Os 71% de brasileiros que reprovam o governo Dilma não sabem o que pensam, porque o que há de errado no País hoje é o clima que “está sendo criado” de “pessimismo” e de “intolerância”. Essa é a conclusão a que o governo chegou após avaliação feita pela coordenação política do Planalto, da qual participaram a chefe do Executivo, o vice-presidente Michel Temer, 12 ministros e líderes das bancadas do governo e do PT no Congresso. Escalado para anunciar as conclusões do encontro, o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, considerou as manifestações contra Dilma, Lula e o PT “fatos naturais”, mas passou um pito nos manifestantes: “Temos que acreditar na força do nosso país. Em breve estaremos saindo das dificuldades”.
Para o governo, portanto, não existe crise econômica, política e social – e muito menos moral –, mas apenas “dificuldades” que logo serão superadas se os brasileiros não continuarem atrapalhando o governo com o “pessimismo” e a “intolerância”. O tom de cobrança das palavras do ministro são um insulto à inteligência e um inadmissível desrespeito à indignação cívica das centenas de milhares de cidadãos que têm saído à rua para protestar contra o governo incompetente – o de Dilma Rousseff – de um partido político – o PT de Lula –, que com a cumplicidade de uma “base de apoio” fisiológica mergulhou o País no mar de lama que está sendo exposto pela Operação Lava Jato.
A atitude do ministro é, para dizer o mínimo, cínica: “Nosso sentimento é de otimismo, sim. E repito: se quebrarmos esse ambiente de pessimismo que se instaurou, se o empresariado acreditar no potencial econômico do Brasil, se o povo brasileiro acreditar no potencial que o Brasil tem, evidente que isso vai facilitar, e muito, a retomada do crescimento, a geração de empregos”. Quer dizer: o governo não tem nada a ver com o pessimismo que “se instaurou”.
A inflação descontrolada, a retração econômica e o consequente aumento do desemprego que atinge a todos os brasileiros, principalmente os mais pobres, são fenômenos de geração espontânea, que o governo está apenas esperando o momento oportuno para corrigir. E quem não acreditar nisso é “politicamente intolerante”.
Pois pela terceira vez neste ano os brasileiros se manifestaram nas ruas, de Norte a Sul, com palavras de ordem que traduzem o sentimento de indignação que se apossa – é bom repetir para quem não quer acreditar e entender – da maioria esmagadora do povo brasileiro: “Fora Dilma”, “Fora Lula”, “Fora PT”.
O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), ao lado de Edinho Silva, tentou explorar o que qualificou como “esvaziamento” das manifestações do dia 16, comparando-as com as de 15 de março, e atribuindo a elas, pelo menos em parte, “conotação ideológica”. Referia-se, é claro, aos trogloditas radicais que, mais uma vez, valeram-se da oportunidade para pregar a tomada do poder pelos militares. Tanto num caso quanto no outro o deputado não mentiu. Mas as centenas de milhares de brasileiros que saíram às ruas no último dia 16, embora em menor número do que aqueles que se manifestaram em 15 de março – e maior do que as de 12 de abril – foram porta-vozes do maciço sentimento de crescente reprovação do governo petista registrado pelas pesquisas de opinião.
Quanto aos trogloditas de direita, eles se identificam com os de esquerda no propósito de se valer da liberdade para destruir a democracia. Disso – e do transporte de valores em cuecas – o deputado José Guimarães entende. Mas felizmente são minorias que nas sociedades democráticas a lei e o aparato institucional sabem como conter dentro dos limites estreitos de sua insignificância política.
Não é com o cinismo de uma retórica populista por ele próprio desmoralizada que este governo impopular vai reconquistar um mínimo de credibilidade e a confiança dos brasileiros. Porque a intolerância a que o ministro de Dilma se refere realmente existe. Mas não é a causa dos problemas que o País enfrenta, como quer Edinho Silva. É o sentimento que eclode quando a Nação toma conhecimento da roubalheira que locupletou a tigrada e arruinou milhares de brasileiros, hoje sem poupança e sem emprego.
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