- Folha de S. Paulo
Em fevereiro de 2015, Eduardo Cunha derrotou o Planalto e se elegeu presidente da Câmara. Foi o início de um pesadelo para Dilma Rousseff. Enquanto via a crise econômica se agravar, seu governo passou a ser humilhado diariamente por um adversário muito mais ousado do que a oposição oficial.
A ficha de Cunha era bem conhecida, mas ele caiu nas graças do empresariado e conseguiu seduzir setores influentes da sociedade. Chegou a ser descrito como o deputado mais poderoso desde Ulysses Guimarães, numa comparação que ofenderia o honrado Senhor Diretas. Então vieram as provas da Lava Jato, e ficou mais difícil ignorar os métodos do ex-pupilo de PC Farias.
A súbita ascensão de Cunha foi interrompida, embora ele tenha conseguido se segurar na cadeira. Agora sua trajetória é de queda, acentuada ontem pela reeleição de Leonardo Picciani à liderança do PMDB.
A vitória do deputado fluminense é uma demonstração clara de que o presidente da Câmara encolheu. Ele fez campanha aberta pelo paraibano Hugo Motta, que não conseguiu ultrapassar os 30 votos. Cunha perdeu o controle da própria bancada, no momento em que precisava recuperar fôlego para lutar contra a cassação do mandato.
"Eu nunca estive isolado na bancada e não estou isolado", disse, após a derrota do afilhado. Ostentava o mesmo semblante que usou para negar as contas na Suíça.
O governo ganhou força na batalha contra o impeachment, mas terá um preço alto a pagar pela vitória de Picciani. Além do vexame de exonerar o ministro da Saúde por um dia durante a epidemia da zika, o Planalto liberou cargos e emendas em peso para garantir os votos do PMDB.
Agora terá que manter a torneira aberta se quiser manter a fidelidade dos neogovernistas. Eles não abandonaram Cunha porque gostam de Dilma, e sim porque concluíram que poderia ser mais lucrativo migrar para o seu lado.
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