Presidente administra crise com PMDB; Planalto já conta com saída do PSB e PSC da base no Congresso
No momento em que a presidente Dilma Rousseff amarga queda de popularidade após a série de manifestações no País, partidos da base ameaçam desembarcar da aliança, em ano pré-eleitoral. Eleita em 2010 por uma chapa de dez partidos, Dilma conseguiu mais adesões e formou a maior base de apoio no Congresso desde a Constituinte. Agora, a aliança para o próximo pleito - essencial por causa da divisão da propaganda de TV - já tinha duas sinalizações de baixa antes da atual crise: PSB e PSC devem ter candidaturas próprias, com o governador Eduardo Campos (PE) e com o pastor Everaldo Pereira, respectivamente. Outros partidos podem seguir o mesmo caminho, como PP, PSD e PR. Mas a maior preocupação é com 0 PMDB, parceiro que indicou o vice Michel Temer. A desarticulação ao apresentar a proposta do plebiscito - sem discussão com a base - desestabilizou a relação com o Congresso e expôs dificuldade no relacionamento com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Eduardo Alves (RN), ambos do PMDB.
Dona da maior coalizão desde 1988, Dilma vê risco de desmanche no ano pré-eleitoral
Eduardo Bresciani, Daiene Cardoso
BRASÍLIA - Partidos da base de sustentação do governo ameaçam desmanchar a aliança em tomo da candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. A sinalização ocorre no momento em que a petísta quer consultar a população sobre mudanças no sistema político e amarga queda. acentuada de popularidade após a série de manifestações pelo País.
Eleita em 2010 por uma chapa de dez partidos, Dilma conseguiu mais adesões e formou a maior base de apoio no Congresso desde a Constituinte. Manteve índices recordes de popularidade, superando até seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. Até que junho chegou.
A aliança para o próximo pleito - essencial por causa da divisão da propaganda eleitoral de TV -já tinha duas sinalizações claras de baixa antes mesmo da atual crise: PSB e PSC devem ter candidaturas próprias, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e com o pastor Everaldo Pereira, respectivamente. A perda do PSB reduz a presença de Dilma no Nordeste, onde a legenda tem boa representação. A saída do PSC reduz a influência de Dilma entre o eleitorado evangélico.
Agora, outros partidos da base podem seguir o mesmo caminho, como é o caso de PP, PSD e PR. Mas a maior preocupação hoje é com o mal-estar cada vez maior com o PMDB, justamente o maior parceiro na aliança e que indicou o vice Michel Temer na chapa vitoriosa de 2010.
A desarticulação política na apresentação da proposta do plebiscito - sem discussão prévia com a base - desestabilizou a relação com o Congresso. Expôs, principalmente, a dificuldade no relacionamento do Palácio do Planalto com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), ambos do PMDB.
Dirigentes do partido acham que a presidente procurou jogar a responsabilidade da "crise de representatividade que ecoou das manifestações" no colo do Congresso ao propor o plebiscito.
Histórico. Apesar da base inchada, a relação da presidente com o Congresso sempre foi complicada. A alta, popularidade do governo era a explicação usada dentro do Senado e da Câmara para a manutenção da coalizão, apesar das queixas constantes sobre a articulação política, a ocupação de espaços na administração e a liberação das emendas parlamentares pelo Executivo.
Com a diluição do índice de aprovação, que segundo pesquisa do Datafolha caiu quase à metade em junho, o fator de solidificação da base começou a se dissolver. Pior: o último levantamento do instituto já aponta a possibilidade real de segundo turno em 2014. Nesse caso, o confronto hoje seria entre Dilma e a ex-senadora Marina Silva (AC), que ainda precisa viabilizar a legalização de seu partido, a Rede.
Eduardo Campos e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) são os possíveis beneficiários dessa possível debandada. Os dois buscam provocar fissuras na base de forma a cristalizar suas candidaturas, ampliando a expectativa de poder. Nas contas de aliados do governador de Pernambuco, o PT teria garantido o apoio de apenas dois partidos, PC do B e PDT.
No caso do PDT, há rachas internos e parlamentares que defendem também o deslocamento do governo. A avaliação do presidente da sigla, Carlos Lupi, segundo relatos de congressistas, é que a crise será passageira e um apoio a Dilma reafirmado neste momento pode significar um melhor tratamento futuro. O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) acredita em reação dos índices do governo e não se surpreende com as ameaças de dissidências, "Não é uma aliança programática e ideológica", afirma Miro.
