Sábado foi dia de dar razão ao mineiro Magalhães Pinto, na sua comparação entre política e nuvem: ""Você olha e ela está de um jeito; olha de novo, e ela já mudou" Pois, para irritação de uns, alegria de outros e perplexidade de alguns, quando, no final de sexta-feira, tudo indicava que Marina Silva, sem poder criar sua Rede para tripulá-la como candidata à Presidência, estava emparedada, a nuvem mudou.
Foi como um inesperado drible de corpo: em vez de fazer como esperavam adversários petistas e, em nome da "pureza" política, resguardar-se para 2018 ou aderir a uma legenda de aluguel e ser acusada de praticar a política que tanto critica, Marina saiu por um outro lado.
Aliar-se ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a seu PSB significa para a ex-senadora uma saída “pela esquerda”. E, para o campo político no poder, a ampliação da dissidência aberta por Campos, fato já de grande relevância para o quadro eleitoral de 2014. É de dimensão ainda maior com o movimento executado por Marina.
Velhos políticos dizem que preferem eles escolher seus adversários. O PT tem o seu predileto, o PSDB, já derrotado por ele por três vezes — duas por Lula, uma por Dilma. E, como os tucanos não foram capazes de defender sequer o legado dos oitos anos de reformas-chave do período FH, perderam a bússola. Aécio Neves pode reencontrá-la ou não.
Mas não há dúvida que, para Dilma e PT, enfrentar pela primeira vez uma dissidência significará entrar em terreno desconhecido. A luta não cairá no reducionismo do enfrentamento da "direita" dos "privatistas neoliberais"
Deve-se dar o desconto da tensão vivida por Marina Silva e se entender o contexto em que a ex-senadora, já na madrugada de sábado, afirmou que deseja acabar com a hegemonia e o "chavismo" do PT no governo. Mas a declaração indica a compreensão por parte dela das mazelas decorrentes de um projeto de poder que devera tentar sobreviver a qualquer custo. Este tipo de acusação ao PT não é novidade, O ineditismo está de onde ela parte.
Há, ainda uma intrincada agenda à frente de Marina Silva e Eduardo Campos. Discussões, por exemplo, sobre a formulação de propostas comuns, em que a preocupação com o meio ambiente precisa conviver com a aceleração do crescimento econômico. É preciso também administrar o fato de a ex-senadora, suposta candidata a vice, ter popularidade bem maior que o cabeça de chapa, Eduardo Campos.
De positivo há o lucro que a campanha deve ter com a quebra da polarização entre PT-PSDB. O debate tende a ficar mais rico, menos maniqueista. O momento requer, de fato, uma discussão mais ampla e profunda, pois o modelo econômico em vigor desde o final do primeiro governo Lula e a forma estabelecida de se fazer política se esgotaram.
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