela onda de protestos, segundo as pesquisas de intenção de voto, Marina Silva, que estrutura seu partido, a Rede, tem conversado com ativistas das redes sociais, muitos dos quais militaram em sua campanha. E tem analisado os protestos com o filósofo Renato Janine, o antropólogo Luiz Eduardo Soares e o economista Paulo Sandroni, entusiasta da proposta de Tarifa Zero, defendida pelo Movimento do Passe Livre.
- É necessário, com esses protestos, iniciar uma discussão de como aprofundar a democracia direta - disse o coordenador-executivo da Rede, Bazileu Margarido.
Fonte: O Globo
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