- O Estado de S. Paulo
Da declaração do vice-presidente da República apontando a necessidade de que “alguém” unifique o País à proposta do PSDB de convocação de novas eleições, passando pelo programa do PT em que ao mesmo tempo o governo pedia ajuda e atacava a oposição, a semana passada foi uma espécie de resumo da barafunda que assola o Brasil.
A fala de Michel Temer apelando à unidade das forças políticas em prol da governabilidade foi erroneamente interpretada como um posicionamento em causa própria. Suspeito número 1 na eventualidade de uma conspiração pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff, o experiente (e cauteloso) vice não cometeria um crime premeditado dessa natureza.
Mas o discurso deu margem a ilações justamente porque não seria ele o porta-voz abalizado para esse tipo de chamamento, e sim a presidente da República. Institucionalmente só ela teria legitimidade para pregar unificação. Só que a Dilma Rousseff falta credibilidade e sustentação política e social para tal.
Sua autoridade é contestada pelo PT que lhe nega votos no Congresso, pelos partidos aliados que se rebelam sem receio de retaliações, pois o governo não tem força nem instrumentos para tanto, e pela reação da sociedade a quem não pode mais se dirigir sem que haja contestações. O “panelaço” de quinta-feira durante a exibição do programa do PT na televisão foi dos mais estridentes.
Do roteiro à atuação dos personagens, tudo esteve fora do lugar. O partido ironiza a maneira como os insatisfeitos – hoje franca e ampla maioria – escolheram para se manifestar. O governo, por sua vez, insiste em atribuir a crise econômica a fatores alheios às suas ações. Admite “erros”, mas não detalha quais teriam sido e quem os cometeu. Por fim, pede ajuda à oposição para governar e, ao mesmo tempo, assegura que a atual gestão é perfeitamente capaz de superar a crise que, aliás, “fez de tudo para evitar”. Uma miscelânea de incongruências.
Decorrente da evidência de que o governo está completamente perdido. Não é o único, porém, a andar às tontas diante da crise. Note-se a oposição: uma hora é contra o impeachment, outra é a favor, em seguida dá um passo atrás sem saber direito para onde nem como caminhar. A última proposta do PSDB é uma obra-prima sobre a arte de tergiversar no vazio.
Pede que os manifestantes do próximo dia 16 abandonem a ideia de pedir o impedimento da presidente Dilma e sugere a defesa da bandeira de convocação de novas eleições. Como, se os pressupostos de uma eleição antecipada seriam o impeachment ou a renúncia? Coisa de quem não sabe ou não pode dizer o que quer e diz uma tolice qualquer.
O Congresso por sua vez se insurge, mas o faz enfiando os pés pelas mãos sem rumo definido. Entre outros motivos o principal é o aguardo do que vem por aí na Operação Lava Jato. A depender da extensão do estrago na seara política, faltará autoridade moral para o Parlamento na condução de uma saída.
A chamada sociedade civil organizada está desorganizada. As entidades que em outros momentos tiveram papel de destaque, hoje estão com as cordas vocais avariadas, vivendo também uma crise de representatividade. Resultado dos últimos anos de omissão. Algumas por adesão incondicional ao petismo, outras por receio de enfrentar a popularidade de um governo populista, fisiologista e aliado ao atraso.
Do Palácio às ruas passando pelo Congresso, faltam interlocutores, inexiste eixo de conduta e capacidade de liderança para ajudar na busca da melhor saída. A insatisfação é geral, mas ninguém sabe como solucionar e quem disser que tem a fórmula está iludido, mal-informado ou muito mal-intencionado.
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