• Aliados tentam criar condições para vice governar se desfecho da crise levar a afastamento de Dilma Rousseff
• Romero Jucá é apontado como um entusiasta da articulação; na BA, Geddel divulgou vídeo pedindo impeachment
Daniela Lima – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Líderes do PMDB começaram a trabalhar em várias frentes na última semana para dar ao vice-presidente Michel Temer condições de governar se o aprofundamento da crise política em que o governo Dilma Rousseff mergulhou levar ao afastamento da presidente antes da conclusão do seu mandato.
Os articuladores desse movimento estão em busca de apoio do empresariado e começaram a dialogar com líderes da oposição, numa tentativa de construir um caminho político que aponte Temer como alternativa mais segura para superar a crise.
Os aliados de Temer admitem que esse movimento ainda não está maduro, mas acreditam ter colhido uma primeira resposta positiva na quarta-feira (5), quando as federações estaduais das indústrias de São Paulo e Rio expressaram publicamente apoio ao vice, um dia depois de ele fazer um apelo por união para superar a crise.
Um dos responsáveis pela iniciativa, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é filiado ao PMDB e comemorou seu aniversário em um almoço com Temer na sexta (7).
No campo político, tanto petistas que estão no governo como nomes da oposição apontam o senador Romero Jucá (PMDB-RR) como um dos entusiastas e artífices da articulação pró-Temer.
Na terça (4), Jucá participou de reunião entre líderes de PMDB e PSDB. Segundo relatos de três participantes, deixou evidente que não vê mais saída para a crise com Dilma no Planalto.
Ministros próximos à petista temem que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) também embarque no movimento pró-Temer, o que poderia enfraquecer ainda mais a presidente.
Políticos que estiveram com Renan na última semana disseram que ele ainda adota postura muito cautelosa e se diz disposto a colaborar com o governo, barrando ações da Câmara que ameacem o ajuste fiscal.
Enquanto líderes do Congresso tratam do assunto com reserva, aliados de Temer fora de Brasília têm assumido atitude mais agressiva. Amigo do vice, o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) reproduziu nas redes sociais vídeo que diz que "o impeachment de Dilma Rousseff só depende do PMDB".
O locutor do vídeo afirma que "o povo" quer que o PMDB escolha entre os "comparsas petistas" ou "o Brasil". "O PT quebrou o Brasil. O PMDB só tem uma escolha. Impeachment, já." O filme foi noticiado pelo colunista do UOL Josias de Souza.
Sempre que aborda o assunto publicamente, Temer desautoriza esse tipo de ação e afirma que trabalha pela governabilidade com Dilma.
"Ele não conspira e não pode parecer que faz isso", diz um aliado. "Ele precisa ser naturalmente visto pelos políticos, pela sociedade e pelo empresariado como único agente capaz de reagrupar o país, e a pecha de conspirador não cabe nesse cenário."
Nesta semana, Temer fez o movimento mais explícito desde o início da crise, ao falar em união nacional.
Ao saber que ministros próximos a Dilma avaliaram que seu gesto contribuiu para enfraquecer a presidente, Temer disse que poderia entregar o cargo de articulador político do governo, o que não foi aceito por Dilma.
No PT, decidiu-se que ele não será atacado publicamente, mas há uma operação em curso para reduzir o espaço de atuação do vice, estimulando agentes do PT a também dialogar com deputados da base sobre cargos e recursos para projetos em seus redutos eleitorais.
No PSDB, a reação ao avanço da operação pró-Temer veio da boca de aliados do senador Aécio Neves (MG). Os líderes da sigla no Congresso convocaram a imprensa, sem consultar os colegas de bancada, para indicar que não aceitarão compor com o vice.
Um risco para o movimento pró-Temer é o avanço da Operação Lava Jato. Apontado como o elo entre a corrupção na Petrobras e caciques do PMDB, o lobista Fernando Baiano começou a negociar um acordo de delação.
Aliados de Temer dizem que ele não tem preocupação pessoal com o assunto, mas acham que o vice pode sair chamuscado se revelações atingirem a cúpula do PMDB. Renan, Jucá e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são investigados
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