• PSOL e MTST rechaçam tom pró-governo nas manifestações desta quinta (20); CUT e UNE criticarão 'golpismo'
Crítica a impeachment divide líderes de ato
• Para parte dos movimentos, PT tentou 'aparelhar' protestos para defender gestão de Dilma Rousseff
Bela Megale, Bruno Fávero – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Os organizadores dos atos marcados para esta quinta-feira (20), que fazem contraponto aos protestos pró-impeachment de domingo (16), chegarão às ruas divididos sobre a defesa do governo.
Grupos ligados ao PSOL e a Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), que é visto como dono da maior capacidade de mobilização, alertaram os demais movimentos que não defenderão Dilma Rousseff e que vão mirar temas sensíveis ao governo.
Entre eles estão o ajuste fiscal conduzido pelo ministro da fazenda Joaquim Levy, e a Agenda Brasil, pacto firmado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) –ambos temas do manifesto assinado pelos organizadores, intitulado "Contra a Direita e o Ajuste Fiscal".
Já entidades com ligação histórica com o PT, como CUT e UNE, no entanto, adotarão um discurso mais ameno em relação ao governo e usarão palavras de ordem contra o impeachment de Dilma.
"Há uma disputa política em torno do ato. Há aqueles que gostariam que ele fosse só em defesa da democracia e do governo. Não vamos aceitar", afirmou Boulos, que também é colunista da Folha.
O líder do MTST criticou as propagandas veiculadas pelo PT em rádios e na TV convocando para as manifestações. "Atrelamento partidário não ajuda. As manifestações são por pautas amplas e populares, compartilham de uma insatisfação com o sistema político", disse.
Segundo o secretário-geral do PSOL Fernando Silva, as inserções geraram "mal-estar" porque parte dos organizadores entendeu que o PT "aparelhou o ato para virar uma defesa do governo".
O presidente do diretório estadual do PT de São Paulo, Emídio de Souza, reconhece que a defesa do governo não é unânime, mas defendeu unidade dos grupos.
"Mesmo na direita tem manifestações diferentes dentro de um ato. Alguns defendem o (deputado) Jair Bolsonaro (PP-RJ), outros acham que o Aécio Neves (PSDB-MG) é pouco crítico, mas eles têm uma agenda em comum: fora Dilma, fora Lula, fora PT. Nós temos que ter uma que una também a esquerda."
Racha
Participantes das reuniões de articulação dos protestos do dia 20 relataram à Folha que parte dos movimentos discordou do manifesto assinado pelos organizadores.
A principal divergência foi a ausência de uma menção contra o impeachment de Dilma. A CUT, em especial, teria defendido que o texto explicitasse que o grupo é contra a queda da petista. No entanto, prevaleceu a vontade de grupos como o MTST, PSOL e Intersindical, que querem evitar um tom pró-governo.
Apesar do impeachment não integrar as reivindicações do documento, a ala do PSOL ligada à ex-deputada Luciana Genro desistiu de ir ao ato por achar que o documento defende indiretamente o governo.
Houve, porém, manifestações opostas. O PC do B, aliado do PT, retirou a assinatura do manifesto devido ao tom crítico ao governo.
O presidente da CUT de São Paulo, Adi dos Santos Lima, nega discordâncias. "Colocamos no manifesto a pauta em comum dos movimentos. Achamos melhor focar na questão econômica, mas nas ruas cada movimento vai ter liberdade para defender as bandeiras que quiser."
Os atos acontecerão em mais de 30 cidades e a expectativa é reunir, só em São Paulo, 60 mil pessoas.
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