Há duas semanas, a presidente Dilma Rousseff não faz outra coisa que não seja tentar criar pontes. Reuniu governadores, prefeitos, líderes partidários, representantes de movimentos sociais, sindicalistas e até ministros que, se brincar, alguns ela só havia encontrado no dia em que deu posse aos sujeitos.
Em todos os eventos, sem exceção, um problema: a apresentação de um pacote pronto e pouco tempo para que ela pudesse ouvir. Em política, todo mundo gosta de se sentir partícipe. E Dilma não deu muito essa oportunidade às dezenas de interlocutores que recebeu esses dias. Quanto a governadores e prefeitos, o que interessava ali era a foto de apoio a uma constituinte exclusiva que não durou 24 horas. Depois, veio o tal do plebiscito, foco das reuniões seguintes, com os presidentes de partidos, sindicados e até ministros. Mas, em todos os encontros, pelo que se pode perceber em conversas reservadas, conta-se nos dedos aqueles que saíram se sentindo valorizados ou ouvidos, embora os encontros com presidentes da República sejam tradicionalmente para passar essa ideia.
Sem essa interatividade, o que fica são conversas sem um prosseguimento. Não por acaso, o plebiscito foi, aos poucos, perdendo fôlego a ponto de chegar moribundo na quinta-feira e ser quase que engavetado pelo vice-presidente da República, Michel Temer, para desgosto de Dilma. Embora seja lindo o povo opinar sobre vários temas e dizer que tipo de política deseja, há a questão dos prazos. Desrespeitar o prazo de um ano para valer nas eleições de 2014 pode ser um precedente grave. Afinal, não dá para esquecer que, como diz o ditado, onde passa boi, passa boiada. Portanto, tem que se começar respeitando as regras do jogo. Se não dá para valer para 2014, que se discuta para o futuro. Já será um avanço.
O problema é que essas respostas apenas para o futuro não interessam ao governo. Nos bastidores, Dilma e seus mais fiéis escudeiros sabem que no momento em que os deputados e senadores deixarem de discutir o plebiscito virá uma pauta bem amarga para o Poder Executivo, por exemplo, a penca de vetos pronta para sair da gaveta. E, se tomarmos por base tudo o que está para aparecer no Legislativo, a pauta do plebiscito serve hoje de tábua de salvação para escapar da agenda negativa que corre o risco de ser colocada na roda.
Enquanto isso, no Congresso…
A se tomar pelo que disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na reunião ministerial semana passada, não há mais espaço para novas desonerações de taxas e impostos do setor produtivo. Na reunião com coordenadores da bancada do PT na sexta-feira, a presidente fez apelos no sentido de ficarem atentos a fim de evitar a aprovação de projetos que ampliem gastos e derrubada de vetos presidenciais feitos para evitar novas despesas. Esses cuidados, para muitos do próprio PT, pode ser um sinal de que o governo está nos estertores em termos de ferramentas para conter os dissabores na economia. Ou seja, agora é mesmo torcer para que as medidas adotadas até aqui tenham efeito antes de chegada a hora de o povo votar para presidente mais uma vez.
Os apelos de Dilma dificilmente vão funcionar para outros partidos que não o PT. Afinal, como mencionado no início deste artigo, nenhum deles se sente parte integrante do governo, ou parceiro de um projeto a longo ou médio prazos. A partir desta semana, não será difícil, por exemplo, sair a CPI do BNDES, do Petróleo ou CPI do Eike, para apurar as nebulosas relações do Poder Público com o ex-megaempresário. O deputado Luiz Pitman é um dos que começa a reunir assinaturas para a CPI do BNDES. Ele está de saída do PMDB e agora integra a oposição.
E no PMDB…
Dilma não terá ainda todo o respaldo dos peemedebistas nesta luta para barrar novas despesas. Entre cumprir a pauta das ruas e atender a presidente, o partido de Temer e de Renan Calheiros segue firme no propósito de se mostrar antenado, apesar dos voos da FAB. Agora, os deputados brincam que se alguém na galeria levantar as mãos, são R$ 2 milhões a mais de gastos na conta do governo. Se cantar o Hino Nacional, o aumento da despesa governamental será ainda maior. Ou seja, a ampulheta se inverteu: se antes eles estavam ao lado de Dilma, agora, eles buscam é a sobrevivência.
E no Ginásio Nilson Nelson…
Por essa, nem ele esperava. O deputado Romário (PSB-RJ) estava lá, bem sentado e distraído acompanhando o jogo da Seleção de vôlei ontem em Brasília, quando, de repente, sua imagem aparece nos telões. Na hora, o público do ginásio inteiro aplaude e muitos ainda gritam “Romáriôo! Romáriôoo!”. Bem, não era um estádio, mas talvez sirva para deixar dúvidas a respeito da máxima de Nelson Rodrigues de que nos estádios se vaia até minuto de silêncio.
Dilma busca a tudo e a todos para tentar salvar o plebiscito porque, no momento em que os parlamentares deixarem de discutir esse tema, virá uma pauta bem amarga para o Poder Executivo dentro do Congresso
Fonte: Correio Braziliense
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