- O Globo
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirma que a inflação será baixa em agosto e setembro, mas permanecerá alta no acumulado de 12 meses. No entanto, ele prevê uma queda forte de janeiro a maio do ano que vem, saindo dos 9% para abaixo de 6%. Tombini também acha que 2016 não será de PIB negativo. Para ele, a exportação líquida puxará a economia.
Em entrevista exclusiva para a coluna, o presidente do Banco Central falou da crise e de seus cenários para sair dela, mas evitou o tema do momento na economia, que é a volta dos empréstimos subsidiados da Caixa Econômica e do Banco do Brasil para a indústria automobilística:
— Não falo sobre a estratégia de uma instituição regulada pelo Banco Central. Posso refletir isso nas decisões de política monetária.
Na última ata do Copom está registrado um comentário positivo sobre a queda do volume de gastos “quase fiscais”. Com essa expressão, eles querem se referir às despesas em juros subsidiados. É o caso de ficar atentos às próximas atas, se essa frase será repetida.
Tombini abriu a conversa comigo ontem, em uma das salas de seu gabinete, com uma pergunta: “Qual é o papel do Banco Central em tempos de incerteza?” Ele mesmo respondeu que é trabalhar para levar a inflação ao centro da meta. Mas ele está convencido de que este momento é o mais difícil da trajetória da economia:
— Hoje estamos no vale em termos de crescimento. A queda do PIB não é em V, mas em U. Este é o momento que estamos na parte mais baixa do U. A inflação está alta, e a boa sazonalidade de maio e junho não ocorreu. Todo o custo do ajuste da economia está aí, mas os benefícios não são palpáveis.
Tombini disse que as coletas de preços mostram que haverá um alívio em agosto e setembro, mas a mudança mais forte virá apenas no começo do ano que vem:
— Nos primeiros meses de 2016, de janeiro a maio, haverá uma queda substancial da taxa de inflação, que sairá do patamar de 9% para 5% alto (próximo de 6%). Os efeitos defasados da política monetária continuarão empurrando a inflação para baixo, e eu acredito que fecharemos 2016 com a inflação na meta. O mercado ainda projeta um índice acima disso.
Tombini acha que a inflação não chegará a dois dígitos e cita o fato de o mercado estar apostando numa inflação bem mais baixa em 2016, convergindo para a meta em 2017 e 2018.
— Isso mostra que as expectativas estão ancoradas. O mercado, antes, estava sempre prevendo inflação em torno de 6%, pela percepção que teria que haver um ajuste dos preços administrados. Agora, as projeções são de queda forte e, como há toda uma estrutura de taxa de juros a termo, o país já tem o benefício hoje da trajetória dos juros — disse Tombini.
Ele acha também que já está havendo um ajuste no balanço de pagamentos, completando o conjunto de boas notícias em gestação: — O déficit em conta-corrente vai cair 20% este ano. O BC divulgou ontem um número demonstrando que a contração do PIB no segundo trimestre foi de 1,89%. Tombini admite que o pior momento acontece agora, entre o segundo e terceiro trimestres do ano. Ele acredita que no ano que vem o país vai iniciar a recuperação e discorda da projeção captada pelo Boletim Focus, de que haverá dois anos de recessão.
— O país vai sair do negativo pela exportação líquida. Foi assim em vários momentos da economia brasileira. A melhoria começa pelo câmbio. Há sempre uma defasagem entre o ajuste do câmbio e seu reflexo na exportação, mas o real é uma das moedas que mais se desvalorizaram em relação ao dólar — disse, mostrando gráficos em que o real aparece neste ano como a moeda que mais perdeu valor (23%), e em um ano é a terceira que mais se desvalorizou (34,9%), depois do peso colombiano e do rublo.
Tombini acha que o mercado de crédito se ajustou e tanto os bancos reduziram a oferta de crédito, como diminuiu a demanda, porque o tomador optou por reduzir o volume de endividamento: — Houve uma desalavancagem das famílias. Ele vê também uma vantagem na economia brasileira: ela estaria mais preparada do que a maioria para as “mudanças das condições monetárias do mundo”, que é como se refere à perspectiva de elevação dos juros americanos. Diz que outros países estão com as taxas de juros no nível mínimo, e o Brasil já vem se preparando para enfrentar esse novo ambiente externo.
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