• Dois fatores deverão contribuir para que a inflação se retraia nos próximos meses. O fim do efeito do tarifaço e a visível contração da demanda, que levará os formadores de preços a remarcarem mais devagar suas mercadorias e serviços
- O Estado de S. Paulo
A inflação de abril, de 0,71%, alinhou-se às projeções do mercado. Foi apenas 0,01 ponto porcentual mais alta do que a mediana das projeções apontada pela Pesquisa Focus, do Banco Central.
Comparada com a inflação de março, de 1,32%, foi um tombo e tanto, que mostra clara desaceleração. Mas os números acumulados continuam altos demais. Apenas nos quatro primeiros meses a inflação atingiu 4,56%, ou seja, a meta para o ano inteiro, de 4,5%, foi estourada. E, medida em 12 meses, saltou para 8,17%.
Esse salto reflete o tarifaço, que faz parte do ajuste da economia. Os preços administrados, que dependem de autorização do governo, mantidos represados ao longo de 2014 porque cumpriram o objetivo de garantir a vitória do governo nas eleições, foram fortemente reajustados neste início de 2015.
Mas a alta dos preços administrados (veja também o Confira) não é tudo. A inflação continua espalhada demais, como mostra o índice de difusão: nada menos que 71,1% dos preços da cesta de consumo tiveram alta em abril, contaminados em grande parte pela estocada dos administrados.
Dois fatores deverão contribuir para que a inflação se retraia nos próximos meses. O fim do efeito do tarifaço e a visível contração da demanda, que levará os formadores de preços a remarcarem mais devagar suas mercadorias e serviços. Contribui em parte para isso o aperto do volume de moeda na economia promovido pelo Banco Central, responsável pela forte elevação dos juros básicos (hoje em 13,25% ao ano).
O cumprimento da meta deste ano está irremediavelmente perdido. Apesar da desaceleração prevista para os próximos meses, não é esperada uma inflação inferior a 8,0% em 2015.
O Banco Central está mobilizado para garantir a inflação na meta ao final de 2016, como está na Ata do Copom divulgada na quinta-feira. Para esse objetivo, a política cambial também deve dar sua contribuição. O Banco Central avisou que não tem pressa para se desfazer do seu estoque de swaps cambiais (cerca de R$ 110 bilhões), que são títulos em reais que equivalem a dólares vendidos no mercado. Essa postura deverá manter sob controle a procura por moeda estrangeira. Portanto, deverá atuar para evitar disparadas no câmbio, especialmente quando o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) começar a operação de retirada de dólares do mercado. Com isso, também quer evitar excessivo encarecimento dos produtos importados. Ou seja, o câmbio é parte da equação de controle da inflação.
Mas ninguém deve esperar uma postura rígida do Banco Central. Seu objetivo agora é a inflação na meta ao final de 2016, como está dito. Portanto, vai esperar pelo que acontecerá, para monitorar juros e câmbio.
O mercado ainda trabalha com uma inflação alta demais em 2016, de 5,6%, como aponta a Pesquisa Focus desta semana. Isso sugere que os juros básicos (Selic) deverão continuar sua trajetória de alta até que o Banco Central tenha conseguido a convergência das expectativas do mercado.
O peso da conta de luz
Somente os preços da energia elétrica, uma das tarifas administradas, subiram 38,12% no primeiro quadrimestre do ano e sozinhos tiveram um impacto de 1,12 ponto porcentual na inflação de 4,56%, acumulada em 2015. Reflete a alta dos custos da maior participação da energia térmica (produzida com queima de óleo combustível e diesel) na matriz elétrica. Entre os preços livres, a maior alta foi a do tomate, com 48,65% no quadrimestre.
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