- O Estado de S. Paulo
Ah, o PMDB! Essa incansável fábrica de manchetes, políticas e policiais. O partido voltou nesta quarta-feira, 17, à ribalta graças à escolha de seu líder na Câmara dos Deputados. Dividido como foi, está e será, o PMDB é sempre dúvida quando há votações que medem seu governismo. A única constante do comportamento peemedebista é que ele é eternamente variável. Seja quem for o presidente, há a ala a favor e a contra. No fim, o preço sobe e ambas ganham.
Pelo lado governista, defendendo o título de líder, Leonardo Picciani, cujo pai aspira consolidar-se à frente do PMDB do Rio de Janeiro. No corner oposicionista, Hugo Motta (PB), um drone do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Ao contrário do rival, Cunha não aspira comandar apenas o PMDB fluminense, mas todo o partido, a Câmara e sabe-se lá o que mais. Melhor, aspirava.
Os governistas ganharam. Picciani foi reeleito líder com o apoio de 37 deputados. Teve sete votos a mais do que Motta. Foi o quanto bastou para os governistas comemorarem a vitória já na véspera, em jantar no apartamento do deputado Washington Reis.
Divisão do PMDB e disputas paroquiais à parte, o que o resultado da escolha do líder projeta sobre a governabilidade e as chances de o impeachment de Dilma Rousseff sair ou não do limbo?
No curtíssimo prazo, o governo evitou um desastre. Se Motta tivesse vencido, o futuro de Dilma na Câmara estaria por um fio. Isso porque nada afeta mais as chances de aprovação pelos deputados de um projeto de lei, medida provisória ou emenda constitucional do que o encaminhamento do líder do PMDB.
Segundo o Vai passar? (aplicativo desenvolvido pelo Estadão Dados para calcular as probabilidades de uma matéria qualquer “passar” na Câmara), quando o líder peemedebista orienta sua bancada pelo “sim” em uma votação que demanda maioria simples, sua probabilidade de aprovação mais do que duplica: de 33% para 69%. Se governo e PT também apoiarem, a chance chega a 95%.
Por outro lado, se o líder do PMDB se alinha à oposição e encaminha pelo voto contra, a probabilidade de o governo aprovar o que precisa cai para 43%. É o que estava em jogo nesta quarta-feira – além de vantagens colaterais, como poder indicar aliados para posições-chave, como a Comissão de Constituição e Justiça.
Quer dizer que a eleição de Picciani resolve todos os problemas de Dilma na Câmara? De jeito nenhum. Elegê-lo era condição necessária, mas insuficiente para a governabilidade. Sua eleição mostrou que o governo mantém o apoio do PMDB por uma margem muito apertada, e que vai se estreitar quando ministros e secretários voltarem a seus cargos – e suas cadeiras na Câmara forem ocupadas por suplentes da ala oposicionista.
Também contribuiu para a vitória governista de Picciani o fato de o presidente do PMDB, Michel Temer, estar em campanha pela própria reeleição à frente da legenda. Para não se arriscar, não interferiu ostensivamente na eleição do líder. Porém, após março, se, como quer, Temer for reeleito, não será estranho se o vice de Dilma voltar às articulações que engendrou em 2015.
Esse apoio precário do PMDB a Dilma torna muito incerto aprovar matérias que requeiram quórum de votação qualificado, como a volta da CPMF e a reforma da Previdência. A primeira teria que ser aprovada até maio para dar esperança de o governo fechar no azul este ano. E a segunda depende de Dilma vender a ideia primeiro para o próprio PT. Nisso, Picciani ajuda pouco.
E o impeachment? Desde ontem, as chances estão 65% a 35% pró-Dilma. Mas sua votação não é hoje nem amanhã. Quando ocorrer, o cenário será outro. A crise terá piorado? Multidões terão protestado? Lava Jato terá avançado? As chances mudam todo dia. Por ora, Dilma pernoita no Alvorada, embalada pelo vaivém do PMDB. Se dorme, é outra questão.
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