Por Murillo Camarotto e Raquel Ulhôa
RECIFE e BRASÍLIA - Campos visita obras de hospital: "Nossa posição não é contra quem quer que seja; não é para destruir quem quer que seja"
Ao falar ontem sobre a aliança com a ex-senadora Marina Silva (PSB), o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), reforçou os pontos convergentes entre os dois e sinalizou que a chapa presidencial do PSB irá reivindicar parte do legado dos governos petistas. Campos reiterou a postura de independência do PSB em relação ao governo federal, mas evitou falar em oposição.
Ao ser questionado sobre as diferenças programáticas entre o PSB e o grupo recém-chegado do Rede Sustentabilidade, o pernambucano disse ver com normalidade as divergências, mas lembrou que tanto ele quanto Marina têm história no campo político de esquerda, mencionando o período em que os dois foram ministros no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Nós não queremos anular as nossas diferenças, queremos reforçar nossa identidade. Somos daqueles que acreditam que quem une as pessoas não são nomes. A força transformadora de unir corações e mentes é a força das ideias e quanto mais essas ideias preservarem as conquistas que já tivemos no passado", disse o pernambucano, em um sinal de que pretende cobrar seu quinhão no avanço social registrado nas últimas décadas.
Nessa linha, o governador se esquivou quando foi questionado se a chegada de Marina ao PSB poderia empurrar de vez o partido para a oposição ao governo federal. Ele preferiu dizer que a posição de independência ficou clara quando o PSB entregou os cargos na Esplanada dos Ministérios. Campos disse, no entanto, que a questão será debatida com o grupo recém-chegado.
"Nossas forças políticas não têm atitude de oposição por oposição e nem situação por situação. Pelo contrário, nosso grande interesse é ajudar o Brasil levando o debate que nosso pensamento representa. Vamos seguir fazendo essa discussão com os companheiros da Rede para ajudar o debate nacional. É isso que vamos fazer", limitou-se a dizer o governador.
Campos disse que tentou, sem sucesso, falar com o ex-presidente Lula no sábado, dia em foi anunciada a aliança com Marina. Ontem, a assessoria de Lula negou a informação de que o ex-presidente teria recebido a notícia da aliança como um "soco no fígado".
O governador também contemporizou quando perguntado sobre as possíveis reações petistas ao acordo com Marina. "Vamos viver a vida como ela é. Cada dia a gente vai enfrentando com tranquilidade, desejando que as pessoas entendam que nossa posição não é contra quem quer que seja; não é para destruir quem quer que seja", afirmou.
Apesar de ainda não admitir publicamente a candidatura presidencial, Campos já fala da montagem da chapa para as eleições de 2014. Ontem ele afirmou que o alinhamento de ideias entre Rede e PSB pode atrair outras forças políticas e ajudar na formação de uma plataforma sobre a qual seria montada a chapa.
Em Brasília, o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF), disse que Campos teria prometido à Marina não voltar atrás e que, portanto, o pleito presidencial é irreversível. O parlamentar rechaçou a possibilidade de haver pressão para Marina substituir Campos na cabeça da chapa, caso o desempenho do governador nas pesquisas não melhore. Isso porque Marina, de quem partiu a iniciativa de propor a aliança, até admitiu a possibilidade de ser candidata a vice, mas cobrou de Campos o compromisso de não recuar.
Ainda no Senado, o tucano Alvaro Dias (PR) admitiu que a aliança entre Marina e Campos enfraquece o projeto das oposições. Para ele, o "mais desejável" era um número maior de candidatos contra Dilma, para evitar uma vitória da presidente no primeiro turno. Dias disse que é preciso, agora, "colocar fermento" na candidatura do senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do seu partido.
Ainda nesta semana, o grupo de Marina vai trabalhar na formulação de uma série de propostas que serão apresentadas à direção do PSB, com vistas a serem incorporadas no programa de governo do partido. Campos volta a se reunir com Marina na quinta-feira, em São Paulo.
Fonte: Valor Econômico
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