• Ao oferecer crédito com juros baixos para fabricantes de veículos, Dilma incorre em erros cometidos no primeiro governo. Demonstra não ter aprendido a lição
O conceito arquitetônico do “puxadinho” surgiu com as favelas e seu crescimento desordenado, em que as casas são ampliadas sem planejamento e sem qualquer outra preocupação a não ser resolver uma questão específica, geralmente atender ao crescimento da família.
No primeiro governo Dilma, com Guido Mantega no Ministério da Fazenda, o termo passou a ser usado para qualificar um tipo de política econômica que baixava normas tópicas, na tentativa de equacionar algum problema. Assim como na arquitetura das favelas, sem maiores cuidados e preocupação com efeitos colaterais.
Foi assim, por exemplo, que Dilma 1 desarrumou o setor elétrico, ao forçar um corte de 20% na conta de luz e não recuar, por interesses eleitoreiros, quando a seca forçou o uso intensivo das termelétricas, de custo operacional mais alto. Custo este que ajudou a implodir as contas públicas, pois foi transferido em grande parte ao Tesouro.
E Dilma acaba de inaugurar a política do “puxadinho” no seu segundo mandato, com a ordem dada ao Banco do Brasil e Caixa Econômica, instituições federais, para liberar crédito a juros camaradas às montadoras de veículos que se comprometam a não demitir. CEF e BB, somados, podem despejar mais de R$ 8 bilhões neste “puxadinho”.
Trata-se, porém, de um intervencionismo estéril, por tentar mudar o curso de forças do mercado. Há pouco, foi tomada a decisão de permitir a negociação entre patrão e empregado, em torno da troca de um terço do salário pela manutenção do emprego, algo que deveria ser livremente negociado em todos os setores.
Mas são tantas as exigências, e também é tão alto o custo trabalhista do emprego formal, que nem sempre compensa ao empregador manter o funcionário. Com o futuro da economia imprevisível, mesmo com o corte dos salários ele pode não ter condições de sustentar a folha de pagamentos reduzida em um terço.
Há, ainda, a questão do subsídio embutido nesses juros de BB e CEF, mesmo que seja financiado pelo lucro dos próprios bancos. É fato que parte não deverá ser, pois uma das fontes do dinheiro seria o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e o BNDES. Quer dizer, de alguma forma essa operação deverá bater no Tesouro, numa gritante contradição com este momento de ajuste fiscal. Assim, a administração da economia tende a reproduzir um barco em que remadores remam em sentidos contrários.
O aspecto do crédito subsidiado é grave, e até contraria a preocupação do próprio governo com os juros elevados. Ora, por 30% do crédito no Brasil terem algum tipo de subsídio é que a dosagem da política monetária (juros) precisa ser mais forte para conter a inflação. Afinal, os juros não fazem efeito no bolo integral do crédito.
Em resumo, como os anteriores, este “puxadinho” não deverá atingir seu objetivo e ainda tem custos invisíveis preocupantes. Pelo visto, Dilma 2 não aprendeu com Dilma 1.
Nenhum comentário:
Postar um comentário