Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Durou pouco a lua de mel do PT com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, no cargo há apenas dois meses, a serem completados no dia 21. Prova disso é o plano econômico paralelo em elaboração no partido, cujo texto básico foi discutido na reunião do conselho político da sigla, na segunda-feira, com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ex-governadores e parlamentares.
A presença de Lula avaliza a discussão aberta no PT, reflexo do desapontamento da sigla não apenas com o ministro da Fazenda, com o qual contava para o período pós-Levy, mas sobretudo da impaciência com a presidente Dilma Rousseff, suas conhecidas dificuldades para decidir e - agora - sua "rendição" às teses dos adversários do Partido dos Trabalhadores.
No programa paralelo do PT não há espaço para as reformas que o mercado julga mais urgentes para frear a crise: reforma da Previdência com idade mínima para a aposentadoria e o fim da indexação do salário mínimo. Pode haver para a desvinculação das receitas da União, mas este é um caso a discutir.
Em princípio, a reforma da Previdência do PT é a que for tirada do fórum de empresários e trabalhadores. Desindexação do salário mínimo é tabu, e - pelo menos neste caso - existe a convicção de que Dilma não cedeu às pressões "neoliberais" e não vai concordar com a proposta. Mas Dilma também não concordava em mexer nas regras do pré-sal e recuou.
Se a oposição e os demais partidos aliados do governo esperam que o PT vote a favor dessas reformas para também aprovarem, nada deve mudar no atual quadro de paralisia do Congresso.
O plano é dividido em duas partes e foi apresentado na reunião pelo presidente do PT, Rui Falcão. Uma fala da questão democrática; a outra trata de economia e do futuro de uma "estrada de mudanças". Não tem grandes novidades. É uma compilação do que já vem sendo dito em outros documentos pelo PT. Ainda será emendado antes da aprovação final.
A importância da papelada é política. O plano marca mais um passo na tentativa de descolamento do PT em relação ao desastroso governo de Dilma. Depois de aprovado, talvez numa conferência a ser convocada pelo Diretório Nacional, em reunião marcada para o Rio, será encaminhado ao governo a título de sugestão partidária.
Essa será a senha para o PT incursionar por um discurso próprio, diferente do que propõe o Palácio do Planalto. A correção da tabela do Imposto de Renda, por exemplo, é um dos dez a 15 pontos a serem sugeridos ao governo. O PT já não tem a menor expectativa de ser atendido, mesmo se chegar em parceria com outro partido aliado. Até agora Barbosa não abriu a guarda.
O plano econômico paralelo do PT surge num momento em que a nova equipe econômica, comandada por Barbosa, ainda não se firmou no governo. Para o partido, no entanto, esses dois meses foram tempo mais que suficientes para o ministro dizer a que veio. E o que Nelson Barbosa tem dito não é bem o que o PT esperava ouvir quando referendou seu nome, na reforma de dezembro.
A começar pelo nome de seu programa paralelo (Plano Nacional de Emergência), o PT cria constrangimentos para Barbosa e ao menos no discurso se afasta um pouco mais de Dilma, um fardo a cada dia mais pesado para ser carregado pelo partido, sobretudo em período eleitoral. No próprio Palácio do Planalto não há expectativa de recuperação da popularidade da presidente antes de 2018. Se ocorrer.
Na visão pragmática do PT, é dever do partido defender o governo, mas também apontar para um programa de mudanças. O argumento é simples: o governo de Dilma é de coalizão partidária, o que permite a cada sigla defender seus próprios pontos de vista, como fez o PMDB ao lançar o programa "Ponte para o Futuro", ano passado.
As críticas que antes apenas Lula fazia a Dilma, primeiro em conversas reservadas e depois publicamente, agora se tornaram comuns entre dirigentes e líderes. O recuo da presidente na questão da participação obrigatória da Petrobras nos contratos do pré-sal repercutiu negativamente. É um dos exemplos citados da indecisão e indefinição de Dilma sobre políticas públicas, especialmente aquelas mais caras ao PT.
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