A libertação de Picciani, Melo e Albertassi é um ato concreto contra juízes e promotores que atuam na frente de combate à corrupção, sob pressão do Congresso
Não é por que era considerada certa a decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) de libertar seu presidente, Jorge Picciani, o antecessor, Paulo Melo, e o deputado Edson Albertassi, todos do PMDB, que a medida deixa de ter importância.
Ao contrário, porque a unanimidade das previsões apenas reflete a percepção de como é evidente o controle que o partido tem da Casa, e da própria política fluminense. Isso a partir de meados da década de 90.
Só foram necessários 20 minutos para que a Alerj derrubasse a medida cautelar de prisão, para os três, aprovada por unanimidade, na véspera, pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). Provas e argumentos levados pelo Ministério Público, e aceitos pelos desembargadores, foram desconsiderados por 39 votos contra 19, tendo havido uma abstenção. Era necessário para o grupo de Picciani um mínimo de 36 votos.
Esta, porém, foi apenas uma cena — embora importante — na história, em curso, da crise de representação na política brasileira, em que um dos destaques é o escancaramento do PMDB como um partido fisiológico e de conhecidas ramificações na corrupção.
Um dos braços fortes do partido é este do grupo do Rio de Janeiro. A trajetória dessa turma é exemplar — no mau sentido. Um aspecto chama a atenção: a partir de 1995, o cargo que hoje é de Picciani foi ocupado pela primeira vez pelo jovem deputado Sérgio Cabral. Desde então, presidiram a Casa o próprio Picciani e Paulo Melo.
Não por acaso, todos pernoitaram juntos, de quinta para sexta, na penitenciária de Benfica, Zona Norte do Rio. O deputado Albertassi, denunciado, como Picciani e Melo, por receber propinas do setor de ônibus (Fetranspor), não ficou entre estranhos, por certo.
Não é comum que, ao mesmo tempo, tantas figuras graduadas de um partido político estejam sendo obrigadas a prestar contas por desvios éticos contabilizados aos milhões de dólares, segundo as investigações ainda em andamento. Junta-se a eles Eduardo Cunha, preso em Curitiba, também apanhado pela LavaJato, outro político com passagem pela Alerj. Para rivalizar com o PMDB, apenas o PT e seus dois presidentes também envolvidos em malfeitos — Lula e Dilma.
A defesa de Picciani, Melo e Albertassi assumida pela maioria da Alerj, sem qualquer respeito à inteligência do eleitorado, representa um gesto objetivo de alinhamento da Casa à grande aliança que esgrima no Congresso, com apoios no Planalto, para conter a Lava-Jato e qualquer outra ação de combate à corrupção que existe no mundo de negócios bilionários entre empresas privadas e o Estado, intermediados por políticos. Alguns dos quais abrigados no PMDB, conforme demonstram inquéritos. Há muito ainda para acontecer.
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