- Folha de S. Paulo
• Governo zumbi e oportunistas sórdidos do Congresso degradam mais as condições de saída da crise
É chover no enlameado dizer que nada prestável será feito da economia enquanto não sobrevier "alguma solução política", embora "alguma" solução política não seja garantia alguma de que algo que preste venha a ser feito na economia.
Isto posto, convém prestar atenção ao fato de que a vida real segue, além das especulações sobre qual arranjo mesquinho vingará na po- lítica ou sobre "ajuste estrutu- ral" ou "neoestagnacionismo" na economia.
A vida real segue rápida para o brejo. Fazer política ou política econômica no atoleiro implicará remexer-se no lodo torvo. É lento e sujo.
Para quem ainda não se deu conta da urgência, considerem-se fatos simples:
Inflação. A inflação anual ainda será de 9,3% ao ano em dezembro, a julgar pelas previsões medianas mensais do "mercado". Em junho de 2016, estaria ainda em 6%, média da inflação de Dilma 1, a que levou o povo a chiar antes mesmo do Junho de 2013. O preço médio de comida e bebida subiu 10,5% nos últimos 12 meses. O preço do bife aumentou 20%. O da luz, 58%. As pessoas vivemos nesse mundo de bifes e contas de luz. Há ira, haverá mais.
Salário. Nas grandes metrópoles, o salário médio de junho de 2015 era menor que em 2012. Por falar nisso: mesmo com reajuste anual de salário pela inflação cheia, uma alta de preços no presente ritmo acaba comendo, ao longo do ano, uns 3,5% do rendimento.
Sim, "ajuste econômico" significa, essencialmente, redução do valor real dos salários (não é que cause isso: é isso). Mas trata-se aqui de política: o povo fraudado, bestificado pelo estelionato eleitoral, e pagando o "couvert artístico" do show da bandalha corrupta, ainda por cima está sendo esfolado. Esse insulto múltiplo não pode durar muito.
Juro no lixo. O Brasil já está pagando taxas de juros de país da terceira divisão do crédito, "junk", de país do lixão. As taxas de juros de longo prazo começam a bater as asinhas naquele estilo das nossas velhas crises.
Fuga em dó maior. Desde maio, sai dinheiro aos montes pelo "canal financeiro" (uma das duas par- tes da conta de entradas e saídas de dólar do país. A outra é o canal de transações devidas ao comér- cio exterior). Foram US$ 5,5 bilhões em maio, US$ 7,6 bilhões em junho, US$ 8,4 bilhões em julho. Como os exportadores estão trazendo dólar, dado o preço bom, não estamos no vermelho. Mas a coisa cheira a queimado.
Juro real. O Banco Central insinua que deve deixar a taxa "básica" de juros em 14,25% até um pouco antes de meados de 2016. Isso significa que a taxa de juro real deve continuar a subir pois, em tese, a inflação esperada deve cair. Quer dizer, o arrocho monetário vai prosseguir até bem entrado 2016, a não ser que os rapazes do mercado comecem a derrubar antecipadamente as taxas na praça. Só que não.
Enquanto isso, no Congresso, mas não apenas, o oportunismo desce à mesquinharia mais sórdida, um motivo da degradação aguda e adicional das finanças nacionais, obra original de Dilma 1, a Ruinosa. As hordas parlamentares depredam o país, sob o comando de Eduardo Cunha, coadjuvadas pelo tucano-cunhismo –alguém deveria avisar a Aécio Neves que o filme dele queima rapidamente até na elite.
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