- Folha de S. Paulo
"Com roubo e tudo, vamos chegar lá." A frase foi tuitada por Eduardo Cunha em 2012, quando o time para o qual ele torce venceu um clássico com um pênalti duvidoso. Nos últimos dias, internautas passaram a associá-la à atuação do deputado em outras partidas.
Cunha é investigado na Lava Jato. Foi acusado de embolsar US$ 5 milhões de propina e de intimidar testemunhas do processo em Curitiba. Em vez de se defender, reforçou a tática de jogar no ataque. Na primeira semana após o recesso parlamentar, ampliou o desgaste do governo e começou a abrir caminho para o impeachment de Dilma Rousseff.
Driblador habilidoso, o peemedebista atua em duas frentes simultâneas. Na primeira, turbina a chamada pauta-bomba, com projetos populistas que aumentam o gasto público. É um gol feito. Os deputados aprovam tudo de forma irresponsável, em busca de aplausos das galerias, e empurram a conta para o Planalto, imobilizado pela falta de dinheiro.
Em outra frente, Cunha tirou da gaveta contas de governos passados que nunca haviam sido votadas. De uma hora para outra, o plenário de 2015 passou a avaliar a contabilidade do governo Itamar em 1992. A toque de caixa, avançou para as contas de FHC e Lula. O objetivo, ninguém ignora, é limpar a pauta para rejeitar as contas de Dilma em 2014.
A jogada está ensaiada: nas próximas semanas, o Tribunal de Contas da União condena as pedaladas fiscais e envia a papelada à Câmara. Os deputados reprovam as contas da presidente e, amparados pelas manifestações do dia 16, instauraram um processo de impeachment.
O afastamento de um presidente é previsto em lei, mas só pode ser aprovado se houver prova de crime de responsabilidade, como ocorreu com Collor. Usar uma manobra contábil para derrubar o governo lembra os piores momentos do futebol: o pênalti inventado, a virada de mesa para evitar o rebaixamento. É com esses métodos que Cunha quer chegar lá.
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