• Humor piora e deixa abaixo de 1% previsões para o PIB
• Pela primeira vez no ano, pesquisa semanal do BC indica alta de 0,97%
• Indústria em queda, confiança menor de empresários e mercado de trabalho mais fraco explicam revisões
Claudia Rollita, Tiana Freitas – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Com a inflação acima do teto da meta, a indústria em retração e a confiança de empresários e consumidores despencando, economistas já preveem que o Brasil crescerá menos de 1% neste ano.
É a segunda rodada de redução nas expectativas para o PIB em menos de 60 dias. De 11 consultorias e bancos ouvidos pela Folha, só 2 mantiveram as suas estimativas.
Nas previsões mais otimistas, o país cresce 1,4% neste ano. Nas mais pessimistas, 0,5%. Em 2013, a economia avançou 2,5%, número anunciado pelo governo também para este ano, embora deva ser revisto nesta terça (22).
A piora na expectativa se confirma no Boletim Focus, do Banco Central. Pela oitava semana consecutiva, os analistas cortaram as estimativas para a expansão da economia. Há uma semana, a previsão era de alta de 1,05% Nesta segunda (21), caiu para 0,97%.
O pessimismo foi reforçado após a divulgação de indicadores mais fracos nas últimas semanas. Pelo terceiro mês consecutivo, a produção na indústria caiu em maio --desempenho que deve se repetir no dado de junho. No setor automotivo, a produção recuou 23% no período.
"Com a forte redução da produção industrial e o drástico declínio do setor automotivo, o PIB deve chegar a, no máximo, 0,5%. A construção civil não vai bem, e a queda nos preços agrícolas também preocupa", diz Fabio Silveira, diretor da GO Associados, que derrubou em um ponto percentual a sua projeção.
A perspectiva para este semestre se agravou com a queda na confiança dos empresários --chegou em julho ao pior patamar dos últimos 15 anos. Com o orçamento mais afetado por inflação e juros mais altos, os consumidores também estão mais pessimistas. Resultado: o nível de confiança é o menor desde 2003.
"Com esse clima, nem o segundo semestre será capaz de dar uma reviravolta na economia", afirma Alessandra Ribeiro, da Tendências.
Caio Megale, economista do Itaú Unibanco, tem a mesma avaliação: "Revisamos o PIB do segundo trimestre para baixo. E, com a piora da confiança, até os números do terceiro trimestre já foram revistos, de 0,5% para 0,3%".
O ambiente de pessimismo é tão intenso que já contamina as projeções para 2015. O Bradesco reduziu sua previsão para o PIB do próximo ano de 2% para 1,5%.
A disputa mais acirrada no calendário eleitoral também reforça o clima de incerteza. "A eleição será uma trava para os investimentos", diz Sérgio Vale, da MB Associados.
Para o Santander, são nítidos os efeitos da desaceleração no mercado de trabalho. O Brasil teve o menor saldo de criação de vagas formais para junho desde 1998. "Sem os efeitos sazonais, o Caged já registra demissões", diz Fernanda Consorte, do Santander.
A situação só não é pior porque programas assistenciais e reajustes salariais têm segurado a queda na renda.
Menos pessimistas, Francisco Pessoa, da LCA, e André Perfeito, da Gradual, dizem que a recuperação das exportações, impulsionadas pelo agronegócio, pela mineração e pelo petróleo, deve evitar queda maior do PIB.
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