• Desaceleração põe economia de volta no centro da disputa pela Presidência
• Novas previsões sobre crescimento menor neste ano preocupam o governo e comando da campanha de Dilma à reeleição; ao mesmo tempo, servem de combustível para as críticas de Aécio e Campos
Vera rosa, Tânia Monteiro, Débora Bergamasco e João Domingos - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - As novas previsões sobre um crescimento ainda menor neste ano preocupam o governo e, consequentemente, o comando da campanha de Dilma Rousseff à reeleição. Ao mesmo tempo, servem de combustível para as críticas dos oposicionistas Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), que já têm usado o pior desempenho da economia - inclusive em temas caros aos petistas, como o emprego - para fustigar a imagem de gestora de Dilma.
No Palácio do Planalto, a avaliação é de que, passada a Copa do Mundo, a economia vai dominar o debate eleitoral e, por isso, é preciso reforçar o discurso sobre a ampliação do emprego e da renda dos trabalhadores obtida desde o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. O PT tenta tachar Aécio e Campos como "aves do mau agouro".
A difícil situação da economia foi o principal assunto da reunião de ontem de Dilma com coordenadores de sua campanha, após uma semana de tensão e brigas entre petistas por mais poder no comitê da reeleição. O sinal amarelo foi aceso porque, pela primeira vez no ano, a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) na pesquisa Focus do Banco Central (com economistas de instituições financeiras) ficou abaixo de 1%, fato que se soma ao aumento dos preços - em junho, o acumulado dos últimos 12 meses da inflação oficial superou o teto da meta (6,5%).
O oitava revisão consecutiva do PIB para baixo, na pesquisa, significa a iminência de uma recessão. O governo teme que o pessimismo em relação à economia atue como um veneno na campanha de Dilma, que promete reagir com vigor para se contrapor à guerra de números a ser puxada pela oposição.
'Antipessimismo'. Em reunião hoje com presidentes de partidos aliados, Dilma e seu conselho político vão discutir formas de se criar vacinas contra o discurso "pessimista" dos adversários. Em declarações públicas, Dilma já tem adotado esse tipo de revide.
"Além da Copa, tivemos outros surtos de pessimismo que não se realizaram, como era o caso da tempestade perfeita prevista para nos atacar neste início de ano, que nos levaria a uma crise cambial e de proporções avassaladoras", disse a presidente na sexta-feira, em Porto Alegre, a uma plateia de empresários.
O discurso será repetido à exaustão na campanha. O marqueteiro João Santana, responsável pela propaganda de Dilma na TV, a partir de 19 de agosto, prepara peças para mostrar que os índices de inflação e a taxa de juros nos últimos anos foram bem menores do que no período do PSDB à frente do Planalto.
Fora isso, a escolha da plenária da Central Única dos Trabalhadores (CUT) para o início de fato da campanha de Dilma, no dia 31, tem o objetivo de mostrar que o governo tem lado. No discurso, a presidente vai exaltar o aumento do emprego e da renda dos trabalhadores.
Emprego. Enquanto Dilma costuma alardear a criação de 11 milhões de postos de trabalho com carteira assinada como prova de que a economia não vai tão mal, Aécio vai usar dados oficiais recentes para desmontar o discurso do pleno emprego.
Na semana passada, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgou que a geração de novos postos de trabalho em junho foi a pior desde 1998. A equipe econômica da campanha tucana acredita que, em agosto, os dados apontarão novamente para a desaceleração da criação de vagas, e prevê um resultado pífio do PIB para o segundo trimestre.
Com isso, Aécio passará a ser mais crítico à política de geração de emprego - até agora, o questionamento se restringia à qualidade e à baixa remuneração das novas vagas.
A inclusão desse tema ao discurso de Aécio, porém, não é tão simples quanto parece. A estratégia é só explorar o assunto após o risco de desemprego chegar à população, para evitar que o tucano seja o "porta-voz das más notícias". Até lá, os aliados do candidato é que têm a função de martelar o tema.
"Já vínhamos tratando do tema do desemprego em setores mais valorizados, como a indústria. Mas a queda contaminou até os empregos na faixa de dois salários mínimos e está sendo noticiada pelos telejornais. As pessoas começam a ver isso", disse o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), candidato a vice na chapa de Aécio. "Há uma deterioração geral dos empregos."
Fora do trilho. Campos, por sua vez, tem repetido o mote de que "o Brasil parou e saiu dos trilhos do desenvolvimento" mesmo antes de piorarem as previsões para a economia. É uma forma de criticar Dilma sem atacar Lula, de quem foi ministro.
"A sensação é de que o Brasil não só parou, mas corre o risco de andar para trás", disse Campos. "Mesmo se o País crescesse a 2% ao ano, tudo ficaria como está hoje, com alta do analfabetismo, perda de competitividade e queda na produção industrial."
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