Alberto Bombig - O Estado de S. Paulo
• Dez anos após primeiro escândalo, equipe que coordenou vitória de Lula está fora de combate
Numa peça do programa eleitoral de TV da campanha de 2002, o então candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva caminha altivo – terno preto impecável – entre mesas de um escritório onde a equipe dele trabalha concentrada.
Essa foi a maneira encontrada pelo marqueteiro Duda Mendonça para apresentar ao Brasil o “time do Lula”, como o grupo se tornaria conhecido. Além de conferir a credibilidade que ainda faltava ao petista para chegar ao Planalto, os personagens do filminho formavam, na vida real, o clube do homens de confiança do então candidato.
Após a vitória na eleição, Lula transportou quase o time inteiro para cargos importantes no governo, no PT ou nas estatais e nomeou José Dirceu o “capitão” da equipe. Daquele grupo sairia o sucessor de Lula, além de governadores e prefeitos, apostavam os petistas e até seus opositores.
Porém, há exatamente uma década, veio o primeiro baque, com a denúncia do mensalão, feita pelo então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). A temporada de baixas começou em junho de 2005, com Dirceu, que deixou a Casa Civil, acusado de comandar o esquema. Naquele momento começava a desmoronar o grupo que levou o PT ao poder central pouco mais de 20 anos após a fundação do partido. Na última segunda-feira, Dirceu foi novamente preso pela Polícia Federal. Desta vez, suspeito de ter montado o esquema de propinas, desvios e lavagem de dinheiro da Petrobrás e de ter se beneficiado dele.
A prisão marca o ocaso daquele time que parecia fadado ao sucesso. Aos reveses políticos somaram-se os do destino: José Alencar, o empresário que foi vice de Lula, e Luiz Gushiken, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no primeiro mandato, morreram em 2011 e 2013, respectivamente.
Do time estelar de coordenadores da campanha do PT, apenas um permanece trabalhando hoje ao lado de Lula: o professor Luiz Dulci, um dos diretores do instituto que o ex-presidente mantém em São Paulo. Os demais foram condenados pela Justiça, deixaram o PT ou ocupam cargos de pouca expressão política. O único que permanece no governo federal é justamente Aloizio Mercadante, o ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff que Lula busca insistentemente derrubar e que se afastou do ex-presidente.
Do estafe de 2002, acabaram abatidos pelas crises Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, José Genoino, ex-presidente do PT, e Delúbio Soares, ex-tesoureiro do partido. Gilberto Carvalho, outro que teve papel preponderante em 2002, está alijado do governo Dilma e é integrante do Conselho de Administração do Sesc. Silvio Pereira, que era secretário-geral do partido, abandonou a vida pública. A senadora Marta Suplicy, figura de destaque na primeira vitória de Lula, deixou o PT.
“Parece que Lula está sozinho mesmo. Há um único personagem que o acompanha há muito tempo: o (Paulo) Okamotto. Os demais foram engolidos em parte porque o próprio Lula os sacrificou para salvar a si mesmo”, diz o historiador Lincoln Secco, da USP, autor do livro A História do PT. O empresário Paulo Okamotto permanece com Lula em seu instituto, mas não teve papel oficial na campanha de 2002.
Novos parceiros. Hoje, além dos diretores do Instituto Lula (Okamotto, Clara Ant, Celso Marcondes, Paulo Vannuchi e Dulci), os interlocutores mais próximos de Lula são os ex-ministros Celso Amorim, Nelson Jobim e Walfrido Mares Guia. Além de Dulci, Lula conversa frequentemente com Palocci. Dos companheiros que morreram, o ex-presidente se queixa das ausências do ex-ministro da Justiça Marcio Thomaz Bastos, morto em 2014, e Alencar. Sobre o primeiro, Lula costuma dizer que seu papel ia muito além do de um advogado. “Ele faz falta ao Brasil.” / Colaborou Ricardo Galhardo
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