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- O Globo
Milhares de trabalhadores estão em licença nas fábricas ou sendo demitidos. Nas lojas, o emprego encolhe. A CNI acha que a porta de saída é a exportação, mas ela não deslancha; ou projetos de infraestrutura, mas eles estão com dificuldades. O setor de máquinas e equipamentos acha que a crise foi criada aqui dentro. Os revendedores de automóveis esperam que o ajuste fiscal restaure a confiança.
Na semana em que diversos setores empresariais divulgaram balanços e prognósticos, o que se viu é um país em crise buscando saídas. A Associação de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) tem certeza de que os problemas atuais foram criados internamente e, por isso, a recuperação só depende de nós, com o ajuste fiscal e a retomada da agenda de reformas. O setor industrial é, de longe, o que mais tem sofrido com a crise. O comércio é afetado como consequência, como se vê nos números da Fenabrave, entidade que reúne as revendedoras de automóveis. A produção industrial de março, divulgada esta semana pelo IBGE, terminou o primeiro trimestre com encolhimento de 5,9% sobre o mesmo período do ano passado. O fechamento de postos de trabalho está cada vez mais constante.
O gerente-executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, estima que o ano de 2015 será de recessão de 1,2% no PIB, com uma retração de 3,4% no PIB industrial. A queda maior será do setor de construção civil (-5,5%); seguida pela indústria de transformação (-4,4%); e dos serviços industriais de utilidade pública (-2,8%). Apenas a extrativa deve terminar o ano com crescimento, puxada por petróleo e gás e mineração (2,3%). —A saída é crescer via exportação e destravar os projetos de infraestrutura. Para exportar, é preciso aumentar a competitividade. Nas concessões, será preciso mudar o modelo e melhorar a rentabilidade do setor privado. O trauma causado pelas mudanças no setor elétrico ainda é grande, isso também precisa ser superado — afirmou.
A Abimaq diz que 22 mil postos de trabalho foram fechados desde janeiro de 2014. A utilização do parque produtivo está em 69%, percentual que significa recessão, segundo a entidade. As encomendas só garantem a produção de 2,8 meses, quando a média é 6,5 meses. Até o segmento de máquinas agrícolas sente o impacto. Na última feira Agrishow, realizada na semana passada em São Paulo, houve queda de 30% nas vendas. Foi a primeira vez que aconteceu em 22 anos de evento. Diante de tantos números vermelhos, o presidente da Abimaq, Carlos Pastoriza, mantém pelo menos uma certeza: sair da crise só depende do Brasil.
— É preciso fazer o ajuste fiscal e tocar a agenda de reformas, que tem sido sempre adiada, como a tributária e a da previdência. Para baixar a Selic, antes é preciso gastar menos e aumentar a poupança. Não só fazer superávit primário, mas fazer superávit nominal. A crise foi fabricada internamente. Assim, também só depende do Brasil sair dela. Esse é o lado positivo — afirmou Pastoriza. A indústria automotiva cresceu muito nos últimos anos, e agora sofre duplamente. Primeiro, pela queda do PIB; segundo, pela antecipação de consumo depois de todos os estímulos dados pelo governo. A Fenabrave, entidade que representa as distribuidoras, registra 12 mil postos de trabalho fechados. O presidente da entidade, Alarico Assumpção Jr., teme que esse número possa chegar a 40 mil até dezembro, com fechamento de 10% das concessionárias do país.
Cerca de 800 de um total de 8 mil. O setor como um todo teve queda de 16% nas vendas, de janeiro a abril, com um colapso de quase 40% nas vendas de caminhões. — Começamos o ano com estimativa de estagnação nas vendas e já revisamos o nosso número para queda de 18%. A esperança é o ajuste fiscal recuperar um pouco da confiança dos consumidores e dos empresários e ter um segundo semestre um pouco melhor — disse Alarico. A semana mostrou que este será um ano difícil, em que notícias de demissão e queda da atividade econômica serão frequentes. A inflação em quatro meses atingiu a meta para o ano todo: 4,5%. Os juros continuarão a subir, apesar da recessão. É o preço dos erros do primeiro mandato.
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