Queda da popularidade de Dilma e descontentamento popular recolocam tucano e Marina na disputa pelo Planalto
Maria Lima
BRASÍLIA - O tsunami das ruas, em três semanas, desarrumou cenários que pareciam se consolidar e recoloca na disputa de 2014 antigos atores. Enquanto a parceria PT e PMDB derrete com um saldo imprevisível para o governo, PSDB corre para não perder espaço para Marina Silva (Rede), a grande beneficiária do movimento antipartido das ruas. Mesmo não perdendo pontos nas pesquisas de opinião e até crescendo um pouco, o presidente do partido e pré-candidato à sucessão presidencial, senador Aécio Neves (MG), tem que administrar incertezas e dúvidas deixadas no ar pelo ex-ministro José Serra, que volta a se movimentar em função das quedas expressivas da antes superfavorita presidente Dilma Rousseff.
- Fomos todos superados e agora tudo recomeça do zero. Não tem mais favoritismo de Dilma, e o PSDB, que perdeu a sintonia com as ruas, está desafiado a correr atrás - avalia o ex-presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).
Serra não se conforma por ter perdido por uma margem muito pequena para Dilma em 2010, numa situação confortável da economia brasileira. Considera que agora, com tudo desarrumado, finalmente conseguiria chegar ao Planalto. Em entrevista ao GLOBO na semana passada, o tucano disse que disputará um cargo, mas não sabe qual.
O presidenciável Aécio Neves, que começa a crescer nas pesquisas - ainda que dentro da margem de erro, subiu três pontos na pesquisa Datafolha (de 14% para 17% das intenções de voto), procura não alimentar as intrigas com Serra:
- O candidato do PSDB vai ser quem tiver mais chances de ganhar. O Serra no front é uma preocupação maior para o governo do que para nós - diz Aécio.
Mas a insistência do ex-ministro, que começa a ser incluído em pesquisas de intenções de voto, provoca mal-estar nas hostes aecistas. Sérgio Guerra não poupou críticas ao colega paulista nos últimos dias.
- Serra candidato do PSDB em 2014 é conversa de gente caduca! Quando disputou, era um ex-ministro da Saúde conceituado. Mas jogou isso tudo fora. Ficou uma pessoa voluntarista e egoísta, que só conjuga o verbo no singular: eu, eu, eu!
Com as incertezas do momento, o pré-candidato tucano Aécio Neves suspendeu, por enquanto, a agenda de viagens que faria pelo país, para se tornar mais conhecido. Dará prioridade à sua agenda e atuação de senador, usando a tribuna do Senado, dia sim e outro também, para atacar as deficiências do governo petista e cobrar providências da presidente Dilma.
Tucanos agora querem investir em agenda verde
Crescimento de Marina faz PSDB se preocupar mais com tema ambiental
Enquanto no campo governista, o vice-presidente Michel Temer tenta se equilibrar na difícil relação do seu partido com o PT, tanto o senador tucano Aécio Neves quanto o governador Eduardo Campos (PE) se preparam para capitalizar esse racha. No PSDB, lideranças expressivas já avaliam que a presidente Dilma não terá fôlego para disputar a reeleição, mas também não acreditam na volta de Lula para pegar um país com economia e política em frangalhos, jogando fora seu capital.
- Se antes o PSB já era procurado por todo mundo, agora isso vai aumentar muito. Estamos preparados para conversar - diz Campos a interlocutores.
- O PMDB já está começando a pular fora nos estados. Um quadro que há oito meses achávamos que seria de extrema dificuldade, irreversível até, hoje está em aberto. PMDB, PDT e outros partidos da base estão soltos - avalia Aécio.
Marina, que antes dos protestos integrava uma dobradinha com Aécio e Campos para levar a eleição presidencial de 2014 para o segundo turno, começa a se desgarrar, assumindo, nas pesquisas, o segundo lugar consolidado, com chances de ir para o segundo turno. Para enfrentar esse embate, o PSDB está criando um braço verde, com maior visibilidade. O ex-candidato do partido à prefeitura de Recife, Daniel Coelho, foi designado para criar redes de consulta junto à sociedade, aos acadêmicos e aos estudiosos da área ambiental que renderão um programa e uma bandeira verde para o partido.
- Marina não é um bicho papão para o PSDB. Como oriunda do PT, é natural que receba parte dos votos perdidos pela presidente - avalia Coelho.
- Está tudo em aberto. É um quadro volátil que vai mudar ainda umas dez vezes - diz, cauteloso, o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), aliado de Marina.
Fonte: O Globo
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