- O Estado de S.Paulo
A menos de um ano da eleição, o jogo não é favorável nem a um nome nem a um projeto
Todo partido político que mereça esse nome tem por objetivo a conquista do poder. Portanto, quando PCdoB, PDT, PMDB, Podemos, PPS, PSB, PSD, PSDB, PSOL, PT, Rede Sustentabilidade e a legenda que vier a acolher o deputado Jair Bolsonaro (RJ) anunciam a intenção de disputar a Presidência da República no ano que vem, estão fazendo o que se espera deles, a legítima disputa pelo poder.
Eles vão para a disputa tendo à frente um quadro diverso de todos os verificados de 1989 para cá, quando a eleição direta para presidente foi retomada. Ao contrário das anteriores, não é possível dizer hoje, a menos de um ano para a eleição de 2018, que o jogo é favorável a um partido, a um nome, a um projeto.
O que se pode dizer, no momento, é que os três principais partidos, PMDB, PSDB e PT, enfrentam uma rejeição muito grande do eleitorado. A ruína partidária é tão visível que lideranças e pensadores das três legendas vêm insistindo na necessidade da busca de iniciativas que as tirem do atoleiro a tempo de evitar o desastre na eleição do ano que vem.
No PMDB, é o próprio Michel Temer que deseja dar uma sacudida no partido. Ele acredita que, agora que se livrou das duas denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, pode montar um governo com ministros mais modernos, sem a tendência obscurantista do Centrão. Temer imagina que no último ano de governo não precisará mais ficar tão preso ao Congresso, já que pouco ou quase nada será votado. Quem sabe, assim, consiga salvar uma parte de sua biografia, tão perturbada pelo conteúdo da conversa que teve com o empresário Joesley Batista. Temer e o PMDB acham que vão deixar um legado importante para o País, baseado na responsabilidade fiscal e no equilíbrio das contas públicas. Como o PMDB não se preparou para disputar o poder pelo voto, mas a partir de parcerias, como as que teve com o PSDB e com o PT nos últimos 23 anos, não tem um nome competitivo. Se nada mudar daqui até a eleição, continuará no seu papel de coadjuvante.
Já o PT acredita que sua salvação virá de uma campanha em defesa de eleições sem a interdição de Lula. Para o partido, levantar a bandeira de um pleito que conte com Lula é levantar a bandeira de eleições democráticas, algo como a campanha das Diretas-Já de 1984, que os teóricos do partido julgam ter sido o instrumento que deu fim à ditadura militar.
Nos seus sonhos, os petistas acham que podem incluir nessa mobilização um programa em defesa da revogação das reformas liberais, a convocação de uma Assembleia Constituinte orientada pelo combate ao capital financeiro, ao latifúndio, ao imperialismo e aos meios de comunicação monopolistas. Uma assim, vamos dizer, volta aos anos 1980, só que agora com o tema da comunicação, setor que o PT elegeu como seu inimigo. Na nova roupagem de sua tentativa de ganhar a simpatia do eleitor, o PT omite, deliberadamente, os problemas que enfrenta com a Justiça. Talvez até por ver que atacar a Operação Lava Jato é contraproducente.
Por fim, o PSDB. Ao contrário do PMDB, que sonha fazer um governo de paz e consolidar as reformas, mesmo que sejam só as aprovadas até agora, e do PT, que encontra em Lula seu ponto de equilíbrio, os tucanos alimentam a sua maior crise quando a eleição se aproxima. Talvez consigam superá-la quando aprovarem a candidatura do governador Geraldo Alckmin, nome que conta com o apoio dos dois grupos que disputam o poder interno.
Alckmin, no entanto, carregará o peso de ser do mesmo partido de Aécio Neves. Esse é um fardo grande, difícil de lidar. Em suas reflexões existenciais, Aécio pode até se convencer de que as conversas que teve com Joesley Batista não fugiram do padrão da normalidade. Para o eleitor, fugiram. É só esperar o resultado da eleição.
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