- O Estado de S. Paulo
O maior panelaço contra o vergonhoso e grotesco programa do PT, na quinta-feira, foi comandado por um homem de confiança do governo, Aldemir Bendine, presidente da Petrobrás. Antes do vexame televisivo da presidente Dilma Rousseff, de seu inventor Luiz Inácio Lula da Silva e de outros companheiros, ele apresentou o balanço da estatal, com um lucro de R$ 531 milhões no segundo trimestre, 89% menor que o de um ano antes. Analistas esperavam um resultado na casa dos R$ 4 bilhões, segundo o Estado. Problemas de mercado, como a redução dos preços do petróleo, afetaram a receita e os ganhos da empresa, mas o balanço reflete principalmente a faxina financeira e os consertos iniciados pela nova administração. O reconhecimento do passivo tributário – impostos em atraso – acrescentou R$ 3 bilhões às despesas contabilizadas. O abandono de projetos levou a um corte de R$ 1,2 bilhão no valor dos ativos. “Estamos fazendo aquilo que deveria ter sido feito antes”, disse Bendine. O balanço foi elaborado, segundo ele, com a preocupação de proporcionar “transparência e previsibilidade”. Sua missão básica – nunca foi segredo – é promover a recuperação de uma empresa, a maior do Brasil, saqueada e devastada durante três mandatos petistas.
O trabalho do novo presidente da Petrobrás é uma contrapartida, no mundo econômico e gerencial, da Operação Lava Jato, conduzida nos planos policial e judicial. Cada número citado na apresentação do balanço equivaleu a um golpe barulhento numa panela e ainda ressoará por muito tempo. Antes disso a empresa terá de baixar a um nível tolerável o endividamento acumulado irresponsavelmente.
O panelaço dos fatos continuou no dia seguinte, quando saíram os números de julho da inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Mais uma vez, dados produzidos por um órgão do governo comprovaram o fracasso e a inconsequência da administração da presidente Dilma Rousseff. Os preços pagos pelas famílias aumentaram 0,62% em julho, 6,83% no ano e 9,56% em 12 meses. São números quase inimagináveis numa economia em recessão, exceto em casos patológicos de incompetência governamental. Fora de casos desse tipo, recessão é quase sinônimo de inflação baixa ou mesmo de deflação. Mas no Brasil as projeções ainda apontam para este ano uma alta de preços acima de 9% e uma contração econômica próxima de 2% – e sem perspectiva de um desajuste muito menor nas esfrangalhadas contas públicas.
Para o próximo ano as estimativas apontam um crescimento abaixo de 1% para o produto interno bruto (PIB) e uma inflação ainda superior a 5%. Mas o menor impulso dos preços deverá resultar, segundo se calcula, principalmente de dois fatores: 1) a prolongada retração dos negócios acabará, finalmente, impondo um freio à inflação; e 2) a correção dos preços administrados, como os da eletricidade, será menos intensa do que neste ano.
O baixo nível de atividade neste ano e no próximo será em boa parte explicável, naturalmente, pelos juros muito altos. Desse ponto de vista, pelo menos a política monetária, conduzida pelo Banco Central (BC), terá produzido algum resultado positivo. Não se espera nada semelhante das demais políticas formuladas e implementadas em Brasília. Ao contrário: mais provavelmente os congressistas continuarão impondo maiores gastos ao Tesouro e atrapalhando as ações de ajuste propostas pelo Executivo.
Mas, se o governo continuar atropelado pelos congressistas e abandonado até pelos companheiros de partido, a crise econômica poderá agravar-se muito mais velozmente do que se pode hoje imaginar. O País será logo rebaixado ao grau especulativo pelas agências de classificação de risco – um evento já dado como certo por muitos analistas. O custo do financiamento subirá tanto para o governo quanto para boa parte das empresas. A arrumação das contas públicas ficará muito mais complicada.
O dólar poderá disparar e a pressão do câmbio sobre a inflação se tornará mais forte e mais difícil de conter por meio de intervenções do BC. Na melhor hipótese a depreciação cambial poderá facilitar as exportações, mas isso é incerto. Se a instabilidade do câmbio for intensa, os custos serão pressionados e as decisões empresariais, prejudicadas. Num cenário desses, até a segurança proporcionada por um bom volume de reservas cambiais – atualmente acima de US$ 360 bilhões – poderá desaparecer.
Os muito otimistas podem classificar todas essas hipóteses como um exercício de catastrofismo, mas ninguém deveria desprezar os perigos neste momento. Os fundamentos da economia continuam muito frágeis, com inflação muito alta e contas públicas em condição bem pior que as de países mais atingidos pela crise. O déficit nominal do setor público passou de 8% do PIB em 12 meses. Na Europa, a média está abaixo de 3%. Além disso, o ajuste fiscal desses países tem avançado e seu crescimento econômico tem-se firmado. Os Estados Unidos, apesar de alguns tropeços ocasionais, continuam criando cerca de 200 mil empregos por mês. Lá, o desemprego está em 5,3%. No Brasil, passa de 8% e pode aumentar.
Quem pode dizer até onde avançará a Operação Lava Jato e apontar suas consequências para um governo muito fraco? Segundo o vice-presidente Michel Temer, o País precisa de alguém para unir as forças e evitar um desastre. Os ministros o criticaram por isso, mas injustamente. A declaração teria sido mais venenosa se o unificador fosse descrito como competente e capaz de propor e conduzir políticas inteligentes e eficazes. Temer se absteve de indicar esse líder e de mostrar como poderia assumir o papel sem quebrar as instituições. Sem esperar resposta, a crise se agrava e o governo, incapaz de enfrentá-la, vai sendo acuado pelo panelaço dos fatos e dos números catastróficos.
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