• Apoiado por Dilma, Picciani é eleito líder do PMDB e promete ajudá-la a conter processo de impeachment
Apoiado pelo Planalto, o deputado Leonardo Picciani ( RJ) foi reeleito líder do PMDB na Câmara por 37 votos a 30. Foi uma vitória da presidente Dilma, que se empenhou na eleição e agora ganha fôlego para batalhas a serem travadas na Casa, como o impeachment e a aprovação da CPMF. O maior derrotado foi o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que atuou para eleger o aliado Hugo Motta. A estratégia do Planalto, a partir de agora, será tentar recompor a unidade do PMDB, dando mais voz ao partido nas decisões do governo, e recuperar a estabilidade política.
Planalto respira aliviado
• Governo vence Cunha, elege líder do PMDB e agora quer enterrar de vez o impeachment
Leticia Fernandes, Júnia Gama e Simone Iglesias - O Globo
- BRASÍLIA- Por uma diferença de apenas sete votos, Leonardo Picciani foi reeleito líder do PMDB na Câmara, resultado que significou uma vitória para o governo, que apostou todas as suas fichas no aliado, a ponto de liberar o ministro da Saúde, Marcelo Castro ( PI), em plena epidemia do vírus zika, para ajudá- lo na disputa contra Hugo Motta, candidato do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, adversário do Palácio do Planalto. Foram 37 votos para o deputado do Rio e 30 para Hugo Motta ( PB), com dois votos em branco.
Cunha foi o grande derrotado na disputa. Investigado na Operação Lava- Jato e temendo ser afastado do cargo pelo Supremo Tribunal Federal ( STF), o presidente da Câmara bancou a candidatura de Motta e fez apelos desesperados aos deputados, chegando a ligar durante a madrugada para parlamentares, afirmando que votar em seu candidato era como votar nele próprio.
Segundo interlocutores do Planalto, a estratégia do governo, neste momento, é tentar apaziguar os ânimos no PMDB, maior partido da base aliada, para sepultar de vez o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e recuperar a estabilidade política, melhorando assim os indicadores econômicos.
Assessores próximos a Dilma avaliam que, agora, o PMDB ficará mais “integrado” ao núcleo político do governo, se engajando ativamente nas reuniões de coordenação política e ajudando a votar as matérias de interesse do governo, principalmente as pendentes do ajuste fiscal e temas refutados pela oposição, como a recriação da CPMF.
Em conversa por telefone após a vitória de Picciani, Berzoini pediu ao líder reeleito que ajude a reunificar a bancada e que esteja aberto ao diálogo com Hugo Motta e Eduardo Cunha. Berzoini perguntou a Picciani sobre a reação de Cunha após a derrota e foi informado que ele pareceu tranquilo e até cumprimentou o líder pelo resultado. Segundo interlocutores, o foco do governo está em pacificar a situação na Câmara.
Horas após sua vitória, atendendo ao pedido do ministro, Picciani fez também um afago a Cunha do plenário da Câmara. Olhando para o presidente, ele pregou a unidade na bancada e desejou “muito sucesso” para que Cunha possa conduzir a Câmara.
— Presidente Eduardo Cunha, que compõe a nossa bancada e faz parte desse processo de unidade, quero dizer que a nossa bancada, sobre sua condução na presidência da Câmara, tem a convicção de que poderemos fazer muito pelo país. Então, desejo também à Vossa Excelência que possa ter muito sucesso nessa tarefa importantíssima que lhe cabe, que é conduzir o Parlamento brasileiro — disse Picciani, observado por um Cunha silencioso.
O Planalto “respirou aliviado” com o resultado da eleição. Apesar do tom discreto da comemoração, a avaliação é que com a derrota de Cunha será possível uma melhora quase imediata do clima no Congresso e uma reunificação do PMDB em torno de temas de interesse do governo. O Executivo esperava um placar mais apertado, por uma diferença “de dois ou três votos”, segundo um auxiliar presidencial.
— Foi uma vitória importantíssima para o governo. Hugo Motta sair vencedor seria uma tragédia, o Cunha continuaria dificultando a vida do governo. A política voltou a ter estabilidade — resumiu outro assessor.
A presidente foi comunicada do resultado pelo ministro Jaques Wagner ( Casa Civil), que acompanhava, na linha com um assessor do PMDB, a reta final da apuração. Ele telefonou para Dilma assim que foi informado da vitória de Picciani. Durante toda a votação, Wagner e outros ministros monitoravam, via WhatsApp, o desenrolar da votação. Após telefonar para Dilma, o ministro da Casa Civil ligou para Picciani para parabenizá-lo. Em seguida, Picciani ligou para Berzoini, que considerou positiva sua reeleição.
— O clima era de decisão de campeonato — resumiu um interlocutor do governo.
Alguns integrantes da cúpula do PMDB, no entanto, avaliam que Picciani ainda enfrentará “rebeliões semanais” dos peemedebistas de oposição. Deputados ligados ao vice- presidente Michel Temer e que trabalharam pela eleição de Motta acreditam que a tendência é de mais cizânia na bancada. Após a derrota, porém, Hugo Motta se mostrou aberto ao diálogo:
— Faltou voto para ganhar, paciência. Agora, é tocar a vida adiante e trabalhar para unir o partido. A sinalização de diálogo tem que ser muito mais deles do que nossa. Espero que eles façam isso; é o que eu faria no lugar deles.
Já Eduardo Cunha, negou que tenha saído derrotado na disputa.
— Eu apoiei um candidato que teve menos votos e perdeu a eleição, não se trata de aceitar ou não. Eu não me sinto derrotado. Você apoiar um candidato é natural. Queriam criar esse clima de candidatura de A contra B — disse o deputado, afirmando que não fica isolado com o resultado:
— Eu nunca estive isolado na bancada e não estou isolado. Grande parte das pessoas que votaram no Picciani e não no Hugo Motta não são contra mim. Hoje não disputei, apoiei.
Apesar dos discursos de abertura ao diálogo, a recondução de Picciani ao cargo deve ter como uma das consequências problemas para a defesa de Cunha no processo que pede sua cassação. Picciani deve indicar para presidir a Comissão de Constituição e Justiça ( CCJ) Rodrigo Pacheco ( MG) ou Sérgio Souza ( PR), ambos adversários de Cunha. Cabe à CCJ analisar recursos de Cunha sobre a tramitação do processo no Conselho de Ética. (Colaboraram Eduardo Bresciani e Geralda Doca)
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