• Com fama de 'bombeiro', Temer foi alçado ao centro das especulações sobre uma eventual substituição de Dilma
• O inusual tom emotivo de sua fala sobre a necessidade de 'alguém' para unir o país causou impacto no governo
Andréia Sadi, Gabriel Mascarenhas – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Michel Miguel Elias Temer Lulia, 74, chegou a um paradoxal ápice de carreira. Vice num governo sob risco, o peemedebista com fama de "bombeiro" se vê no centro das especulações sobre uma eventual substituição de Dilma Rousseff na Presidência.
Foi dele a frase que disparou a bolsa de apostas políticas. Foi quando o vice-presidente falou sobre a necessidade de "alguém" unir o país.
A amigos, Temer diz que a crise instalada desde a reeleição de Dilma, que começou econômica e logo virou política, a deixou com uma margem de manobra muito estreita.
Para o vice –visto por dilmistas como quem está "se colocando" para a vaga da chefe–, hoje tudo depende da petista para se recuperar. Ele não vê no entorno dela, porém, um plano viável para tal.
O paradoxo Temer começa em 2010, eleito vice de Dilma sob os auspícios de Lula.
Se Lula botou o empresário José Alencar na vice para aplacar temores do mercado, Dilma teria Temer para garantir a estabilidade política representada pelo PMDB.
No primeiro mandato, funcionou; Temer virou uma peça decorativa. Não foi ouvido quando Dilma propôs uma Constituinte exclusiva para reforma política após os protestos de junho de 2013, a que ele se opunha historicamente –a ideia não avançou.
Antes, era apelidado por aliados de Dilma de "aspirador de pó": só era usado para limpar sujeira, confusões com o PMDB. Que, à época, quando Dilma surfava em popularidade, eram pontuais.
No início de 2013, Temer foi peça central de um episódio capital. Ele bancou, contra a vontade de Dilma, a eleição de Eduardo Cunha para a liderança do PMDB na Câmara. Informado de que Cunha ganharia de Sandro Mabel (GO), disse a Dilma que sua vitória não seria problema e que poderia controlar o explosivo deputado fluminense.
Eleito, Cunha começou a dar dor de cabeça, como na votação da medida provisória dos portos. Dilma cobrou Temer, que tentou neutralizar o deputado, mas admitiu que não era possível. Isso é visto por rivais, hoje, como um jogo combinado.
Reeleita, Dilma tentou barrar a ascensão de Cunha à presidência da Câmara, em fevereiro. Não teve sucesso. Desde então é frequentemente humilhada em plenário por ele.
O clima azedou de vez quando Cunha e o presidente reeleito do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foram apontados como implicados no petrolão. Ambos passaram a acusar o governo de influenciar procuradores contra eles.
Articulador
Temer foi então escalado por Dilma para tentar driblar a crise instalada. Virou articulador político do governo.
Sua fama de "bombeiro" é antiga. Em 1992, a PM paulista matou 111 presos em uma rebelião no Carandiru. Com o escândalo, o então governador Fleury Filho entregou a cabeça do secretário de Segurança, Pedro Franco de Campos.
Convocado para o cargo que já ocupara, Temer conseguiu apaziguar os ânimos na tropa e reduzir a letalidade.
Até aqui, seu sucesso foi relativo na nova missão, com a aprovação de medidas de ajuste fiscal no primeiro semestre. Não conseguiu, contudo, pacificar as Casas, em especial a Câmara de Cunha.
Rivais dizem que ele, Cunha e Renan alternam as posições de pacifistas e incendiários para manter o Planalto sob pressão controlada.
O agravamento da crise e a nanica aprovação de Dilma, 8%, deu a Temer outro protagonismo. Ele começou a ser visto como um fiador de estabilidade em caso de ruptura.
Sempre que abordado a respeito, Temer rejeita o impeachment. Teme a pecha de traidor. Não significa que as articulações não ocorram.
Suas conversas com o senador José Serra (PSDB-SP) deram margem à conclusão de que o tucano, visando cacifar-se para 2018, seria uma espécie de superministro num eventual governo Temer.
Pessoas próximas aos dois negam. Amigos do vice lembram que ele conversa usualmente com outros caciques da oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
Aliados ressaltam o legalismo de quem é visto como referência no direito constitucional –ele é professor da PUC de São Paulo.
"Temer está fazendo tudo que pode para ajudar. Mas, se for impossível, vamos ver no que vai dar'', diz um aliado, revelando um pouco o espírito do momento.
Em público, Temer tem se pronunciado de forma ambígua. Já disse que Levy seria seu ministro se fosse presidente, ressalvando quase inutilmente o "em 2018".
Pela frieza, o vice já foi chamado pelo político baiano Antônio Carlos Magalhães de "mordomo de filme de terror". O tom emotivo de sua fala sobre o tal papel unificador assustou o governo.
Ele foi se explicar com Dilma. Pôs o cargo de articulador à disposição, ouviu um peremptório "Michel, você fica".
Paulista de Tietê, de família católica maronita do norte do Líbano, pai de cinco filhos e casado com a jovem Marcela, 32, Temer ficou.
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