"Atônito". Tratado pelo PT como trunfo para as próximas eleições, o PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab é um dos que reavaliam sua posição. Apesar da maioria dos diretórios da sigla já ter se manifestado pelo apoio a Dilma em 2014, deputados próximos a Kassab reconhecem que a maré pode virar. "Hoje os Estados estão reavaliando (o apoio a Dilma), tenho certeza", afirma o deputado federal Guilherme Campos (SP). O parlamentar ainda acredita em uma aliança com o PT, mas relatou que o PSD está "atônito" com as últimas manifestações.
No PR também há dúvidas. Demitido do ministério dos Transportes no processo da faxina, o senador Alfredo Nascimento (AM) comanda o partido junto com o secretário-geral, deputado Valdemar Costa Neto (SP), condenado no processo do mensalão. Integrantes da cúpula afirmam que a recente nomeação de César Borges para o Ministério dos Transportes está longe de garantir o apoio da legenda em 2014.
O PTB e o PP já não constaram oficialmente da aliança na eleição anterior e a tendência é de que novamente fiquem de fora. Dessa vez, porém,podem embarcar em candidaturas alternativa. O PTB teria mais pontes com Campos, enquanto no PP a proximidade maior é com Aécio.
Alguns governistas dizem nos bastidores que uma eventual candidatura de Lula em 2014 ajudaria a manter a coalizão unida. Publicamente, porém, tanto o ex-presidente quanto os dirigentes do PT afirmam que Dilma é a candidata do partido e não há qualquer possibilidade de mudança de rumo até o ano que vem.
Para o marqueteiro do PT, João Santana, responsável pela campanha vitoriosa de Dilma em 2010, a presidente deve recuperar a popularidade nos próximos meses. Enquanto isso, o Planalto tenta colocar panos quentes na crise em conversas pontuais com líderes do Congresso.
Isso porque, além do perigo de perder apoio eleitoral, tanto a Câmara quanto o Senado podem aprovar projetos dispendiosos aos cofres do País, que enfrenta baixos índices de crescimento e convive, nos últimos meses, com o perigo da volta da inflação alta.
Queda de popularidade tem reflexo nas alianças estaduais
Além das ameaças no quadro nacional, a queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff tende a consolidar uma divisão ainda maior"entre os aliados também nas eleições estaduais. Nos principais colégios eleitorais começa a se desenhar um cenário de multiplicidade de candidaturas da base aliada.
Em São Paulo, o PT tenta definir seu candidato entre os ministros Alexandre Padilha (Saúde), José Eduardo Cardozo (Justiça), Aloizio Mercadante (Educa" cão) e o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho. O PMDB entende como cada vez mais concreta a candidatura de Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), enquanto o presidente nacional do PSD, o ex-prefeito Gilberto Kassab, já anunciou o desejo de concorrer.
No Rio de Janeiro já é praticamente certo que PT e PMDB estarão em lados opostos. O senador petista Lindbergh Farias não abre mão da candidatura, enquanto o PMDB apostano vice Luiz Fernando Pezão para suceder ao governador Sérgio Cabral O líder do PR na Câmara, Anthony Garotinho (RJ), pode tentar voltar ao governo.
Em Minas Gerais, o Ministério da Agricultura, cedido ao deputado Antonio Andrade (PMDB), não é garantia de aliança do partido com Fernando Pimentel (PT), ministro do Desenvolvimento. Andrade se queixa da falta de espaço para as ações da pasta e seus aliados já buscam alternativas. Outro integrante da base atual que pode entrar na disputa e certamente fará campanha para a oposição é o prefeito de Belo Horizonte, Mareio Lacerda. Lacerda nega a intenção de disputar o governo de Minas, mas uma eventual candidatura sua abriria palanque para o correligionário pernambucano Eduardo Campos, presidenciável do PSB, e o senador Aécio Neves (PSDB) - atualmente seu principal aliado político.
Os problemas se repetem em outros redutos eleitorais como os de Pernambuco, Rio Grande do Sul, Bahia e Paraná - disputas nas quais dificilmente PT e PMDB estarão no mesmo palanque e aliados de outros partidos também se mostram interessados em concorrer. / E.B. e D.C.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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